29 fevereiro 2008

Ouço a chave na porta do lado

Os meus vizinhos chegaram a casa. Hoje chegam tarde, mas como é sexta feira se calhar foram jantar fora. Ouço-os a mexer nas panelas e nos tachos e a falar com a voz zangada. A cozinha deles é pegada ao meu escritório, mas com estas paredes tão finas, às vezes parece que estão aqui mesmo ao meu lado. Discutem muito, falam alto e forte e nessas alturas fico muito quietinha para que não me ouçam e discutam à vontade. Às vezes ouço-a chorar e sussurro baixinho palavras de consolo na esperança de que atravessem as paredes, a abracem e a façam sentir menos triste. Outro dia cruzámo-nos no elevador e apresentámo-nos. É uma mulher bonita, jovem. Tentei ver nos olhos dela porque é que ela continua com uma relação que a faz chorar e discutir tanto, mas nada vi, estava bem disposta nesse dia. Entre um bom dia e se precisarem de alguma coisa disponham, entrei de novo em casa e sentei-me ao computador a ouvi-la fazer o almoço.

Tributo a PNO*

Um ano bissexto, calhando a uma 6ª, faz dele um ano tri-sexto?

*Perguntar Não Ofende

28 fevereiro 2008

Não desculpa

Não se controla o que se sente. Mas isso não é desculpa para não controlar o que se faz.

Insensível

É o que devo ser. Ou burra mesmo. “There wil be blood” é um dos filmes mais secantes (e longos!) que já vi. Sim, ok, ele faz um bom papel, mas não chega para aguentar quase 3 horas de filme...

Metamorfose + Catherine Morisseau

Este post trata de publicidade e não de uma alusão ao livro de Kafka. Merecidíssima publicidade, aliás. Se não tiverem nada que fazer amanhã - aqui em Lisboa - sigam as coordenadas que vos deixo em baixo.

Catherine Morisseau (pianista) lidera um duo em piano-dança, de seu nome Metamorfose.

Fabrice Ziegler (fotógrafo) e o seu 'estúdio-móvel' estarão também presentes, fotografando quem quiser ser fotografado, sempre sob a égide da metamorfose.

O espaço onde tudo acontecerá é o mais improvável: a Farmácia Açoriana em Santos (em frente ao antigo B-Leza, nada que enganar), 28 de Fevereiro, às 21:30. Entrada livre.

Outro projecto de Catherine Morisseau aqui.

27 fevereiro 2008

Dúvida

E um homem sério, será também surdo ou será antes mudo?

Surdez

Uma mulher séria não tem ouvidos.

My name is Elisa Day


O tapete a partir para o infinito

Abraçou-a e nesse abraço tudo, amor, desejo, paixão, intensidade, ternura, afecto, certeza. Depois veio o beijo, molhado, a confirmar tudo o que o abraço prometia. Era daqueles que não dá vontade de largar, não que se tenha medo que o resto não esteja à altura (sabe-se que sim), mas pelo prazer que dá apenas e só aquilo. Um prazer que se deseja eterno. O abraço e o beijo, agora e para sempre. Amen.


Deitaram-se na mesma cama, despiram-se devagar, extasiados com cada pedaço de pele que iam descobrindo. Os dedos dos pés dela, a barriga dele, a coxa direita dela, o ombro esquerdo dele. Doce, lânguido, suave. Devagar.


Ele quis explorá-la, ela deixou-o. Beijou-lhe a orelha, o pescoço, as costas abaixo, as mãos nas ancas dela. Ela entregava-se ao que ele lhe dava, a pressão, a fricção, o prazer.

Ele amou-a tanto e de tantas maneiras, entranhou-se-lhe pela pele adentro que conseguiu escavar até às entranhas. Como quando ela aprendeu de pequena a abrir túneis na areia e a ficar feliz quando encontrava a mão do outro lado do buraco, agora apenas lhe estendeu aberta a que lhe saia do coração.

Publicidade enganosa

Constato que existe uma proporção inversa entre beleza dos homens e a sua qualidade como amantes. A passar-se o mesmo no restante reino animal seria uma excelente explicação para a ausência de orgasmos na generalidade das fêmeas.

25 fevereiro 2008


Até onde és capaz de ir para me encontrares?

Igualmente útil

esta técnica que nos chega de terras do oriente, desta vez do Japão: como dobrar uma t-shirt em 2 segundos:

Da infância

(depois de um bom bocado no quarto, a processar a informação recebida, aparece na sala)
- Mãe?
- Já devias estar a dormir há muito tempo! O que é?
- Mãe…. Mãe, eu sou capaz de tudo!
(pausa)
- És, claro que és, meu amor.

Pessoas-gralha

As pessoas-gralha caracterizam-se pela hipertrofia das cordas vocais. Como consequência, as pessoas-gralha são capazes de debitar mais palavras por minuto do que o comum ouvido humano consegue processar. Uma curiosidade sobre esta espécie: alimentam-se de todos os assuntos e conseguem ter opiniões sobre quase tudo.

Diz que os chineses inventaram um método infalível

24 fevereiro 2008

Pessoas-galinha

As pessoas-galinha dissecam pormenores milimétricos em conversas intermináveis. Vivem em grupo, são muito sociáveis e não suportam a solidão. Têm a extraordinária capacidade de encontrar significados e em atribuir intencionalidades invisíveis para todas as restantes.

