12 março 2007

Os dias da rádio

foto cedida por câmara clara

Tenho um especial apego e afeição por aparelhos de rádio, gosto que herdei do meu pai. Lembro-me de o ver dirigir-se para a sua gigantesca pilha de rádios (onde ouvia emissões em onda curta, média e longa), de modo a ouvir - religiosamente - o noticiário da BBC, ao meio-dia, todos os dias da sua vida. Este era um hobby que trazia desde os seus tempos de juventude: aos 18 anos ia-se mantendo a par das notícias sobre a II Guerra Mundial, na emissora Rádio Clube Português, naquela época sediada na Parede (ainda lá estão os emissores).

Mais tarde, fazia-me ouvir as comunicações entre navios. Houve um dia em que sintonizámos as emissões da Rádio Galo Negro (de Savimbi), em pleno período de guerra. Soube certa altura, numa conversa, que sabia as frequências para ouvir conversas entre telemóveis, na altura em que estes apareceram. Um dos meus irmãos insistiu com o meu pai para que ele as revelasse. Nunca o fez, era um homem de princípios.

Hoje, num passeio pelo bairro onde moro descobri uma loja de 'reparações de todo o tipo de material eléctrico e electrónico'. Entrei na loja e vi um senhor por trás de um balcão que conversava com outro, por entre uma profusão de - sobretudo - televisões.

- Boa tarde. O senhor conserta aparelhos de rádio?
- Depende da marca, mas traga-me o aparelho que eu logo vejo o que posso fazer.
- Bom, na realidade tenho dois aparelhos de rádio: um muito antigo, que gostava tanto de ver recuperado.
Os olhos do senhor brilharam:
- Como é o aparelho? É de madeira?
- Sim, de madeira, com uma rede à frente e a válulas.
- Ena, esse deve ser dos bons! [fala-me de uma série de marcas, as quais não retenho os nomes]. Traga, traga que tenho para aí umas válvulas e logo vejo o que se arranja.
- Tenho também um aparelho - esse mais moderno - digital. Não sei porquê não liga, não me parece que seja a fonte de alimentação. Noutras circunstâncias tê-lo-ia deixado assim, não lhe ligaria mais, mas foi o último rádio que o meu pai comprou e tenho-lhe uma estima especial.
- Sabe, hoje em dia este tipo de material, à primeira falha ou estrago, e o pessoal já não quer saber. Rapidamente compram um novo aparelho, um modelo acima e mais novo. É o usa-e-deita-fora. Eu cá não sou assim!
- Pois eu também não... Acha que me consegue consertar os rádios?
- Traga, traga. Vou ali depois para a minha oficina na cave e logo se vê.
- Desculpe a curiosidade: o senhor trabalha há muitos anos neste ramo?
- Desde os 14 anos. E há 45 anos estabelecido nesta zona.
- Passo por cá amanhã e muito obrigada.
- Obrigado eu, menina. Até amanhã.
Vim para casa a sonhar com o meu aparelho de rádio a válvulas. Se tiver arranjo, talvez consiga sintonizar depois 'Os Parodiantes de Lisboa' e 'Quando o Telefone Toca'. Nunca se sabe...

P.S. Sempre pensei em visitar o 'Museu da rádio'. Estupidamente fui adiando o momento. Agora parece que fechou...

3 comentários:

Anónimo disse...

"Frequency (2000 film) John Sullivan (played by Jim Caviezel), and his father Frank Sullivan (Dennis Quaid) use ham radio to communicate; due to unusual aurora borealis activity John is able to communicate via ham radio with his father 30 years in the past. They both use classic Heathkit radio equipment."

O filme é bonito, o post também (e muito)

8 e coisa 9 e tal disse...

à escuta, obrigada pela informação, o argumento do filme parece-me muitíssimo interessante, vou já procurá-lo!

Anónimo disse...

roger, over and out.