23 dezembro 2006

Feliz Natal

Durante muitos anos, o meu pai dizia que não gostava do Natal, mas divirtia-se a encontrar as prendas mais insólitas, em cantar canções de natal em alemão, em cumprir determinados rituais. A minha mãe ficava sempre com uma má disposição terrível nesse dia, pois o meu avô materno morreu perto do natal, mas passava o dia inteiro a cozinhar todas as receitas tradicionais e quando a minha irmã e eu chegávamos à cozinha para a ajudar ia-lhe passando a má disposição que disfarçava a sua tristeza e à noite já coisa estava bastante melhor. O argumento para a inevitável comemoração, uma vez que os filhos já não eram crianças, era de que isso era importante para os meus avós, pois estes sim ligavam à tradição e à família, valores vistos como conservadores para um casal de esquerda. Entretanto, os meus avós foram morrendo e quando o último partiu, morreu também a justificação oficial para a festa de Natal. Mas ninguém disse nada e continuámos a celebrar o Natal; o meu pai começou lentamente a assumir que esta era uma data importante para ele, assumia sem dizer nada mas a gente percebia e também nada dizia. Depois, quando vieram as crianças já não foi preciso pretextos pois elas são uma justificação per se para continuarmos a tradição. Veio a imigração da minha irmã, o divórcio do meu irmão, o seu novo casamento e a minha imigração. E de cada vez que não era possível estarmos todos juntos, por impossibilidade geográfica ou por conciliações familiares, parecia que faltava qualquer coisa e notava sempre uma pontinha de tristeza nos meus pais (e em mim também).

Quanto a mim, sempre gostei do Natal. Digam o que disserem, eu gosto do Natal. Nunca acreditei no pai natal nem no menino jesus, não sou católica e não me interessa se o menino Jesus nasceu ou não, até acredito que sim, que tenha existido e tenha sido um personagem muito importante, contudo a minha ideia de deus é muito diferente daquela que está associada ao menino nas palhinhas deitado, por isso não lhe celebro o nascimento. E quanto ao pai natal, tal como o conhecemos não passa de um golpe de marketing da Coca Cola, que surgiu (acho) nos anos 30 do séc. passado.
Irrita-me o consumismo desenfreado, recebo sempre poquissímas prendas, e é raro também ter dinheiro para dar as prendas que gostaria, mas gosto do Natal. Com todas as hipocrisias, com todo o marketing que desde o Outono envolve o natal, gosto do natal e que sejam falados, lembrados e actuados valores como a solidariedade, a humanidade, a paz, etc. Mas até nem é isso o que eu mais gosto do Natal. Gosto de ver as casas enfeitadas com luzes, as ruas pomposamente iluminadas, até nem me irrita a maior árvore de natal do mundo e sempre que passo por lá abrando ou paro o carro um bocadinho para poder ver as luzes a acender e a apagar. Gosto de ver e de fazer a árvore de natal e de inventar presépios. Gosto dos cânticos de Natal e de cantá-los com outras pessoas, das maravilhosas azevias de grão, dos coscorões, das fatias paridas e de partilhar a ceia de natal com a minha família, toda ou parte consoante os anos, aquela família que me saiu na rifa da vida, aquela que por vezes não é a desejada, não é a idealizada, mas é a possível, é a que eu tenho e a que amo. E gosto de celebrar o natal com a segunda família, aquela que é escolhida por nós, e que vale mais que um pai natal. Com esta, sempre que é possível, levamos os restos das ceias das casas de cada um/a e aproveitamos mais um pretexto para estarmos juntos e inventar cada ano o Natal dos Amigos (e amigas).
A todas e todos, desejo-vos um natal tão feliz quanto possível.

3 comentários:

dizia ela baixinho disse...

Querida múltipla, feliz natal!

sem-se-ver disse...

assino por baixo.

bom natal para si.

beijinhos

nove e tal disse...

ainda vou a tempo:

Feliz Natal!