23 maio 2008

Contradições e (in)coerências

Fui finalmente tratar da malfadada cédula para poder terminar a matricula que tinha ficado suspensa até à apresentação deste documento. Aproveitei para recordar que aqui, em cada sitio onde se trata de algum papel há sempre toda uma infra-estrutura de apoio que rapidamente se monta através da capacidade de rebusque e improvisação das pessoas, externas e privadas, o que faz com que os serviços públicos funcionem razoavelmente bem. Por exemplo, na ciclovia que já tinha falado outro dia, há toda uma série de homens e mulheres que vendem os serviços mais variados e úteis para as pessoas que desfrutam a ciclovia. O sitio onde se tira a cédula de estrangeria fica ao pé de um dos sitios onde os colombianos tiram o seu passaporte, e encontrei todo este suporte humano que facilita o acto de ir tirar um passaporte ou uma cédula: encontram-se imenso sítios ou barraquinhas improvisadas para tirar fotografias, fotocópias, duplicados de tudo, traduções oficiais prontas em menos de 15 minutos, e venda de fruta, amendoins, café e telefonemas para telefone fixo ou móvel por 200 pesos o minuto, enquanto se espera que o número do mostrador coincida com o do papel que temos na nossa mão. É estranho, pois ao mesmo tempo que defendo as ASAES, e o controlo e regulação dos negócios e das condições laborais, e que reconheço a sua importância, também fico contente por encontrar sítios no nosso planeta onde ainda se permita a improvisação no espaço público, sem tanto controlo, sem tantas burocracias intermédias, apoiando a iniciativa das pessoas e dando mais vida à cidade. Tenho opiniões desencontradas, uma ambivalência entre o considerar que as coisas numa cidade devem ser organizadas, regulamentadas e o sentir simpatia e admiração pelas iniciativas improvisadas, desreguladas mas com uma estranha autoorganização que funciona e é eficaz dentro dessas lógicas. Ainda bem que eu não sou presidenta da Câmara desta cidade, assim posso ter contradições sem ter que pensar em como ser coerente.

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