31 dezembro 2006

Feliz ano novo!!

Às minha queridas múltiplas, ao estimável publico que por aqui passa

Um ganda bom ano cheio de sonhos que comandem a vida e jogo de cintura para os altos e baixos desta vida.

Hoje mataram um homem

Hoje mataram um homem. Foi um ditador, um assassino, um déspota, talvez um louco. Não morreu de velho como outros ditadores. Apesar de ser prisioneiro de guerra não foi julgado pelo Tribunal Penal Internacional. Não foi julgado por todas as mortes que cometeu, só por algumas, talvez as menos comprometedoras. Saddam Hussein foi condenado à pena máxima num dos países que, tal como os EUA, ainda defende a pena de morte.

Hoje não se fez justiça, antes foi mais uma vez aplicada, apesar de tantos protestos internacionais, uma lei injusta e prepotente. Tal como fez a L no seu blog, deixo aqui as palavras sábias de Gandalf:

Gandalf: “A vida de Sméagol é um história triste. Sim, Sméagol era o seu nome. Antes do Anel o encontrar… antes de o enlouquecer.”

Frodo: “É uma pena que o Bilbo não o tenha morto!”

Gandalf (olhando severamente para Frodo): “Pena? Foi a pena que deteve a espada dele!” [Pausa] “Alguns dos que estão vivos talvez mereçam a morte. Mas alguns dos que estão mortos certamente merecem a vida. Podes tu dá-la a eles?”

Pausa. Frodo baixa a cabeça, silencioso.

Gandalf: “Não tenhas muita pressa em distribuir a morte como se justiça fosse. Nem mesmo os mais sábios sabem destrinçar todas as pontas do novelo. O meu coração diz-me que o Gollum ainda tem um papel a desempenhar nesta trama, para o bem, ou para o mal.”

Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien

30 dezembro 2006

Wise Up

Há coisas que não têm nome.

29 dezembro 2006

De todas as vezes...

Saí de casa. Entrei em casa. Perdi as chaves. Encontrei-as no bolso. Voltei a sair para te encontrar. Não te encontrei.Não estavas lá. Não estavas em lado nenhum. Ou era eu que não estava? Estarias à minha procura num outro lugar qualquer? Lembrei-me do café da outra rua. Lembrava-me sempre desse café quando te procurava. Não estavas lá. Nem nunca estiveras de todas as outras vezes. Bebi uma água. A senhora já me conhecia. Perguntou por ti. Ía ter contigo, disse-lhe. Ela sorriu como se já soubesse. Voltei para casa passadas horas. Com o peso do corpo muito maior. Ali estavas tu sentada nos degraus à minha porta. A perguntar onde eu estivera. Sem qualquer sentido do tempo. De orelhas arrebitadas e a abanar o rabo. Cheia de fome e sede como sempre quando desaparecias. Adormeceste com a cabeça descansada no meu colo.Voltavas sempre para casa.

O meu melhor amigo

O meu melhor amigo está sempre disponível nas noites de inverno, vai para a cama comigo, nunca se nega, aquece-me os pés, o rabo, a barriga, o peito e nalguns dias até a alma. Posso vesti-lo com várias roupinhas como antes fazia com as minhas bonecas, posso despi-lo e fica núzinho mas sempre quentinho, está sempre ali, à espera que o agarre, que o abrace, que o aperte junto ao peito. Qualquer das maravilhas do mundo é irrelevante ao seu lado, senhoras e senhores, meninos e meninas, manuéis e joaquinas, apresento-vos o meu melhor amigo nestas frias noites de inverno:

O saco de água quente

28 dezembro 2006

um dia como hoje

Ando às voltas com um texto que tenho de escrever. Sento-me em frente ao ecrã, olho para os papéis, tento organizar as ideias. Lembro-me que tenho de arrumar uns livros, desapareço daqui por minutos. Volto a sentar-me, acendo um cigarro, ensaio uma frase. Apago tudo. Talvez um chá me ajude, fujo para a cozinha e regresso confiante de chávena na mão. Retomo a frase inicial que já não existe, talvez sem os rascunhos consiga descobri-la na minha cabeça. Toca o telefone, uma amiga descobriu a pólvora sob a forma de um curso de massagem, mais uns minutos de esquecimento do texto que me espera. Termina a conversa e a página em branco cresce para mim. Roo as unhas. Acendo mais um cigarro.
Existirão doulas para estes partos caseiros?

27 dezembro 2006

Destaque do dia


"Economias liberais geram sociedades mais punitivas
Quanto maior é o grau de liberdade económica, maior é o número de pessoas presas. Este aparente contra-senso resume apenas a correlação observada por dois investigadores britânicos entre os modelos económicos e os sistemas penais. No fundo, não surpreende. A forma como as sociedades castigam os transgressores reflecte um conjunto de factores sociais, no qual se destaca o modelo económico."
A ler no DN de hoje

25 dezembro 2006

A prova de que estamos a caminhar para idade

Receber presentes que não podem ser atirados pelo ar, "cuidado que se parte".

Fotografei você na minha Rolleiflex


Entre um Natal e outro Natal (que o de 2006 já foi!)

Gosto tanto de ti!


24 dezembro 2006

Ladainha dos póstumos natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja nem um verso deste livro.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido.

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito.

David Mourão-Ferreira in “Cancioneiro de Natal”, 1986.

23 dezembro 2006

Jef

Para a minha melhor amiga, uma imortal chanson de Brel (ela sabe porquê).

(não havia sem legendas, pode ser que aprendas umas palavrinhas em flamengo). :P

Tentem fotografar o Super-Homem!



Tentem fotografar o Super-homem, aqui:

http://hk.promo.yahoo.com/movie/superman/Stop_Press_Game/

(consegui chegar a Metropolis, score 82 - NOT BAD!)

Feliz Natal

Durante muitos anos, o meu pai dizia que não gostava do Natal, mas divirtia-se a encontrar as prendas mais insólitas, em cantar canções de natal em alemão, em cumprir determinados rituais. A minha mãe ficava sempre com uma má disposição terrível nesse dia, pois o meu avô materno morreu perto do natal, mas passava o dia inteiro a cozinhar todas as receitas tradicionais e quando a minha irmã e eu chegávamos à cozinha para a ajudar ia-lhe passando a má disposição que disfarçava a sua tristeza e à noite já coisa estava bastante melhor. O argumento para a inevitável comemoração, uma vez que os filhos já não eram crianças, era de que isso era importante para os meus avós, pois estes sim ligavam à tradição e à família, valores vistos como conservadores para um casal de esquerda. Entretanto, os meus avós foram morrendo e quando o último partiu, morreu também a justificação oficial para a festa de Natal. Mas ninguém disse nada e continuámos a celebrar o Natal; o meu pai começou lentamente a assumir que esta era uma data importante para ele, assumia sem dizer nada mas a gente percebia e também nada dizia. Depois, quando vieram as crianças já não foi preciso pretextos pois elas são uma justificação per se para continuarmos a tradição. Veio a imigração da minha irmã, o divórcio do meu irmão, o seu novo casamento e a minha imigração. E de cada vez que não era possível estarmos todos juntos, por impossibilidade geográfica ou por conciliações familiares, parecia que faltava qualquer coisa e notava sempre uma pontinha de tristeza nos meus pais (e em mim também).

Quanto a mim, sempre gostei do Natal. Digam o que disserem, eu gosto do Natal. Nunca acreditei no pai natal nem no menino jesus, não sou católica e não me interessa se o menino Jesus nasceu ou não, até acredito que sim, que tenha existido e tenha sido um personagem muito importante, contudo a minha ideia de deus é muito diferente daquela que está associada ao menino nas palhinhas deitado, por isso não lhe celebro o nascimento. E quanto ao pai natal, tal como o conhecemos não passa de um golpe de marketing da Coca Cola, que surgiu (acho) nos anos 30 do séc. passado.
Irrita-me o consumismo desenfreado, recebo sempre poquissímas prendas, e é raro também ter dinheiro para dar as prendas que gostaria, mas gosto do Natal. Com todas as hipocrisias, com todo o marketing que desde o Outono envolve o natal, gosto do natal e que sejam falados, lembrados e actuados valores como a solidariedade, a humanidade, a paz, etc. Mas até nem é isso o que eu mais gosto do Natal. Gosto de ver as casas enfeitadas com luzes, as ruas pomposamente iluminadas, até nem me irrita a maior árvore de natal do mundo e sempre que passo por lá abrando ou paro o carro um bocadinho para poder ver as luzes a acender e a apagar. Gosto de ver e de fazer a árvore de natal e de inventar presépios. Gosto dos cânticos de Natal e de cantá-los com outras pessoas, das maravilhosas azevias de grão, dos coscorões, das fatias paridas e de partilhar a ceia de natal com a minha família, toda ou parte consoante os anos, aquela família que me saiu na rifa da vida, aquela que por vezes não é a desejada, não é a idealizada, mas é a possível, é a que eu tenho e a que amo. E gosto de celebrar o natal com a segunda família, aquela que é escolhida por nós, e que vale mais que um pai natal. Com esta, sempre que é possível, levamos os restos das ceias das casas de cada um/a e aproveitamos mais um pretexto para estarmos juntos e inventar cada ano o Natal dos Amigos (e amigas).
A todas e todos, desejo-vos um natal tão feliz quanto possível.

Cinema Paradiso



Um momento de Amor...

22 dezembro 2006

Home alone


O meu amor foi passar o natal com a família. Fiquei sozinha em casa, portanto. O primeiro dia passei-o a comer restos de pizza e a beber cervejas de lata. Hoje a entropia aumentou (tinha que vir à baila a 2ª lei da termodinâmica nalgum momento neste blogue, mas os físicos de serviço que a expliquem, que farão com certeza um melhor serviço que eu). Ainda para mais, como tenho estado a trabalhar em casa, não tive motivo nem vontade absolutamente nenhuma de sair à rua. Dou por mim a rever a minha ementa desde que acordei. Aqui vai, por ordem:

- 2 cafés expresso
- um pacote de sumo de pera
- meio queijo que para aí havia
- 7 bolachas de chocolate
- outras quantas bolachas de canela
- 2 barras cereais
- chá de cidreira
- 1 frasco de espargos
- 1 pera
- chá de cidreira
- 1 comprimido centrum (pelo sim pelo não)

Isto está bonito, está... Não voltes depressa não, que quando regressares a casa no mínimo tenho escorbuto ou bócio.

Diagnósticos

Só quem não tem pais médicos é que acha que isso é uma grande benesse, que permite diagnósticos certeiros, prognósticos imbatíveis e posologias adequadas.
O meu pai é médico e isso nunca me serviu de nada. Enquanto era miúda ele achava que passava tudo com paracetamol, e uma vez que tinha dado um grande trambolhão e me doíam as costas respondeu-me "deixa lá, o pior são as dores de alma". Grande ajuda.
Ultimamente não há mal que não tenhamos que não seja diagnosticado como gases. A minha irmã mais velha com taquicárdias, são gases que apertam o coração. Eu com uma gastrite galopante, são gases a comprimir o estômago. A mais nova teve nódulos nas maminhas, como os gases não chegavam a tanto a resposta imediata foi "isso não é nada, não tens idade para teres coisas graves". Por via das dúvidas, carvão vegetal para as três no sapatinho.
Por isso, deixo aqui o meu apelo. Quem puder escolher, vá por um contabilista que ao menos lhe faz o IRS no fim do ano.

acusação mural




21 dezembro 2006

Deve o espírito natalício descer sobre este blogue?

foto aqui

Às vezes tenho pena que algumas das minhas múltiplas tenham tão mau feitio (olha que para as gastrites, PANTOPRAZOL é altamente indicado! E chá de erva cidreira, vá...). E agora que se aproxima o Natal, tenho-me lembrado vezes sem conta deste excerto de um poema de António Gedeão:

Hoje é dia de ser bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
De falar e de ouvir com mavioso tom,
De abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.

(...)

Comove tanta fraternidade universal.
É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
Como se de anjos fosse, numa toada doce, de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,
A voz do locutor anuncia o melhor dos detergentes.

De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu e as vozes crescem num fervor patético. (Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu? Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético).

Confesso que esta quadra me 'arrepia', por motivos vários e pessoais, entre os quais aqueles implícitos no excerto do poema acima. De qualquer modo, pelo sim pelo não, e à semelhança de Mr. Scrooge, não quero ser visitada pelos três fantasmas.

Fica, pois, postado o espírito natalício possível que desceu sobre esta múltipla, desejando a tod@s - ironias à parte - UM BOM ANO INTEIRO (como me disse um colega meu).

20 dezembro 2006

Truques de acentuação

Outro dia aprendi com umas amigas que aprenderam com a D. Virgulina, sua professora primária, um truque infalível para saber sempre onde são acentuadas as palavras, e que consiste simplesmente em dizê-las como se estivéssemos a gritá-las para alguém que está longe.

Ridiiicula, acento no i
Infaliiiivel, acento no i
Oooordem , é grave
Anguuuustia-
Angustiiiiiiia – já sei onde vai o acento.

Sons de Domingo

Outro dia fui ouvir um grupo de pequenos artistas dos Violinhos a tocarem canções de natal na Igreja da Graça. Dei por mim a pensar que a única altura em que cantamos em conjunto, uma série de pessoas que não se conhecem mas que estão ali naquele momento, é no natal. Ainda que timidamente, talvez por vergonha, talvez por falta de costume de partilhar algo público com os outros, naquele domingo, naquele espaço, naquele átrio com vista sobre a cidade e o seu rio, o doce som das vozes em conjunto abraçou-me o coração.

19 dezembro 2006

A naba contra-ataca

A sete e picos faz anos, resolvo fazer o bolo de chocolate da bimby, receita já testada na minha festa com muito sucesso. Como o bolo é uma delícia, decido aumentar a dose... ora deixa cá ver, dobrar se calhar é demais, faço 1.5x.
6 ovos passam a 9; para poupar tempo decido bater as claras à parte enquanto o resto se faz. Gemas, açúcar, manteiga... espera lá, mas há qualquer coisa que não está bem, a balança da 8ª maravilha do mundo deve estar avariada, para pôr 300 de açúcar nunca mais acabo de adicionar; deve ser da minha nabice. Atiro um pacote de manteiga de 250 g lá para dentro e vem-me a prova científica: o ecran marca apenas 160. Andar-me-ão a aldrabar nos pacotes ou a balança está mesmo descalibrada? Espera lá que não me voltam a apanhar, a farinha vai segundo as medidas tradicionais, cada colher 15 g. Ou eram 20? Ai, ai, ai.
Chocolate 250, mais metade dá 375 g. Como já não me fio na balança, toca a contar quadradinhos e a fazer a proporção. Vai aquela coisada toda, a olho deve dar. Pelo sim pelo não como já dois bocados para ver se estão bem. Estão, siga a marinha.
"Para envolver as claras introduza a borboleta", que é um acessório de abas e que se encaixa em cima das lâminas. Aquela porcaria está cheia de uma papa castanha, não acerto com o sítio. Tento várias vezes mas nada. Decido explorar com a espátula, porque no meu desespero já queria enfiar as mãos por ali adentro. Eureka, lá está.
Como aumentei a dose não me cabe tudo de uma vez, não há de ser nada vai-se pondo. No fim, o copo está cheio até cima, provo aquela mousse deliciosa, sim está bem, ponho na forma e ala para o forno pré-aquecido a 200ºC.
Começo a operação mais aguardada: lamber todas as peças da bimby. Posso lá fazer um bolo e não laber aquilo tudo... borboleta, anda cá que és minha, cheia de recantos e bocados desperdiçados. Estico a lingua, vai percorrendo entre as reentrâncias, fecho os olhos, miam miam, está mesmo bom. Quando abro os olhos tenho chocolate em toda a camisola, bolas, que grande merda. Que se lixe, passamos ao copo misturador. Espátula minha, rapa tudo, vem a mim. Não chega entre as lâminas, vou lá com os dedos, não há nada como aproveitar tudo até ao ultimo miligrama.
Converso com a sete e com a que dizia ela baixinho no messenger, escrevo a posta. O forno apita, desligo-o. Espero que arrefeça e ala para mais um jantar de múltiplas e amigos.

O que farias tu por um mundo diferente?

Querida múltipla,

Que continues assim: sonhadora, utópica, combativa, guerreira. Invade-nos a mailbox com protestos contra o Feira Nova e similares. O aborto. A lei da paridade. As democracias em construção. O testemunho de quem já assistiu e viveu no fio-da-navalha. Espalha aos sete ventos tudo isto. Sobretudo, não deixes de o fazer.

Continua a interrogar por essa vida fora: O que farias tu por um mundo diferente?

Para ti - com amizade e afecto - o teu muito querido Caetano.

Muitos parabéns por estes 37 Invernos!

18 dezembro 2006

Outras adolescências (I)

fotos direitos reservados
"We are not aware of the distinctiveness and the circumscription of our own behaviour until we meet its normative boundaries in the shape of alternative forms". Anthony Cohen

17 dezembro 2006

Insónia

Pouso o cachecol e as luvas em cima do balcão e peço as chaves do quarto.
- Boa noite, Sr. Fernando, que frio que está lá fora.
- Pois está. Sabe, o frio do Alentejo é muito diferente do da minha terra, é um frio fininho, por mais que nos aqueçamos entra-nos pelos ossos dentro.
O Sr. Fernando é dono de uma hospedaria no Alentejo. Oriundo de Seia, trocou a Beira pelo Alentejo e aí vive há muitos anos. O forte sotaque denuncia a sua origem, todos os ‘s’ são trocados por ‘x’. Continuamos a conversar sobre o tempo.
- Eu morava em frente ao mar, aquilo também não é fácil no Inverno por causa da humidade. Na minha rua, os carros estacionavam ao contrário para prevenir a corrosão da chapa. O termómetro não desce tão baixo, mesmo assim digo-lhe que há dias ou noites que também não são fáceis por aquelas bandas…
Despeço-me de boa noite. O dia foi longo e preciso de descansar. Subo as escadas, meto a chave na porta, rodo a maçaneta, entro no quarto, fecho a porta, pouso as chaves na mesa de cabeceira. Procuro imediatamente o comando do aquecimento e ponho no on. Vvvvvvvvvvvvvvvvv, faz a máquina, soprando um jacto de calor no quarto. Preparo a cama, tiro o cobertor de dentro do armário e as duas almofadas. Deito-me na cama ainda a tremer, depois de trocada a roupa. Acendo a televisão, faço um zapping pelos 4 insólitos canais portugueses, telenovelas e outra coisa qualquer, a tristeza de sempre, vou mas é dormir antes que deprima. Desligo a luz.
5 minutos depois - a porcaria do barulho do aquecedor e o corpo que não aquece, as almofadas são altas demais, tenho sede. Acendo a luz, desligo o aquecedor e bebo água por uma garrafa. Silêncio finalmente.
20 minutos depois – Porra, que não há maneira de aquecer. E por mais mossas que faça na almofada, esta não cede ao meu peso e intenção. Levanto-me, vou à casa-de-banho, saco as toalhas e decido que estas farão a vez da almofada. Ponho a fronha por cima para não sentir a textura do tecido.
50 minutos depois – Continuo a tremer de frio e a almofada substituta é dura. Puxo o cobertor para cima e coloco-o à altura da cabeça. Menos mal. No silêncio, distingo uma voz no quarto ao lado, provavelmente falando ao telefone. Não estou interessada na conversa mas percebo a palavra ‘5ª feira’. Ponho os dedos nos ouvidos, era o que mais me faltava prestar atenção a uma conversa que não é minha. Não sei como, finalmente adormeço.
3 horas depois – Acordo cheia de frio. Será o tal frio fininho de que falava o dono da hospedaria? E agora o que faço? Se puxo o cobertor que funciona de almofada não durmo por causa da almofada improvisada. Se acender o aquecimento não adormeço por causa do barulho. Vou fumar um cigarro enquanto decido, já acordei à mesma. Apanho o maço e o isqueiro e vou para casa-de-banho, ligo o extractor de fumo. Sento-me na retrete e penso. Penso que isto tudo é um disparate e que já devia estar a dormir há horas. Porque raio não adormeço? Não bastam as 3 horas mal dormidas no dia anterior? Não basta o que vi e ouvi hoje? Volto para a cama. Saco do meu último recurso. Deito-me de barriga para cima e aguardo o suave embalo do hipnótico: a cabeça teima em girar e girar e girar. 3 horas, depois volto a adormecer.
8:00 – toca o despertador. Desligo. Volta a tocar. Desligo. Volta a tocar. Desligo. Acordo em sobressalto, levanto-me de um pulo, tomo banho, arrumo tudo, saio do quarto e volto para o balcão onde me encostei na noite anterior. Aparece o Sr. Fernando.
- Dormiu bem?
- Bem… Sim, obrigada. Já tomei o pequeno almoço, mas tirava-me mais um café? É que demoro o meu tempo a acordar…
- E o quarto? Estava quente?
- Eeeeh... Sim. Por falar nisso, não tem por aí uns cobertores que já não lhe sirvam? É para as pessoas que vivem naqueles acampamentos de que lhe falei ontem.
- Acho que se arranja qualquer coisa.
- Obrigada.
Vou-me embora ainda a tremer. Não há cobertor ou calorífero que me valha. Estaciono o carro e vejo a Srª Maria Emília, que vem na minha direcção. Tiramos os resguardos do porta-bagagem. Sinto o cheiro das fogueiras ainda acesas desde a noite anterior. O sol espreita e amorna a planície alentejana. Dão-me um punhado de pevides e sento-me à soleira de uma porta. Os raios do sol batem-me no rosto e aqueço, finalmente.