Pessoas-avestruz

As pessoas-avestruz fazem tudo para ignorar o que se passa à sua volta. Se observarmos com atenção, podemos encontrá-las um pouco por todo o lado. As pessoas-avestruz são aquelas que fogem de si mesmas e caminham gloriosamente para uma infelicidade de pedra. A receita é sempre a mesma: não vejo, não quero ver, não posso ver. As pessoas-avestruz enterram o cérebro, amordaçam o coração e cosem as pálpebras.

23 fevereiro 2008

Isto não é um cachimbo

Ela tinha dito que ia conseguir. Tinha dito que ia deixar para trás o que deveria desaparecer, os ossos que chocalhavam com os seus passos sem que ninguém se apercebesse, só ela os ouvia e fingia não ouvir, sempre aquele som a cada gesto, de cada vez que se levantava ainda com sono, de cada vez que andava pela casa sem saber como se livrar deles e incapaz de os ignorar.
Abriu a janela, mediu a distância que a separava do chão lá em baixo, as folhas e a chuva misturadas numa mancha que invadia o cimento e a erva, e tornava tudo uma papa indistinta. Calculou o tempo que demoraria a chegar lá e imaginou o som que faria quando tocasse no solo.
Pegou nos ossos. Sentiu o frio e a forma de cada um deles, encaixou-os numa mala antiga e fumou o último cigarro. Aproximou-se da janela e foi atacada por um medo que não sabia ter. Como seria depois?
Agarrou a mala e deixou-a cair. Esperou e ouviu um som surdo, afinal tão diferente daquele que tinha imaginado. Agora era só ela mesma.

21 fevereiro 2008

A importância de ser EU

A importância de ser EU e não ser outra pessoa. Porque só EU habito este corpo e mais ninguém. Uma alma fundida em carne à qual se dá o nome de pessoa. Neste caso, EU.

Acontece que EU tive um problema na máquina a que chamam corpo. Como não estava habituada a lidar com pannes desta natureza, demorei mais tempo do que o normal até decidir ir ao reparador das máquinas do eu-tu-ele-nós-vós-eles.

Cheguei com uma queixa. O reparador devolveu-me 10 folhas com milhares de exames à máquina.

Não gosto particularmente do reparador. Mas fiquei-lhe grata por saber que a máquina parará - mais dia menos dia - pela sua peça mais nobre:

o coração.

Tal como Cyrano de Bergerac, sempre almejei um final literário.
É o que terei.

hoje e amanhã

Apago a luz, abro a janela, deixo que o luar invada a minúscula sala. Acendo o último cigarro da noite e penso 'que afortunada sou'.

Não foi hoje nem será amanhã.

Afortunada sou.

Só a pensar em ti*



*(uma flor)

Entre Aspas, uma pequena flor

20 fevereiro 2008

qual é a diferença de um para nove?

Hoje faz nove anos que se foi embora. Hoje faz nove anos que passámos a última manhã consigo, ao lado da sua cama. Hoje faz nove anos que ficámos suspensas na sua respiração. Suspensas naquele fio que a levava e a trazia e a levava e a trazia, dormia ali ao nosso lado, e nós olhávamos para o seu peito que subia e descia e sabíamos que estava ali connosco. A sua respiração. E houve o momento em que deixou de ir e vir, de a levar e trazer, e levou-a não sei para onde que não a encontro agora, procuro-a em tantos lugares e em tantos momentos que lhe perco a conta, uma figura ao longe o som dos passos o cheiro. Hoje é o número nove, mas já foram outros números e serão outros tantos até ao dia em que for o meu dia de ser levada pela respiração que cessa, não sei por que razão os números são tão importantes, qual é a diferença de um para nove?, não é assim tanta, continuo sempre a sentir a sua falta, a tropeçar na imensa estupidez de ter desaparecido e ter faltado a todos os dias que já passaram e que se foram enchendo de pequenos e grandes acontecimentos e me trouxeram até esta casa onde lhe escrevo e onde vivo agora, todos os dias que passaram e me deram um filho que é já um rapaz e que ouve tantas histórias sobre a avó que nunca conheceu e que dorme no quarto ao lado desta sala onde estão também pedaços de si, uma mesa, um candeeiro, uma fotografia, muitos livros, objectos grandes e pequenos que povoam a minha casa como a Mãe me habita a mim, reconheço-a no meu pescoço nesta cara magra em coisas que penso e digo, reconheço-a nos gestos da minha irmã e na entoação segura das frases que diz, reconheço-a na cara do meu filho, e tento o consolo de saber que está ainda aqui, que de uma forma misteriosa estará aqui enquanto existirem pessoas que trazem dentro delas pedaços de si.

Para ser uma pessoa crescida

tenho de ter opiniões sobre tudo?

Cartas de amor, quem as não tem

Estou sensibilizada, 8 e coisa recebeu a sua primeira carta de amor.


Subject: Saudades! Sender: Júlia


Olá, não sei nem como começar este email...Fico até sem graça de falar por aqui, me abrir, te falar o que sinto por email mas foi a unica maneira que encontrei sem correr o risco de me ferir novamente. Juro que voce é tudo que sonhei pra minha vida, eu adoro estar com vocÊ desculpa esta falando por aqui, mas foi a unica maneira..Eu fiz uma animacao com nossas fotos, com maior carinho , espero que goste...Vou te conquistar e te ter pra mim, JURO!

