22 janeiro 2008

One fine day

Gosto de regras, leis, ordens. Que as coisas sejam feitas de uma certa maneira, ordeira, ordenada, que saiba com o que possa contar. Que possa obedecer e quebrá-las, e saber que ao fazê-lo corro o risco do castigo decorrente. Mas sei também que a justiça cega é incorrecta, e que uma multidão cumpridora e acéfala é tão ou mais perigosa que um bando de anarquistas radicais.

Moro numa rua entalada entre dois grandes bairros de Lisboa, cheios de escritórios, hospitais, lojas e afins. A única rua num raio de 5 Km onde não foram postos parquímetros - muito prático e confortável para as visitas que não têm de se preocupar com o pagamento à EMEL.
No entanto, para quem aqui vive, isso apenas significa que nunca temos lugar para estacionar, estando muitas vezes obrigados a deixar o carro em cima do passeio para levar as compras para casa ou dar o almoço à família. Hoje foi um desses dias.


Levanto-me de um salto quando me toca a vizinha do andar de baixo a avisar que o meu carro estava a ser rebocado pela Polícia Municipal. Pego nas chaves, desço as escadas a correr e vejo passar o reboque com o meu carro mesmo à frente dos meus olhos ao sair do meu patamar.

Fiquei em estado de choque, subi, telefonei à polícia a ver se podiam mandar o reboque para trás mas nada feito. Além do mais tinha de esperar a chegada do carro ao silo para descobrir se tinha sido a pm, a emel ou a psp a rebocar-me a viatura.

Descubro que a carrinha da polícia ainda está na rua, pelo segundo dia consecutivo a bloquear e multar todos os carros parados em cima do passeio - sem perceber que eles aí estão porque os moradores não têm outro sítio para os pôr. Como não há parquímetros na nossa rua não temos direito ao cartão de residente da EMEL e estamos limitados aos cada vez menos lugares existentes.

Com a fúria a crescer dentro de mim decido ir falar com os agentes da autoridade, pelo menos para saber para onde me mandaram a viatura. Encontro dois homens fardados, confortavelmente sentados dentro de uma carrinha, com uma fila de 4 pessoas com ar de condenados à morte com os documentos na mão e o multibanco pronto a tirar-lhes um peso de cima.


Tentando soar o mais tranquila que consigo, pergunto qual o destino do reboque. Informam-me que é perto do Colombo. Pergunto porque fazem isto aos moradores, "respondo-lhe o mesmo que aos outros, limitamo-nos a cumprir ordens". Com esta tirada começa-me a subir a mostarda a todos os nervos olfativos que possuo. O do lado, mais escondido, decide rosnar umas coisas "nós bloqueamos e multamos todos os que estão em cima do passeio, mas o seu mandámos rebocar porque nem uma cadeira de rodas passava". Nesse preciso momento compreendi os crimes passionais. Para além de não ser verdade o que tinha acabado de dizer, a carrinha onde estavam sentados ocupava todo o passeio que era acusada de estar a bloquear. Os entrevadinhos a quem eu, a incivil, impedia a passagem eram obrigados a mudar de passeio por causa do porquinho mealheiro da câmara municipal de lisboa. É muito mais fácil mandar uns agentes passar o dia a bloquear e a multar carros que ter de tomar uma decisão pelos moradores, contribuintes e eleitores do bairro.


Depois de ter telefonado a 4 departamentos diferentes da CML vou mesmo ter de fazer um abaixo assinado, como me mandaram fazer, quase à boca pequena, da vez em que fui reclamar ali para os lados do campo grande.


Sinto-me fornicada de forma cega, surda e muda. Há maneiras mais agradáveis de o fazer.

2 comentários:

nove e tal disse...

livra...! é nestas alturas que dou graças aos santinhos por não ter carro.

faz o abaixo assinado.

saudações revolucionárias

sem-se-ver disse...

toda a minha solidariedade.

assina:
a condutora com mais multas de estacionamento injustas, absurdas e de aplicação cega da lei de portugal inteiro (inclui vários reboques injustos, absurdos e de aplicação cega da lei)

(prá próxima ensaie meter a mão ao bolso, espetar o dedo como se lá tivesse o canhão de uma pistola, e ameaçá-los com um tiro. vai presa mas ao menos assustou-os um cadito)