16 março 2007

História de uma viagem entre duas quase cidades

Percorro todos os dias os cerca de 80 km que me transportam de uma cidade do litoral à Beira.
Ontem, dia do consumidor, o autocarro que me conduz ao destino atrasou cerca de 50 minutos. Os passageiros impacientes barafustavam: "isto só acontece neste país! Se estivessemos na Alemanha ou em França nada disto acontecia". Resolvi entrar no gabinete da empresa e escrever uma reclamação.
Chego cá fora e pergunto a uma senhora: "porque é que não faz uma reclamação e pede o reembolso do bilhete?". Ela respondeu-me: "Ó menina, é que eu não sei escrever".

[Escrevi-lhe a reclamação que ela ditou com as palavras que sabe dizer e não escrever.]

5 comentários:

dizia ela baixinho disse...

ora aí está um bonito gesto. :)

Filipe M. Reis disse...

a cidadania cultiva-se e constrói-se nesses pequenos gestos, sem paternalismos...

D. Ester disse...

As pessoas adoram reclamar para o ar, comentar com o vizinho do lado que nada funciona bem, mas (lá está) falam falam falam e não os vejo a fazer nada para que a situação se altere. O nós e o eles.

Se mais pessoas passassem das palavras às acções, reclamando os seus direitos, seguramente os serviços seriam melhores. Se a CP, carris, RN e afins devolvessem o dinheiro a TODOS os passageiros que prejudicam acredito que passariam a dobrar ou triplicar os esforços de pontualidade e qualidade.

A sua sorte são as pessoas como a senhora que ajudaste, que efectivamente não sabe/consegue passar para um papel a reclamação. Fizeste um serviço a ti e a todos nós com isso. Espero que o faças todos os dias em que isso se repita, e exortes os demais passageiros a fazerem o mesmo. Passageiros de todo o país, uni-vos!

nove e tal disse...

ah grande no baile da d. ester!

(é impressionante, de facto, a expressão do analfabetismo neste portugal do já séc. XXI...)

múltipla oito, título bem esgalhado... ;) fã de dickens?

Anónimo disse...

A melhor maneira de fazer as coisas mudarem é as pessoas utilizarem os instrumentos institucionais ao seu alcance para se queixarem. Não adianta comentar com o vizinho, encolhendo os ombros, tem que ser por escrito com exigência de resposta. Só assim, juntando muitas vozes, é que se fará ouvir o protesto contra os maus serviços e se farão valer os direitos do consumidor.
Parabéns por seres uma das vozes que se levantam.