AMO VOCÊ...



Depois das promessas de mamas, pilas, rolexes, sexo eterno, agora o spam vem na forma de juras de amor. Deve ser do que as pessoas têm maior precisão.

Independências de antigamente




William Wallace: Why do you help me?

Princess: Because of the way you are looking at me now.

18 fevereiro 2008

Dois em um


Esta empresa lançou "uma extravagante descoberta para as visitas à casa de banho", prometendo "manter em forma o seu cérebro" enquanto alivia os intestinos. Com ou sem o diabo no corpo.

ex nihilo nihil fit


Se agora tivesse acesso ao youtube, dar-vos-ia uma linda música cujo refrão é qualquer coisa como "nothing comes from nothing".

Contemplai

"Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra." Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (...) Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia".

A obra criada Ao Sexto dia é uma boa obra.








17 fevereiro 2008

Nova frescura perfumada

Cheirava mal, este blogue.

Hoje

o meu cócó cheirava muito a enxofre. Confirmei o que suspeitava, ando com o diabo no corpo.

16 fevereiro 2008

O meu eros - ou de como chegar à bela agonia, passando na casa partida e recebendo os dois contos

Erótico, o amor físico e sensual, começa na cabeça e acaba, de preferência, noutros sítios.

um site que colecciona orgasmos - femininos e masculinos, singulares e plurais, fantasias e desejos - filmados sempre com o mesmo enquadramento, dos ombros para cima.

Vêem-se milhares de caras em mosaico, que se masturbam diante de uma câmara. Não vemos os seus corpos nem conhecemos as fantasias que os assaltam e lhes provocam as respostas físicas. Ficamos apenas a ver o que acontece e como acontece. Dentro da cabeça tudo é permitido.


Aqui fica uma amostra, para que se veja a que soa e parece um orgasmo feminino. Verdadeiro.





Este na versão múltipla e camuflada com música

A few of my favourite things

A Ana passou-me a corrente das 12 palavras que mais gosto. Normalmente passo ao lado das correntes, mas desta vez não me apeteceu.


Assim, aqui ficam.


1. chantilly, gosto de dizer "chantiii" sob o coro de protestos das minhas irmãs, gosto de o lamber de-va-ga-rinho e sentir todas as moléculas de gordura e açúcar na ponta da minha língua

2. livro, o vr faz-me cheirar as folhas a serem passadas num instante, o som, a imagem, imaginar o que la está, antecipar o prazer da leitura.

3. dançar, é das coisas melhores da vida. danço em todo o lado, mesmo sem ser dentro da minha cabeça

4. pirlimpimpim (pós de), era o que me curava todos os males quando era pequena. ainda hoje.

5. mãe, porque me faz falta dizê-la

6. princesa, quando me chamam assim fico logo como a menina de 5 anos que tinha uma camisa de noite cor de rosa até aos pés, só me faltava a tiara para ser uma princesa verdadeira. e o príncipe claro, que indubitavelmente haveria de chegar.

7. ronha, enche-me a boca e a alma, ficar na ronha na cama ao sábado de manhã

8. marmelada, não a comestível a outra, a boa, de ficar aos beijos com língua e abraços muito tempo, sem tempo, com tempo

9. claras-em-castelo, mesmo sem açúcar, pô-las dentro da boca e sentir a textura firme desfazer-se com o calor e a saliva

10. película, gosto do crrrrr das películas verdadeiras a rodar para se verem as 24 frames num segundo. gosto de ver a película de água e sabão que se quer cada vez maior no pavilhão do conhecimento. gosto de números de magia com bolas de sabão, a solidez e a fragilidade da película.

11 e 12. Paul Newman, o homem mais bonito de todos os tempos.

15 fevereiro 2008

“Deus Caritas Est”

No nosso último jantar, já não sei quem dizia que, às vezes, não se notavam algumas das minhas diferenças em relação às outras múltiplas. A explicação é simples: não deixo, por causa dessas diferenças, de ser mulher e há alturas em que sou apenas isso, como as demais.

No entanto, este post sobre o amor e este sobre dúvidas teológicas, puxaram este que já andava para ser feito há muito tempo. Calhou na Quaresma, época especial para os cristãos.


