16 janeiro 2010

Abrigo de senhoras

Uma noite qualquer na cidade, talvez chovesse e fizesse frio. Talvez não fosse uma noite qualquer, porque havia uma garrafa de vinho e três copos de pé alto, talvez não fosse uma noite qualquer porque ali estavam três mulheres que riam de si mesmas e dos seus desencontros.

Ela:  o melhor é ficar calada e parada, mas tampas ambíguas fazem-me comichão no céu da boca, mais vale um não redondo que consigo arrumar na gaveta.
Outra ela: à custa desse cabrão, já fumei três cigarros de seguida. Tu enervas-te e eu enervo-me por solidariedade. Acho que lhe vou apresentar a conta.
Ainda outra ela: estava eu tão tranquila com os meus amantes e fui apanhada na curva por este que agora se foi, do historial de mérito passei para o peito aberto onde ele entrou. Agora bateu com a porta, fala uma língua que eu não compreendo e estou aqui a fingir que não tenho paciência, que já dei para este peditório, que fico melhor assim.
Uma delas: olha, se te consola eu tenho a tampa mais estúpida do mundo. O meu amante búlgaro encontrou-me numa paragem de eléctrico e explicou-me, em inglês e a gaguejar, que não podia estar mais comigo porque tinha uma micose.

Nessa noite na cidade, naquela casa antiga transformada em abrigo de senhoras, beberam-se copos de vinho ao som de um rosário de gargalhadas e suspiros e músicas cantadas em coro.

3 comentários:

Leo Mandoki, Jr. disse...

fico aqui a tentar adivinhar que vinho é que era?...tou a apostar num alentejano qualquer (13,5º)...tinto, claro!

-pirata-vermelho- disse...

( e s'estas fossem giras...?! )

não resistiu ao wiski disse...

Giras?????

Exijo uma explicação.
Refere-se a quem? Aos rótulos das garrafas de vinho?

Porque se são as senhoras giras é MUITO pouco!!!