15 janeiro 2010

TelhadoMarNoiteLaranja

Do cimo do meu telhado vê-se o mar.
Às vezes subo até lá na tentativa de acalmar um espirito turbulento que não reconheço ser meu mas que me habita.
De noite acompanha-me sempre um ser. Sempre.
Um ser que como uma mancha me abraça, fala comigo, ouve-me, deixa-me chorar e rir no seu colo.
Na sua mão, ou algo que identifico como uma mão tem uma laranja, redonda, cheirosa e pouco brilhante.
Nunca lhe pergunto por que tem sempre aquela laranja na mão. Às vezes sinto que há coisas que não se devem perguntar.
Ontem subi de novo ao telhado mas subi sozinha. Lá estava aquela mancha amiga.
Sentada, brincava com a sua laranja como uma criança perdida nos seu pensamentos.
Ontem fui ter com ela, não fui por mim e fui sozinha.
Sentei-me ao seu lado e ficamos em silêncio muito tempo. Encostei-me a ela um pouco e, como velhos amigos que somos, ficamos enroscados a contemplar o mar e os reflexos que a lua nova faz nele.
Perguntei-lhe - Porque tens sempre essa laranja? e ela disse -Esta laranja é tua! Deu-ma e eu recebi-a nas minhas mãos fechadas em concha.
A mancha levantou-se devagar como um velho muito velho que faz tudo lentamente porque a vida se vai acimentando nas suas costas e senti um carinho profundo no seu olhar, ou naquilo que identifico como olhar. E ela, a mancha, foi caminhando lânguida pelos telhados da cidade, com os seus passos largos, lentos, densos.
Ainda tenho a laranja debaixo da almofada...
Sinceramente não sei o que lhe fazer.

1 comentário:

na prise és bestial disse...

querida oito, convida as múltiplas e fazemos uma festa da laranja no telhado. Nunca se sabe se o ser ou a sombra não darão um ar da sua graça.