“3. Ao amor entre homem e mulher, que não nasce da inteligência e da vontade mas de certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. (…). Na crítica ao cristianismo que se foi desenvolvendo com radicalismo crescente a partir do iluminismo, (…) o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros (…). Este filósofo alemão exprimia assim uma sensação muito generalizada: com os seus mandamentos e proibições, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida? Porventura não assinala ela proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo do Divino?
4. Mas, será mesmo assim? O cristianismo destruiu verdadeiramente o eros? (…)
5. Dois dados resultam claramente desta rápida visão sobre a concepção do eros na história e na actualidade. O primeiro é que entre o amor e o Divino existe qualquer relação: o amor promete infinito, eternidade — uma realidade maior e totalmente diferente do dia-a-dia da nossa existência. E o segundo é que o caminho para tal meta não consiste em deixar-se simplesmente subjugar pelo instinto. (…)
(…) Isto depende primariamente da constituição do ser humano, que é composto de corpo e alma. O homem torna-se realmente ele mesmo, quando corpo e alma se encontram em íntima unidade; o desafio do eros pode considerar-se verdadeiramente superado, quando se consegue esta unificação. Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza. (…) Mas, nem o espírito ama sozinho, nem o corpo: é o homem, a pessoa, que ama como criatura unitária, de que fazem parte o corpo e a alma. Somente quando ambos se fundem verdadeiramente numa unidade, é que o homem se torna plenamente ele próprio. Só deste modo é que o amor — o eros — pode amadurecer até à sua verdadeira grandeza.
Hoje não é raro ouvir censurar o cristianismo do passado por ter sido adversário da corporeidade; a realidade é que sempre houve tendências neste sentido. Mas o modo de exaltar o corpo, a que assistimos hoje, é enganador. (…) Na verdade, encontramo-nos diante duma degradação do corpo humano, que deixa de estar integrado no conjunto da liberdade da nossa existência, deixa de ser expressão viva da totalidade do nosso ser, acabando como que relegado para o campo puramente biológico. A aparente exaltação do corpo pode bem depressa converter-se em ódio à corporeidade. Ao contrário, a fé cristã sempre considerou o homem como um ser uni-dual, em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza. Sim, o eros quer-nos elevar «em êxtase» para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos.
6. Concretamente, como se deve configurar este caminho de ascese e purificação? Como deve ser vivido o amor, para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina? (…)Primeiro, aparece a palavra « dodim », um plural que exprime o amor ainda inseguro, numa situação de procura indeterminada. Depois, esta palavra é substituída por « ahabà », que, na versão grega do Antigo Testamento, é traduzida pelo termo de som semelhante « agape », que se tornou, como vimos, o termo característico para a concepção bíblica do amor. Em contraposição ao amor indeterminado e ainda em fase de procura, este vocábulo exprime a experiência do amor que agora se torna verdadeiramente descoberta do outro, superando assim o carácter egoísta que antes claramente prevalecia. Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o. (…)
Por outro lado, o homem também não pode viver exclusivamente no amor oblativo, descendente. Não pode limitar-se sempre a dar, deve também receber. Quem quer dar amor, deve ele mesmo recebê-lo em dom. Certamente, o homem pode — como nos diz o Senhor — tornar-se uma fonte donde correm rios de água viva (…); mas, para se tornar semelhante fonte, deve ele mesmo beber incessantemente da fonte primeira e originária que é Jesus Cristo, de cujo coração trespassado brota o amor de Deus (…).”
Excertos da parte inicial da I Parte da Encíclica Deus Caritas Est

la carte

Aqui presente ao final de um excelente dia de namorados, muito bem passado e em fantástica companhia, com direito a ramo de flores logo pela manhã e paragem para almoçar pela zona de Sintra onde a aventura nos levou até um restaurante/esplanada onde se podia comer um belo prato de "salcichas no prato". Com algum receio que as salcinhas não fossem produto de gralha desatenta ou iliterada mas sim de alguma alteração genética da vulgar salsicha, decidi ficar-me pelas gambas à Braz.

14 fevereiro 2008

Coisas boas da vida

Viva os amigos

viva o carnaval

viva a festança

e viva a imperial.

Viva o vinho tinto

viva o Batman

e VIVA a navegação

com uma placa TMN!

(Há pequenos prazeres que fazem grandes milagres!)

13 fevereiro 2008

Irra!!

Ninguém consegue explicar aos vários locutores/as modernaços/as que não há boa disposição que resista a tanto "iyhu", "ihá", mensagens permanentes de ânimo e boa disposição e contínuos sorrisos rasgados e gargalhadas pseudo-cristalinas?!

Pois até me poderia divertir

A tentativa de apropriação do brilho alheio, não fosse isso, na verdade, tão triste e, no fundo, tão desesperado e inútil.

Apoio ao cliente

Este post não tem ideias, imagens bonitas ou confissões. Serve só para agarrar aqueles leitores que quando abrem o Oito e Coisa se assustam com o post abaixo (que é, vá, grandito). Os posts curtinhos regressam dentro de momentos. No entretanto (se não estiver no emprego a ter de disfarçar que lê blogues quando devia estar a ajudar o país a andar para a frente), dê uma vista de olhos ao relatório de contas abaixo. Ah, não era um relatório de contas?

