21 janeiro 2010

candeeiromesacortinaflor




A luz do candeeiro aquecia a poltrona onde o corpo se afundava despejado de qualquer ideia sentimento ou desejo. Aquele corpo afundava-se todos os dias  ao cair da noite quando deixava para trás as obrigaçoes do trabalho, a voz do chefe, o cronograma. Ficava vazio, só o chá lhe dava o calor que há muito tempo deixara de sentir. Um dia olhou para a flor que uma colega lhe tinha trazido e que tinha esquecida na mesa ao lado da chavéna de chá, pensou, um dia vou morrer como esta flor, morrer nao por ter vivido mas porque a deixaram morrer, um dia vou deixar-me morrer. E percebeu que era isso que desde há várias noites vinha fazendo, deixar-se morrer. Levantou-se, abriu as cortinas, abriu a porta da varanda e espreitou a lua tao próxima do seu décimo andar que dentro de 25 anos seria seu quando terminasse de pagar ao banco todas as hipotecas mais o euribor e o tae e o que entretanto se inventasse. Olhou a lua da sua varanda e voou até ela. Viveu intensamente todos aqueles imensos segundos até alcançar a lua nas pedras da calçada. 

Sem comentários: