28 novembro 2006

Excursões

Há anos que me entopem a caixa do correio com publicidade a excursões de 1-2 dias por tuta e meia. No início pensei que era uma agradável viagem que acabava com menos um órgão, para explicar o baixo custo da mesma, para anos mais tarde descobrir que era afinal mais uma estratégia agressiva de marketing de venda de produtos. Ou seja, levam as pessoas nessas viagens e levam o tempo todo a impingir coisas e mais coisas, até que assinem um papel para acabar com a tortura.
Uma realizadora chamada Leonor Noivo decidiu fazer um documentário sobre o tema. A empresa deve ter dado a sua autorização, pois ela foi e filmou algumas dessas excursões. Algures durante o processo quiseram que lhes fossem dadas as cassettes com o material, a realizadora recusou-se e entrou num processo de litígio com eles.
Concorreu ao docLisboa e foi aceite para competição. Parece que informou os organizadores das circunstâncias em que se encontrava, e mesmo assim seguiu para programação.
No dia da exibição os espectadores foram informados que o mesmo tinha sido retirado, e que tal tinha acontecido por ameaça de processo judicial.
O filme nunca viu a luz do dia, e não se sabe onde e quando poderá ser visto.
Joana Amaral Dias fala sobre o tema no texto "censura no doclisboa". Sei de pessoas que andam a pedir explicações à apordoc há semanas sem obterem qualquer resposta, e o assunto não anda a ser discutido em lado nenhum.
Gostava de ver o filme. Gostava que a apordoc tivesse sido coerente. Gostava que a comunicação social falasse sobre isto. Gostava que as empresas não tivessem nada a esconder. Gostava que as que usam processos obscuros para atingirem os seus fins fossem expostas publicamente. Gostava de viver num país onde este tipo de coisas fosse punido e os direitos dos putativos consumidores fossem respeitados.
PS - só há um ponto que ainda não tenho esclarecido, e que me parece de fundamental importância. Só se pode fazer um filme sobre uma instituição que tenha dado o seu consentimento por escrito. Se assim não aconteceu, trata-se de uma situação abusiva por parte da produção/realização do filme. Se não, a empresa nada pode fazer.

5 comentários:

Isabela Figueiredo disse...

Adorava ver esse doc. Mas estas coisas são melindrosas. Se as cenas foram filmadas em locais públicos, como restaurantes, tudo bem. Se foram filmadas dentro de um autocarro... não sei qual é a noção jurídica aplicável a esse lugar. Enfim, os gajos merecem tudo o que seja ilegal para serem filmados. A minha mãe tem uma vizinha que todas as semanas é explorada. Da última vez veio de lá com uma cadeira massajora.

dorean paxorales disse...

"Gostava de viver num país onde este tipo de coisas fosse punido e os direitos dos putativos consumidores fossem respeitados."

Assino por baixo.
Mas tambem gostava de viver num pais onde as pessoas vivessem tao bem que so' pudessem desdenhar este tipo de borlas.

na prise és bestial disse...

Dorean, acha que é apenas por não viverem bem que as pessoas caem nestas borlas envenenadas?
Eu duvido.

sem-se-ver disse...

segundo comunicado da direcção da apordoc (reconheço que tardio), a realizadora não obteve a dita autorização por escrito por parte da empresa; por outro lado, o júri de selecção é soberano, e a organização da apordoc/doclisboa não têm que, naturalmente, verificar caso a caso se os filmes colocados para selecção respeitam preceitos legais desse estilo. alertados pela dita cuja empresa, decidiram como decidiram. e não deve ter sido fácil.

eu também gostava de ver o filme. mas ainda mais que os processos tivessem sido os correctos e legais. senão, onde fica a autoridade moral de quem denuncia?...

8 e coisa 9 e tal disse...

também recebi e li o comunicado da apordoc. Lamento o tardio e lamento que pareça ter sido necessário falar-se publicamente sobre o tema para que o fizessem. Dou de barato a boa fé. Adiante.

Não conheço nem a Leonor Noivo nem os dirigentes da apordoc. Chegam-me versões contraditórias dos acontecimentos, não sei a qual delas dar razão nem tal me interessa.

Para mim a única questão premente, tal como pus no meu post scriptum, é saber se as filmagens foram feitas com o consentimento das pessoas envolvidas. Uma coisa é fazer reportagem escândalo outra é cinema documental. Como a linha para mim está bem definida, essa é a pergunta que quero respondida. Até lá, continuo a questionar e a divagar.