Em movimento (social) - 3

O nosso espaço e o dos outros

Portugal tem uma taxa muito baixa de associativismo, de pessoas que se juntam com um fim comum. Sem pretender chegar a nenhuma conclusão ou explicação para o facto, junto apenas algumas ideias que relaciono com este facto:
Parece existir uma desconfiança à associação em colectivos, medo dos grupos, de vestir camisolas. E também uma ideia de que isso só traz desilusão, pois quando se acredita com muita convicção num grupo ou numa causa depois encontram-se sempre coisas com as quais não estamos de acordo, pessoas oportunistas que nos fazem a folha, e que para isso não vale a pena pois quanto maior é o alto maior é o salto.
Preferimos assim ficar do lado de fora das ondas. Não sei se terá alguma influência o facto de sermos filhos do pós 25 de abril, apesar de noutros países acontecer a mesma coisa e não terem tido ditaduras, mas por vezes penso que o facto de termos a experiência de uma decepção do pós revolução transmitida pelas gerações anteriores, pode ter contribuído para que hoje tenhamos tanta resistência em organizarmo-nos, a actuar e a acreditar que colectivamente, é possível ajudar a melhorar algumas das injustiças que coexistem connosco.
Além disso, por vezes parece que há uma tendência para ver ao mesmo tempo todas as injustiças que nos rodeiam e assim o mundo torna-se gigantesco e pesado. Quando dizemos, ninguém vai mudar nada porque ninguém está interessado nisso, sentimos em cima de cada músculo e cada vértebra, as toneladas do mundo que nos comprimem.
Sentimos solidariedade com muitas causas, e muitas nos parecem totalmente válidas, mas estão tão distantes das nossas vidas, do aqui e agora tal como nos habituámos a vivê-lo, que não nos move a força anímica em seu favor. Por vezes, parece que existe a ideia que se somos interventivos em relação a uma causa, também o teremos de ser, por uma questão de coerência, em relação a todas as outras com a mesma intensidade, que devemos lutar continuamente pelos nossos direitos e pelos dos demais, sejam estes quantos e como forem, e como sabemos que não aguentamos nem o corpo nem a motivação social, preferimos não nos metermos em nada.
O sistema económico, social e político em que vivemos e nos conduzimos como seres produtivos em constante falta de dinheiro, de tempo e de ânimo para a vida e para os outros, também não nos deixa muitas alternativas para poder praticar o associativismo. Temos pouco tempo para as nossas vidas, quanto mais para outras causas, o mundo está-nos grande. E se alguma vez vencemos todas estas resistências e arriscamos, o tempo da nossa vida consome-nos e há sempre um relatório que tem que ser entregue, uma época de (ainda) maior trabalho ou a doença de um filho, que, poc a poc, nos vai quebrando os laços que começámos a construir. Recolhemo-nos nas repúblicas independentes das nossas casas e das nossas vidas laborais, pessoais, amorosas, familiares, de uma ou outra amizade próxima, e a possibilidade de organização com os outros humanos conhecidos ou desconhecidos, longínquos ou próximos, não tem espaço nem tempo para ter lugar. Quanto muito, e não deixa de ser importante, uma vez por ano contribuímos com uma percentagem dos nossos impostos para o trabalho de alguma organização, e ficamos contentes por poder aproveitar os benefícios fiscais e por escolher como queremos que sejam investidos os nossos impostos.
Mas talvez a limitação maior para o associativismo seja o trabalho que nos custa aprender a acreditar que podemos, e que conseguimos se a isso nos propusermos, deixar o nosso grão de areia em alguma coisa, ainda que seja pequena em alcance, em número de pessoas envolvidas, mas que seja importante para nós e para quem também aí está, para o nosso planeta, com todos os seres humanos, vegetais e animais que aqui vivem. Aprender a acreditar em alguma causa que nos faça ressonância interna, sabendo claramente que não se trata de salvar o mundo nem nós próprios. Aprender a viver e a trabalhar colectivamente com a certeza da desilusão, a evidência de que os lugares míticos não existem, que nenhum grupo é completamente feliz, nem organizado, que os altruísmos não são sentimentos lineares, e as dinâmicas de actuação são complexas, lentas, sinuosas e de alcance sempre inferior ao desejado. Aprender a actuar, conhecendo as nossas limitações, desejos e necessidades, de uma forma interventiva mas também conciliadora, não lutando contra tudo e contra todos, por mais que nos encontremos com dificuldades burocráticas, organizativas, políticas, relacionais, ou com injustiças, brutalidades, agressividades, desrespeito.
Em qualquer jogo, competição, luta por algo em relação com outros grupos/pessoas em aparente oposição, o importante não é só o resultado final mas tudo o que aí se vive. Em qualquer acto desta nossa vida mais curta que comprida, o mais importante é que o coração esteja tranquilo e que não deixemos de ser propositivos, conciliadores, responsáveis e amorosos, pois é de amor pelos próximos e pelos distantes que este mundo necessita. Só isso. Parece simples, quase ridículo, mas, para mim, é a maior das evidências e o maior dos nossos desafios, enquanto indivíduos e enquanto colectivos.

12 fevereiro 2008

E a mim também me diverte

Sair de casa hoje de manhã e dar com dois mórmons de gravata e duas velhinhas jeovás a discutirem Jesus em frente à porta do meu prédio.

O regresso da segurança social

Tal como me tinham dito, não vale a pena fugir das dívidas à segurança social. De uma forma ou outra, essa maravilhosa instituição que vela pelo nosso bem-estar acaba por descobrir os caloteiros e exercitar a sua persuasão irresistível para que paguem o que lhe devem. Há dias recebi uma carta que me avisava ter apenas 10 dias para pagar quase € 2.000, sob pena de procederem a uma cobrança coerciva. Amordacei os meus instintos terroristas e fui à tesouraria da segurança social onde, após uma longa espera, me explicaram que não há plano de pagamento que permita congelar a contagem dos juros (todos os meses cresce alegremente a minha dívida), nem estabelecer um montante mensal que alivie o peso dos milhares que terei de desembolsar. Sou obrigada a pagar, nos prazos e quantias que forem fixados pela instituição. Não interessa se tenho dinheiro ou se me endivido para pagar o que me pedem. O que importa é que pague.
Nos últimos dias, tenho vindo a descobrir os esquemas com que os trabalhadores independentes lidam com o maravilhoso mundo da burocracia e da precariedade laboral. Alguns resolvem o problema aceitando um contrato de trabalho que lhes pague o salário mínimo, garantindo que a entidade patronal faz os descontos para a segurança social e para a administração fiscal. Para além destes 'empregos', acumulam vários trabalhos como profissionais independentes. Só assim conseguem ganhar o (enorme) resto de que precisam para chegar ao fim do mês. Outros, que não têm esta hipótese salvadora, gastam uma parte do seu mês a abrir e fechar a actividade nas repartições de finanças. Abrem-na na véspera de passar um recibo verde. Fecham-na uns dias depois. E assim se safam dos € 150 deixados na segurança social.
Bem aventurados os frilance, pois será deles o reino da pobreza envergonhada.