Artigo 1º da Constituição portuguesa

Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
Actualização
Ontem à noite falava sobre a ignorância da maioria das pessoas em relação às leis em geral, à constituição portuguesa em particular. A Constituição devia fazer parte da cultura geral dos cidadãos da República Portuguesa. Nem de propósito, juntou-se a nós um especialista na matéria que nos revelou o artigo 1º e passámos o resto da noite a discutir o Direito e a Sociedade.
Fico muito orgulhosa que Portugal se baseie na dignidade humana; mais, que esteja consagrado no artigo 1º a vontade e o empenho de toda a população na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.
No entanto, estou convencida que a maioria das pessoas não sabe que o seu envolvimento na matéria não só é um direito que lhes assiste como um dever para com a República Portuguesa. Um dever para consigo e para com os outros.
Acho que os constitucionalistas que redigiram este texto foram ainda mais líricos que eu, se tal é possível. Acreditaram num mundo melhor e na vontade empenhada dos cidadãos na construção desse mundo.
E se imprimisse cartazes com o artigo 1º e os espalhasse de norte a sul e arquipélagos? Talvez depois disso fosse possível começar a pensar no assunto - de pôr as pessoas a pensar e a agir.
Um mundo melhor não só é possível como é constitucional.

16 dezembro 2006

Outras infâncias (I)

fotos F.M. Reis

Vivem debaixo de lonas, em diversas localidades do Alentejo, em condições infra-humanas. Exigem-lhes a presença na escola, sem reunirem as condições básicas para o fazer: casa, higiene, deslocação. Quando a GNR os expulsa dos acampamentos onde estão - à razão de 3 vezes por semana - torna-se praticamente impossível cumprir os acordos estabelecidos com a Segurança Social. Os apoios sociais são 'cortados'. Por quanto tempo mais vamos insistir na visão romântica dos 'filhos da estrada e do vento'? Somos todos cúmplices.

Maternidades

Há uns tempos li na newsweek um artigo sobre a tendência mundial de se ter filhos cada vez mais tarde ou mesmo escolher não os ter.
Tem a ver com a entrada definitiva das mulheres no mundo do trabalho, onde lutam com as mesmas armas e disponibilidades com os homens. Algumas não têm filhos porque não querem, outras porque querem avançar na carreira antes de o fazer, outras porque querem gozar o que o dinheiro lhes dá sem o partilharem com as obrigações da maternidade, outras ainda (a maioria segundo o artigo) porque ainda não chegou "o momento certo".
Detenho-me nas mulheres porque me parece que há muito mais em jogo para nós/elas do que para eles. Um homem pode ter filhos aos 50 ou 60 anos, sempre aconteceu. Uma mulher não, nós temos um tempo limitado para poder fecundar os óvulos, é uma reserva finita e com temporizador.
As mulheres que vão avançando pelos 30 sem filhos estão a romper um padrão desde há séculos institucionalizado, as suas mães e avós começaram a ter filhos por volta dos 20 anos, e as únicas que não o faziam eram as "tias", mulheres desinteressantes por quem homem algum conseguia ser atraído.
Hoje não é assim, há mulheres lindas e cheias de interesse que ainda não têm filhos. até mesmo por opção, ou à espera do tal momento ideal.
No entanto, fica sempre um complexo de culpa assumido ou não. Culpa perante a herança familiar, que não se está a cumprir a herança genética e social que as nossas antecessoras nos passaram. Culpa em relação a si mesmas, por não estarem a cumprir o seu papel de mães. Culpa em relação aos filhos não nascidos, que teriam o direito a gozar uma mãe na plenitude da sua juventude, força e saúde, o que lhes permitiria terem mais anos de progenitores a gozar.
As escolhas são feitas e publicamente assumidas. Na intimidade, alguém está a ser desapontado por isso, o que causa ansiedade e infelicidade.

15 dezembro 2006

À porta do 1º esquerdo

Oiço a vizinha explicar "o meu cunhado é silenciado em matemáticas e económicas".

Manhãs

O despertador toca, carrego no botão para o voltar a fazer dali a 7 minutos. Olho para a hora, já passam 21 minutos da hora programada, o que significa que nem ouvi os três primeiros toques. Ou terei ouvido e desligado sem me dar conta? A dúvida permanece todos os dias.
Volta a tocar. Volto a desligar, mas agora fico acordada até ao toque seguinte. Viro a cara na almofada, sinto a boca inchada, devo ter a cara toda inchada. O trim insiste, dou mais duas voltas e começo a ter vontade de ir à casa de banho. Está frio lá fora, enrosco-me nos cobertores debaixo dos lençóis de flanela, ordeno-me que me levante. Custa muito sair da cama.
Levanto-me finalmente, ligo a música, vou para a casa de banho cumprir a rotina matinal. Olho-me ao espelho, cabelos desgrenhados, a cara inchada, tenho a boca da Sofia Aparício. Lavo as mãos, os dentes, a cara.
Ponho uma música mais mexida, decido se tomo banho ou me visto directamente. Ligo a máquina do café.
Estou atrasada, é melhor vestir-me, se tomar banho agora fico meia hora debaixo do duche a olhar pela janela os pais a deixarem os filhos na escola primária.
Tiro um café, como uma fatia de bolo. Encontro os brincos e o anel, decido que me vou pentear enquanto o café arrefece.
O cabelo não colabora, quanto mais penteio mais horrível fica. Ponho ganchos de lado, a disfarçar. Não funciona, mas não me importo. Volto à cozinha, engulo o café.
Casaco, carteira, chaves, óculos escuros. Danço mais um bocadinho, apago a aparelhagem e saio de casa.

