24 janeiro 2010

1999


Uma das brincadeiras mais giras era sermos as heroínas da série. Eu fazia de médica, gostava do pragmatismo em solucionar, e a minha irmã de Maya, arqueava as sobrancelhas e podia transformar-se em hipopótamo ou poste de luz, o que quer que lhe desse mais jeito.

Espaço 1999 era num futuro distante, sofisticado, brilhante e à boca de sino. Usava-se a expressão depois do ano dois mil para coisas que pareciam, lá está, vetadas às calendas.

Entretanto o tempo passou. Morreu-me a mãe, três avós, dois gatos, nasceu-me um filho, tenho uma coisa em forma de carreira, já vou no quarto carro da minha existência. Começo a ser ridícula quando uso a expressão um rapaz para gente da minha idade. Entrou em vigor um acordo ortográfico que me pôs a escrever cheia de erros, logo a mim que tinha sempre cincos a português.

E ainda assim surpreende-me que me tratem por a senhora no café do bairro. Parece que estou a brincar às tias com o serviço de plástico que recebi no natal passado, eu e a minha irmã a pormos coca cola a fazer de café e plasticina colorida no lugar das unhas. Se me voltarem a chatear ela arqueia as sobrancelhas e vão ver como elas mordem.

4 comentários:

Alvaro_C disse...

Rapariga, que texto tão gostoso...


beijos

Unknown disse...

Eu queria ser a Maya, porque era bonita e tinha super-poderes de se transformar em qualquer coisa que conseguia visualizar.
Mas também gostava de ser a Doutora, porque era esperta e inteligente e o Capitão Koenig gostava dela. (Achava o Alan um banana, para aqueles que iam dizer que a Maya tambem tinha um apaixonado).
Ha 4 anos comprei a serie em dvd e vi-a de ponta a ponta. O entusiasmo lá estava, intacto, juntamente com uma barrigada de risos, por ter achado, ha trinta anos atras, que a serie era o supra sumo da batatada e, que, no ultimo ano do seculo XX a lua iria, de facto, sair da orbita terrestre e arrastar consigo a colonia de humanos - e humanoides - residentes.

Oito, quando quiseres reve-la, ca te espero com uma taça de pipocas.

na prise és bestial disse...

Querida oito, não voltas a ir ao café do bairro sozinha. Eu vou contigo e levo a chávena que ainda tenho comigo. Eles vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas. Zás.
Coluna, conta com mais uma na tua sala.

Unknown disse...

Já comprei a vinhaça. Dizem que com uma bela reserva e que os cetins dos efeitos especiais são bons.