isto de a gente ser grande não é como se nos pinta

Apareceu choroso depois de lavar os dentes. Não era choroso: eram lágrimas a sério. "Mãe, eu não quero ser adulto. É uma seca. Tem de se pagar impostos e está-se mais perto da galhofa". Não percebi porque razão chorava quando dizia que os adultos estão mais perto da galhofa. Explicou-se: galhofa era a morte, por uma misteriosa razão a que acedem apenas as pessoas de sete anos. A meia hora seguinte foi passada a tentar explicar as coisas boas de ser grande. Logo eu, que ando com tantas dúvidas sobre isso.
E lembrei-me do poema do José Régio que tantas vezes li quando era adolescente e ainda não sabia o que era essa coisa de ser grande.

Em cima da minha mesa,
Da minha mesa de estudo,
Mesa da minha tristeza
Em que, de noite e de dia,
Rasgo as folhas, leio tudo
Destes livros em que estudo,
E me estudo
(Eu já me estudo...)
E me estudo,
A mim,
Também,
Em cima da minha mesa,
Tenho o teu retrato, Mãe!

À cabeceira do leito,
Dentro dum lindo caixilho,
Tenho uma Nossa Senhora
Que venero a toda a hora...
Ai minha Nossa Senhora
Que se parece contigo,
E que tem, ao peito,
Um filho
(O que ainda é mais estranho)
Que se parece comigo,
Num retratinho,
Que tenho,
De menino pequenino...!

No fundo da minha sala,
Mesmo lá no fundo, a um canto,
Não lhes vá tocar alguém,
(Que as lesse, o que entendia?
Só riria
Do que nos comove a nós...)
Já tenho três maços, Mãe,
Das cartas que tu me escreves
Desde que saí de casa...
Três maços - e nada leves!-
Atados com um retrós...

Se não fora eu ter-te assim
A toda a hora,
Sempre à beirinha de mim,
(Sei agora
Que isto de a gente ser grande
Não é como se nos pinta...)
Mãe!, já teria morrido,
Ou já teria fugido,
Ou já teria bebido
Algum tinteiro de tinta!

coisas que me divertem

Homens que se enfurecem porque, no semáforo, não arracam primeiro que a miúda do carro ao lado!

11 fevereiro 2008

À flor-da-água



este meu Inverno.

É de mim

ou anda toda a gente a sentir-se miserável?

Capitão Gay

Gay, que significa cor, luz, alegria, amizade. Concurso Mr. Gay Internacional 2008 tem tudo isso.
Para além de ficarem a saber que o Mr. Gay 2008 foi o argentino, o 1º cavalheiro de honra o venezuelano, o segundo cavalheiro de honra o inglês, o mais popular o brasileiro (por votação na internet). Mr. Filantropia o cubano e Mr. Fotogenia o argentino de novo.
Mr. Gay venezuela ganhou a prova de fato de banho, que pode ser vista no video em baixo. Gostei de ver cada um a desfilar dando provas da sua sensualidade, com a capacidade de rirem de si mesmos e dos próximos. Nada de uniformizações nem despersonalizações. Mesmo os que têm pouca graça física ganham na naturalidade e expansividade. Mais houvesse.

09 fevereiro 2008

Balada Para Un Loco*

(Recitado)
Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese no sé qué,
¿viste?.
Salís de tu casa, por Arenales .
Lo de siempre: en la calle y en vos...
Cuando de repente, de atrás de un árbol, me aparezco
yo.
Mezcla rara de penúltimo linyera y de primer polizonte
a Venus:
medio melón en la cabeza, las rayas de la camisa
pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies y una banderita
de taxi libre
levantada en cada mano. ¡Te reís!...
Pero sólo vos me ves: porque los maniquíes me guiñan;
los semáforos me dan tres luces celestes,
y las naranjas del frutero de la esquina me tiran
azahares.
¡Vení!, que así, medio bailando y medio volando,
me saco el melón para saludarte,
te regalo una banderita y te digo...

(Cantado)
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... ¡Bailá!... ¡Vení!... ¡Volá!
Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrión;
y a vos te vi tan triste... ¡Vení! ¡Volá! ¡Sentí!...
el loco berretín que tengo para vos:
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sábana vendré
con un poema y un trombón
a desvelarte el corazón.
¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Como un acróbata demente saltaré,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloquecí tu corazón de libertad...
¡Ya vas a ver!