14 dezembro 2006

Do comportamento público e privado

As pessoas cobardes são muito tristes. Em privado são uns heróis, dizem o que pensam, o que deve ser feito, exprimem as indignações. Em público, com a audiência certa, calam-se como ratos.
Aplaudem em silêncio os que têm coragem de dizer as coisas que têm de ser ditas, votam secretamente nessas pessoas, mas defendê-las publicamente é que já não é com eles.
Tenho pena dos cobardes. Tenho pena de ter de trabalhar com gente desta. Estou a ver que a pastorícia é mesmo o meu destino.

13 dezembro 2006

Colapso

Se todas fossem condenadas, conjuntamente com os homens que (no melhor dos casos) as acompanharam e os/as médicos/as que realizaram a IVG, os tribunais e as prisões entrariam em colapso...

Ainda o protesto ao Feira Nova

Há uns meses atrás fiz um protesto a uma campanha do Hipermercado Feira Nova que promovia a compra de produtos de limpeza dirigidos a mulheres e a meninas. Depois das respostas das várias entidades a quem enderecei o email, obtive por fim a resposta do Feira Nova:

"Exma. Senhora,
Acusamos a recepção do seu e-mail de 09 de Outubro, o qual mereceu a nossa melhor atenção. Relativamente à Campanha Comercial em questão informamos que, no que respeita à ideia criativa que lhe deu origem, não iremos pronunciar-nos,uma vez que a mesma não resulta da nossa autoria, sendo a marca Vileda quem melhor poderá esclarecer quais os pressupostos em que a mesma assenta. Todavia, e na medida em que a vossa reclamação nos é dirigida e a Campanha em causa estava em curso no nosso estabelecimento comercial, não podemos deixar de registar que lamentamos que a mesma tenha susceptibilizado alguma nossa cliente, facto que, de todo, não antecipámos. Do nosso ponto de vista, pretendíamos, apenas, comunicar com os clientes que, estatisticamente, nos são apresentados como aqueles que mais adquirem a grande maioria dos produtos que comercializamos, independentemente de virem a ser, ou não, o seu destinatário final. Daí o vector da comunicação ser a compra e não a utilização. Não podemos, pois, contemporizar com as intenções que nos imputam. Trata-se de uma mensagem acrítica e objectiva, dirigida a quem a estatística identifica como comprador. Tal mensagem não reflecte quaisquer comportamentos sociais, conteúdo para o qual sempre careceria de informação, ou, sequer, visa promover a composição das responsabilidades domésticas, função estranha aos seus propósitos estritamente comerciais. A intervenção desta insígnia junto da comunidade revela-se nos inúmeros projectos de Responsabilidade Social de que é mentora e dos quais muito se orgulha. Cumpre, por isso, a quem nos avalia, saber distinguir entre comunicação cívica e comunicação comercial, para bem da verdade. Para bem do respeito pelo exercício da cidadania.
Sem mais, de momento. Apresentamos os nossos melhores cumprimentos,
A Direcção Comercial de Feira Nova Hipermercados S.A.,"
Fica-me então a ideia que, para o Feira Nova, a comunicação cívica e a comunicação comercial são dois campos opostos, não devendo "para bem da verdade" cruzar-se entre si. Direitos, direitos, negócios à parte... Nada que não se esperasse, mas que mais uma vez confirma que ainda há muita pedra a partir para convencer o poder económico que este não pode estar desconectado dos direitos sociais.
Entretanto, a CIDM também mandou outra carta, mais esclarecedora (e sintética) do que a primeira.
Exma Senhora,

Li com atenção o seu mail ao qual passo a responder:
1. A promoção dos produtos de limpeza do Hipermercado Feiranova é uma situação que factual e directamente desconhecemos, mas que a corresponder ao que nos descreve, nos leva a partilhar a sua preocupação, parecendo-nos configurar uma situação em que está em causa não só a dignidade da mulher em particular e da pessoa humana em geral mas também a promoção da igualdade entre homens e mulheres, que são príncipios fundamentais consagrados na Constituição da República Portuguesa.

2. Nos mails que nos enviou verificámos que deu conhecimento do seu protesto contra a promoção dos produtos de limpeza do Hipermercado Feiranova, ao Instituto do Consumidor.

O IC é o organismo que recepciona e investiga as denúncias efectuadas por particulares, sendo também a este organismo que a CIDM, no âmbito das suas atribuições e competências envia, depois de devidamente analisadas, as denúncias que chegam ao seu conhecimento e que tal como a que nos transmitiu pareçam configurar situações em que é posta em causa a dignidade da mulher e a igualdade entre homens e mulheres.

3.Pelo referido, e dado que já transmitiu o seu protesto ao Instituto do Consumidor, aconselho-a a aguardar o resultado da investigação que vai ser efectuada, a qual terá sido desencadeada pela sua denúncia.

No entanto, e se assim o entender poderá fazer-nos chegar a documentação referente à citada promoção de produtos de limpeza, será a mesma analisada, e, de acordo com as atribuições e competências desta Comissão, consagradas no Decreto-Lei 166/91, de 9 de Maio, terá o encaminhamento adequado.

