27 setembro 2007

Dúvida sobre o amor moderno

Antes, escreviam-se carta de amor, bilhetes escondidos à espera da surpresa e da alegria de serem descoberto. Hoje, escrevem-se sms, mails, mensagens no msn.
Antes, o amor era tendencialmente eterno. Hoje, o amor tendencialmente só é eterno enquanto dura.
Antes, se o (n)amor(o) acabava, devolviam-se as cartas e os bilhetes, devolvendo ao outro parte de si, da sua dignidade e privacidade. Hoje faz-se o quê? Um mail a fazer fwd dos mails e msn´s e a dizer que a pasta onde eles estavam vai ser apagada, que os sms vão pelo mesmo caminho e que, já a seguir, se vai apagar o próprio mail dos "sent items"?

15 comentários:

Anónimo disse...

"would you erase me?" - creio que essa questão já foi respondida no documentário "eternal sunshine of the spotless mind" - Michael Gondry, 2004.

sim, apaga-se tudo, mas como somos actores (in)voluntários do "451 Farenheit", bang!!! às 3 da manhã de um dia frio acorda-se a repetir tudo, mesmo com as pausas e entoações originais.

Nomyia disse...

hmmm... Mesmo que apaguemos essas linhas da nossa vida não somos capaz ainda de ligarmos um interruptor e termos amnesia. Por mais que queiramos há coisas que não é possivel apagar da nossa memória
*****

perante o riso geral disse...

Hoje aceita-se que não há amor, há amores. Ou só um com personalidade múltipla.

Anónimo disse...

"Antes, se o (n)amor(o) acabava, devolviam-se as cartas e os bilhetes, devolvendo ao outro parte de si, da sua dignidade e privacidade"

O Tanas... A gaja que as tente vir buscar a ver se eu deixo... As minhas não as quero. Que fiquem com ela porque são boa companhia.
The fact is: Essa gaja disse que me amava para sempre. Porra, está lá escrito nas cartas todas! Por isso fico-lhe com as cartas. Caso contrário um dia destes já não vou acreditar que houve um tempo em que alguém me amou para sempre. Não era um ano, era Para Sempre... Se um dia destes o Barthes me aparecer em pesadelos com os "Fragmentos de um discurso Amoroso" na mão, a dizer "eu bem te avisei", posso sempre esfregar-lhe as cartas na tromba "desculpa lá ó Barthes, desampara-me a cama. Olha aqui para estas cartas. Diz-me lá se não houve um tempo... Está aqui escrito... Houve um tempo em que eu fui amado para sempre."
As cartinhas ficam cá em casa.

joão belo disse...

as cartas de amor não são todas ridiculas? ok, eu sei que toda a gente tem a mania de que eu sou o lirico, mas o amor assim em cartas já não me comove. elas não provam nem atestam nada. quer dizer, demonstram a letracia dos amantes, sem dúvida. mas deixem-se de histórias: o que comove verdadeiramente um proscrito, e não há amor sem raiva, sem proscrição, sem aquela respiração farta, a serenar os ânimos dos amantes, são os pinos! beijos:)

8 e coisa 9 e tal disse...

Cinemateca, obrigada pela dica! Mas, pelo não esquecimento da Nomyia ou pelo seu reescrever, de facto não dá muito certo, pois não?...
Riso geral, um só amor com personalidade múltilpa? Muito adequado à casa, sim senhora!!
Manyfaces e João Belo: sim, houve um tempo em que foi amado para sempre; por isso é que não há cartas ridículas e houve um dia em que o comoveram (tanto ou mais que os pinos).

D. Ester disse...

sou a única que não percebeu a história dos pinos?

Anónimo disse...

assim de repente, só me vem à memória uma coisa que o Luis Pacheco mencionou sobre pinos...e bem perigosa por sinal

Anónimo disse...

Que diferença faz? :) Quando acaba o Amor (antigamente ou agora), restam apenas memórias. E quer se devolvam cartas ou se apaguem sms e emails, aquele amor, aquilo que vivemos, aquilo que sentimos, ficará eternamente e sempre no único sítio que interessa: no coração...

Beijoca,

Joana

D. Ester disse...

bom, há alguns que felizmente acabam no intestino grosso, e num só gesto são eliminados das nossas entranhas. Claro que até lá chegar tiveram de passar metros e metros de intestino delgado, onde foram criteriosamente absorvidos os elementos que interessavam da relação. tudo o resto, fora, rua, out. É como as penas, há que as largar para deixar crescer as novas. Os corações que têm espaço para todos acabam por não albergar ninguém. Nem mesmo o próprio.

foi dançar a bossa nova disse...

Essa do coração sem espaço para o próprio é muito boa!

8 e coisa 9 e tal disse...

A dúvida técnica foi respondida: não há qualquer devolução.
Se em relação às cartas ainda se pensava nisso, as manifestações modernas são nossas por direito e podemos fazer delas o que quisermos, até o "delete". Se queriam os originais, tivessem criado uma pasta para os "itens enviados"! Mai nada!

Anónimo disse...

sou a única que percebi a história dos pinos?

D. Ester disse...

anna bessonova, terás de dizer a tua versão e pedirmos ao João Belo que conte a sua para averiguarmos.

8 e coisa 9 e tal disse...

a história dos pinos também me deu que pensar, mas por causa do "sem aquela respiração farta, a serenar os ânimos dos amantes" pensei numa coisa tipo "wild sex", do género em que ela faz triplos saltos mortais antes de aterrar no sítio certo, uma espécie de tetris sexual.