(Recitado)
Salgamos a volar, querida mía;
subite a mi ilusión supersport,
y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "¡Viva! ¡Viva!"
los locos que inventaron el Amor:
y un ángel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.
Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco –pero tuyo– ¡qué sé yo!:
provoco campanarios con la risa,
y al fin, te miro, y canto a media voz:

(Cantado)
Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Trepatea esta ternura de locos que hay en mí,
ponete esta peluca de alondras ¡y volá!
¡Volá conmigo ya! ¡Vení, volá, vení!
Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Abrite a los amores que vamos a intentar
la mágica locura total de revivir
¡Vení, volá, vení! ¡Trai-lai-la-larará!
(Gritado)
¡Viva! ¡Viva! ¡Viva!
Loca ella y loco yo...
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!
¡Loca ella y loco yo!

Astor Piazzolla - Ferrer


*Para a minha amiga que amíude pergunta: achas que eu sou louca?

suspiro

ai as saudades que eu tenho de uma festa mesmo fixe para dançar, daquelas com os amigos, e os amigos dos amigos, e os amigos dos amigos dos amigos...

06 fevereiro 2008

yes we can

Quatro minutos e meio de tempo de antena sem bocejos.

05 fevereiro 2008

Um doce elogio

Nas minhas eternas tentativas de fazer com que a minha filha coma alguma coisa de manhã, acho que já comprei todos os cereais, bolos, bolachas e salgados que se cruzaram por mim. Hoje foi bolo de noz que impingi. Sucesso! Criança comeu, comeu, comeu e comentou:
- oh mãe!, isto está tão bom que parece que foste tu que fizeste!

E não é essa a benção da infância? Aqueles momentos em que acreditamos que os nossos pais sabem fazer tudo.

Mário Alberto, o Ciclista Anónimo do séc. XX

Foi com emoção que ontem me juntei a um grande número de amigos para render homenagem ao Mário Alberto. Para quem não saiba, o Mário foi, para além de muitas outras coisas, o teatro em pessoa. De carpinteiro a cenógrafo maior, dedicou-se a um pouco de tudo. Representou, criou figurinos e cenários, no palco como na vida. Boémio, anarquista, comunista, benfiquista, irreverente, mal-comportado mesmo!, claustrofóbico, inconsequente, sensível, insensível, blasfemo, divertido, camarada, amigo, são muitos os atributos que se lhe colam tão bem. E foi bom homenagear quem ainda respira por entre nós já que nos últimos anos me fui habituando a fazê-lo postumamente. O Mário está há muito doente e trocou os passeios da Avenida da Liberdade, dos quais fará para sempre parte, e a sua casa velha e húmida do Parque Mayer por um lar de solidariedade. Sim, porque ele era o último, o único habitante do Parque Mayer. Como ele dizia, "estou cá eu e os gatos". E esperou anos, muitos, para que a Câmara lhe desse a casa prometida em troca de o mandar dali embora para poder fazer as suas negociatas com os terrenos. Não eram essas as intenções explicitadas então mas as câmaras mudam, os homens também e os resultados estão à vista. "É agora" foi repetido muitas vezes a muitos amigos, como precisasse de o fazer para se convencer que não, não estava a ser embrulhado.

E ali estavamos nós, de pé a bater palmas, numa homenagem prestada por amigos e também pela Câmara, a bater palmas ao gesto sensível da autarquia que lhe atribuiu a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa. E ali estávamos nós a bater palmas à hipocrisia. E, Mário, como todos te conhecemos bem à excepção do Dr. António Costa, todos sabíamos o que estavas a dizer para dentro. Mas ele não!

04 fevereiro 2008

Em movimento (social) - 2

De lobos, cordeiros e outras espécimes

Tal como os seres humanos, as organizações do Terceiro Sector não são todas feitas da mesma madeira, e num dos extremos encontramos tristes exemplos. Na Colômbia, os grupos (para)militares resolveram aproveitar o espaço conquistado pelos movimentos sociais da sociedade civil, reconhecidos pelas comunidades como uma alternativa desejada às formas de vida propostas pelos actores do conflito armado, e criaram também a sua própria estratégia social e as suas OTS. Numa das vezes em que vestiram esta pele de cordeiro montaram uma organização orientada a trabalhar em resolução de conflitos e que se chamava Respirar. A táctica era simples, quando se tinha de resolver em conflito comunitário dava-se uma oportunidade, inspira, dava-se duas, expira, e à terceira davam o último suspiro.

Mas as OTS não todas iguais e devem ser diferenciados os sacos em que as metemos. Conheci muitas e muitas outras que, com todas as mil dificuldades e limitações, contribuíam de facto a que as comunidades melhorassem as suas vidas, com que crianças e jovens tivessem outras alternativas aos seus espaços familiares e sociais violentos e degradantes, que as comunidades melhorassem a sua alimentação, abastecimento de água, ou o seu nível organizativo, educativo e cultural, que a defesa de direitos de populações (mal) chamadas minorias não fosse só uma determinação estampada em papel.

No fundo as OTS são talvez uma das formas de expressão de muitas e muitas pessoas que não se encontram satisfeitas com o mundo onde vivem, que não cabem nas formas pré estabelecidas dos sistemas que nos continuam a inventar, e que acreditam que organizadamente, em conjunto micro, medio ou macro é possível contribuir para a sociedade de forma (pro)positiva, e diferente daquela que contribuímos a partir das nossas individualidades. Apesar de entre elas poderem ser muito diferentes, guiam-se por ideais num mundo com muitos interesses cruzados e a rebentar pelas costuras que cozem o neoliberalismo económico. Têm por vezes formas de actuar com as quais não simpatizo, algumas parecem-me demasiado radicais, outras ainda acreditam que podem salvar o mundo, outras são mais realistas e trabalham mais coordenadamente com outros actores sociais.