Com os melhores cumprimentos,
Resta-me agora esperar pela tão ansiada resposta do Instituto do Consumidor, que segundo me avisaram por telefone, não será para breve pelo acumulado de trabalho que têm.
PS: Tendo sido a Vileda a empresa responsável pela campanha, reenviei-lhes agora o protesto inicial, em edição revista e aumentada, e também fiz uma reclamação ao ICAP (Instituto Civil de Auto-Disciplina de Publicidade). Mais vale a mais que a menos!

11 dezembro 2006

Recapitulação

R. & S. ParkeHarrison, Sweep-layer, aqui
Só temos um rosto, um nariz, uma boca, uma língua, um queixo, um pescoço, um colo do peito, umas costas, um ventre, um estômago.
Temos duas orelhas, duas têmporas, duas bochechas, dois olhos, duas sobrancelhas, duas narinas; dois ombros, dois braços, dois cotovelos, dois pulsos, duas mãos, dois polegares; dois quadris, duas coxas, dois joelhos, dois calcanhares.
Temos quatro pálpebras e quatro filas de pestanas.
Temos cinco dedos na mão direita e cinco na mão esquerda. No total, temos dez dedos.
Temos cinco dedos no pé direito e cinco no pé esquerdo. No total, temos dez dedos dos pés.
Temos dez unhas nas mãos e dez unhas nos pés. No total, temos vinte unhas.

Marketing e promoção do blog

Compre 1, leve 8.

Agenda cultural

O filme Excursões de Leonor Noivo,vai passar 5ª feira dia 14, às 18h. Entrada livre.

Rua dos Bacalhoeiros 125 - 2º andar. Info: 218864891, bacalhoeiro@gmail.com

Pinochet morreu

E já foi tarde... É um dos seres humanos que nada de bom trouxe ao mundo no tempo que passou por esta vida.
Para os milhares e milhares de pessoas que desapareceram, foram mortas e torturadas no tempo da ditadura no Chile, ontem foi um dia feliz.

Para elas, uma música de Ruben Blades, cantada por Maná.


09 dezembro 2006

Pesticidas no Lidér


O supermercado LIDL, também conhecido como Lídér por estas múltiplas que tanto o frequentam, obteve a pior classificação num teste de verificação do nível de pesticidas em frutas e vegetais, realizado pela GreenPeace em 2005.
Várias ONGs europeias, entre as quais a Quercus de Portugal, escreveram uma carta e protestaram contra esta situação e na Alemanha já são visíveis algumas mudanças: este supermercado passou a utilizar produtos de agricultura biológica e de comércio justo. Em Portugal, pelo menos até agora, ainda não são conhecidas alterações, mas estou convencida que se cada uma das pessoas que costumam fazer compras neste supermercado deixarem uma pequena carta manifestando a sua(nossa) preocupação por esta situação, ou subscreverem a carta enviada pelas ONGs europeias, aumentam as probabilidades para que este supermercado tenha uma politica de controlo de pesticidas mais eficaz e menos nociva para o ambiente e para o corpinho destas suas clientas tão assíduas.

08 dezembro 2006

O sentido do blogue

- Estás acordada?
- Sim, estou.
- Pergunta difícil: porque se tem um blogue?
- Sei lá, por tantos motivos. Eu não tencionava ter um, mas desafiaram-me. Porquê? (se queres uma resposta mais elaborada também se arranja).
- Deixa lá, está óptimo assim.
- E tu? Porque criaste um blogue?
- O meu ajudou-me, a minha família ficou a conhecer-me melhor...
- Porque era uma maneira de comunicar com os teus amigos quando foste para aí, certo?
- Mas não sei qual o objectivo concreto, ou o que está por trás disso...
- Sei lá, para uns é um exercício um bocado umbilical, para outros uma terapia, para outros uma oportunidade profissional, para outros uma forma de exibicionismo... Podem ser tantos os motivos. E todos igualmente válidos.
- Pois...
- Mas se queres que te diga, também não destrinço o real significado.
- Deixa lá. Não é importante a razão, desde que ainda faça sentido.
- Sempre tive imensos lugares onde escrevia, mas que eram só meus e que não mostrava a ninguém. Aqui a coisa inverte-se: tem a forma de um diário porque se escreve mais ou menos - idealmente - com essa periodicidade. Mas passa-se da esfera privada para a pública.
- É isso que às vezes também me baralha: o público...
- No início não se está muito bem consciente das regras do jogo. E isto é giro, ver o texto, as imagens, dá uma certa euforia, posta-se, posta-se, posta-se compulsivamente, com gosto. Recebem-se as primeiras mensagens de apoio, os primeiros aplausos. Depois, não sei muito bem, mas quando o blogue sai da esfera dos amigos - os leitores primeiros - acho que há um recuo, uma inibição.
- Enfim, enquanto valer a pena. Contra os canhões, postar postar.
- Podes crer. Porquê a dúvida agora?
- Às vezes deixa de fazer sentido.

A propósito de antropólogos

Cartoon de Gary Larson, aqui e aqui.

07 dezembro 2006

Mudar de vida

Estou a pensar mudar de vida. Mochila às costas, um monte de livros e um pc com ligação wireless à net. Tempo para pensar, tempo para ler, tempo para escrever.
Se já não há pastores, inventem-se novos.


boa pergunta

- Qual é esse teu trabalho, mãe?
- Entrevisto pessoas que vieram de outros países para saber como é a vida deles cá.
- E para que queres tu saber isso? Para que queres saber a vida das pessoas?

