Chega de desculpas e pretextos, razões cheias de razão ou sem ela. Não tenho de ser igual a toda a gente, esperar da vida a mesma sucessão de coisas e de acontecimentos na sua ordem natural que afinal não é tão natural assim. Chega de me contentar com o meu emprego só porque ganho bem desconto para a reforma tenho vinte e dois dias úteis de férias, só porque é bom e seguro ter um emprego mesmo que o deteste e conte o tempo que falta para finalmente sair dali e me cruzar com centenas de pessoas que tapam o nariz e suportam oito horas da mesma coisa por dia, chega de ter pouco tempo para ser eu fora dali, chega de pensar em tudo aquilo que poderia estar a fazer se resolvesse ignorar as regras deste jogo e saísse porta fora para lado nenhum. Chega de desculpas e pretextos, razões cheias de razão ou sem nenhuma. Eu não tenho de ser o que esperam de mim, quero lá saber o que pensam o pai a mãe os amigos a família, quero que se lixe a ordem natural das coisas que afunila os olhos as mãos as vidas até as transformar nisto em que me fui tornando. Por isso vou sair por aquela porta e descobrir que existo inteira num sítio qualquer, vinte dedos, duas mãos, duas pernas, uma cabeça, um tronco. Vou fechar a porta atrás de mim e largar esta pessoa que se colou a mim e que afinal não sou eu.
6 comentários:
uau...
coragem!
Oito, invejo-te e admito-te! Vai!!
Basta PUM! pim. José de Almada Negr... desculp!
este seu escrito-manifesto (c'o devido respeito) bem se equipara ao do grande derrapado-integrado.
MUITO BEM!
(grande mulher)
:))
Isto lembra-me uma música do Cartola.
ah tigre(sa)!
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