Para mim, as OTS não salvam o mundo nem têm de o salvar, mas ajudam pessoas iguais a mim que vivem em contextos diferentes. Reconheço como muito importante o seu papel de funcionarem como reguladoras do Estado e travão do poder das corporações privadas, é sem dúvida um contrapeso fulcral para equilibrar o arrastão de um sistema neoliberal que coloca o poder económico sobre os direitos sociais, tornando-nos cada vez mais autómatos de produção e de consumo, e estreitando as nossas possibilidades de viver vidas mais dignas, integrais e responsáveis. Cometerão erros, algumas poderão ser desonestas, mas o todo não se toma pelas partes, e sem elas, um outro mundo seria talvez menos possível.

03 fevereiro 2008

Carta aberta

Sr “inválido”, deixe-me dizer-lhe que apesar de achar o seu raciocínio um pouco excessivo e de não ter entendido muito bem a analogia dos caixotes-lixos, estou inteiramente de acordo com o objectivo do seu apelo espalhado por toda a blogosfera e em particular neste blog, úteros artificiais para os homens que os queiram e desejem, sim, sim , sim, venham eles, era um favor que nos faziam às mulheres. As que quisessem estar grávidas e parir, faziam-no e as que não, não. Para os casais ou para as mulheres que queiram ter filhos e não possam, o útero artificial seria a solução. Da mesma forma, os homens também poderiam escolher ter filhos sem necessitarem de uma mulher para isso e os casais homossexuais que o desejassem veriam muito mais facilitado o seu sonho de ser pais. Para as mulheres possibilitaria que tirássemos de cima o peso da reprodução da espécie e da nossa família e a ideia generalizada de que as mães são mais importante para o cuidado e a educação dos filhos que os pais. Acredito que em muitos milhares de anos a nossa natureza biológica vai desenvolver-se nesse sentido e as nossas biologias vão talvez transformar-se, possibilitando de forma mais intensa a partilha com os companheiros e amigos homens o prazer da estranheza de uma gravidez ou as emoções de um parto.

Mas não me uno à sua campanha por duas razões. Uma, por ser uma céptica e descrente das formas cientifico-tecnológicas de intervir no corpo humano; não sou capaz de pôr um DIU nem uns implantes de dentes que bem faltam me andam a fazer, quanto mais pensar na ideia de útero artificial. A segunda razão é porque eu sou pragmática, uma terra-a-terra, uma quase-conservadora liberal e por enquanto, já ficaria contente se os homens tivessem direito ao mesmo tempo de licença de paternidade que as mulheres, se fossem considerados como parte activa e fundamental no cuidado e educação dos filhos, em igualdade de condições com as mães; que nos seus contextos laborais fossem reconhecidos como pais e não como máquinas produtivas e que pudessem (quisessem e exigissem) usufruir das licenças de apoio à família; que os homens acreditassem nas suas capacidades, responsabilidades e nos seus direitos como pais, sabendo que é estando com os filhos e filhas que se aprende a ser pai, mãe, cuidador/a. Se os homens lutassem mais por estes direitos, daria de bom grado a minha assinatura em qualquer petição que fizessem, e sairia com eles para a rua. Já o pedido de úteros artificiais, apesar de sinceramente reconhecer as bondades que isto trairia à nossa sociedade, não consegue mover-me a força anímica necessária para apoiar esta causa. A minha energia nesta vida e neste corpo é limitada e cada vez mais tento conhecer as minhas motivações, desejos e limitações. No entanto, desejo-lhe muita sorte para o seu apelo sobre os úteros artificiais nos homens e agradeço que me tivesse feito pensar sobre isto, primeiro estranhando, depois entranhando e por último desentranhando-me.

Big is beautiful

Uma música que canta laudes às raparigas grandes. O rapaz começou pela Grace Kelly e veio por aí fora, a dar vontade de dançar. With curves in all the right places.


01 fevereiro 2008

Para a múltipla da Seg. Social

"A actividade de baby-sitter é exercida pela pessoa que, mediante remuneração, cuida de crianças que não sejam seus filhos, nem parentes, por um período de tempo correspondente ao solicitado pelos pais ou pelo tutor da criança. Estas profissionais devem estar inscritas na Segurança Social como trabalhadoras independentes, situação na qual a prestação de serviços deve ser tratada directamente com quem os solicita. Estes casos correspondem, predominantemente, a jovens que recorrem à actividade em disponibilidade de part-time." No Portal do Cidadão.

Como vês, eles estão por todo o lado.

Só me pergunto se elas passam recibo e se dá para descontar essa remuneração no IRS?

Desculpas esfarrapadas

- Bom, amiga, vou ter de desligar, estou a ficar sem saldo no telemóvel
- Mas sou eu que te estou a ligar...

pi pi pi pi piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Grito mudo

Que dia de merda. Que vida de merda. Foda-se.

não sei o que pensar sobre isto

Dia de carnaval na escola. Serpentinas, dezenas de princesas e fadas, homens aranha, caubóis e superheróis não identificados. No meio da confusão, um miúdo com uma faca espetada na cabeça, cicatrizes e sangue na cara. O meu filho decidiu mascarar-se de morto.