06 dezembro 2006

O que já sabiamos (de novo) escrito em relatório da ONU

"Dois por cento das pessoas mais ricas do planeta repartem entre si mais de metade da riqueza de todo o mundo, enquanto 50 por cento da população mundial divide pouco mais do que um por cento, de acordo com um estudo das Nações Unidas."

A ler no Público ou no DN de hoje.

o mundo paralelo

hoje estou naqueles dias em que precisas de falar com toda a gente mas misteriosamente ninguém te atende o telefone.

Cafeína

Passo por uma loja que se chama "AVIÁRIO DE ALVALADE - artigos de pesca". Se calhar a cafeína ainda não me chegou ao cérebro. Experimento olhar para os objectos em exposição na rua: vasos de vários tamanhos, de plástico e de barro, e terra de todos os tipos.
Vou tomar a segunda chávena de café. Penso se devo convidar o dono da loja para um também.

manhã de quarta-feira

A academia é uma seca. A academia cheira mal. A academia vive da repetição das mesmas ideias disfarçada em palavras diferentes, do horror às ideias novas, do deslumbramento com as modas. A academia enche toneladas de papel com inutilidades, com rendas de bilros e com vénias mútuas.
E isto serve a quem?

A Case of You


Que querem, hoje deu-me para isto, é no que dá ler casos de amor... De um original de Joni Mitchell, a interpretação de Diana Krall. "I could drink a case of you darling /Still Id be on my feet/ Id still be on my feet".

Para o meu pai, que já cá não está para ouvir as minhas piadas, mesmo quando não têm graça.

05 dezembro 2006

Histórias de amor

O meu avô estava a passear no parque quando viu uma rapariga sentada num banco de jardim com a sua mãe. Pediu ao rapaz que estava com ele para ser apresentado àquela família porque tinha acabado de encontrar a mulher com quem se ia casar.

O meu outro avô começou a namorar com a minha avó aos 18 anos, ela tinha 13. A minha bisavó desaprovou a coisa, porque havia muita gente na família dela com tuberculose, e considerava que a minha avó tinhas pulmões fracos o que poderia afectar os futuros filhos. Namoraram às escondidas durante muitos anos, até que os meus bisavós se habituaram à ideia e eles casaram.
Quando o filho mais velho teve uma primo-infecção a bisavó aproveitou para dizer “eu não te disse?” ao que o meu avô terá respondido “eu gosto muito dela, não a trocava por nenhuma do mundo”. A minha avó só soube disto depois de ele morrer.

Os meus pais conheceram-se num verão nos anos 60. O meu pai tentou fazer-se de interessante pondo-se num canto a fumar um cigarro com ar de matador, a minha mãe achou que ele era parvo. Quando ele finalmente perdeu a timidez e se sentou com ela a conversar nasceu o amor que haveria durar até à morte.

Pode-se racionalizar o amor de milhares de maneiras diferentes, justificar friamente porque é que gostamos de quem gostamos - mas isso só é possível depois de já estarmos apaixonados, quantas vezes ficamos frustrados por não gostarmos de quem aparentemente seria perfeito para nós e perdermos a cabeça por alguém que parece errado em todas as moléculas do seu ser.
Está-me cá a parecer que o amor é mesmo um não sei quê, que aparece vindo não sei de onde com uma intensidade que não se sabe porquê. (amigo Luis Vaz, desculpe lá a paráfrase).

03 dezembro 2006

Obscurantismo


Encontrei esta “jóia” num blog. A ignorância e o obscurantismo não deixam nunca de me surpreender, mas enfim, cada um/a faz o que melhor lhe aprouver. Só posso garantir que em todos estes anos ainda não tenho pêlos nas mãos nem sinto o organismo debilitado ou a personalidade bloqueada.

Inclusão social, talvez um dia...


Imaginem-se sair à rua sendo invisuais ou andando em cadeira de rodas, por exemplo. Imaginem a entrada para a escola, o visitar amigos, ir às compras no supermercado, tentar conseguir um emprego, escolher uma casa para morar, encontrar todos os dias com pessoas comuns que não sabem como lidar com pessoas com deficiência. As barreiras para uma vida digna são muitas, ao nível do emprego, da segurança social, da mobilidade no espaço físico.

Estima-se que cerca de 10% da população da UE, num total aproximado de 38 milhões de pessoas (45 milhões na Europa dos 25), deve ser considerada como portadora de deficiência(...) Da categoria de pessoas com deficiência fazem parte todas as pessoas que, por atitudes, preconceitos e barreiras existentes na sociedade, são impedidas de usufruir das mesmas possibilidades que qualquer outra pessoa. Existem, por conseguinte, várias categorias e formas de deficiência que levam à constituição de um grupo inteiramente heterogéneo de pessoas com problemas motores, visuais, auditivos, mentais/cognitivos e psíquicos. As barreiras com que estas pessoas se vêem confrontadas na sociedade variam não apenas em função da sua deficiência como também da sua idade e género, localização geográfica e outros factores.

Hoje comemora-se o Dia das Pessoas com Deficiência e segundo o Publico e o DN de hoje, a Associação Portuguesa de Deficientes (APD) considera não haver "quaisquer razões para comemorar" tendo em conta a existência de "retrocessos consideráveis no processo de inclusão social". A APD afirma que "o panorama da situação actual e do futuro próximo não podia ser mais desolador", nomeadamente a nível da educação, do emprego, das prestações sociais e das barreiras físicas e de informação nas ruas e nos edifícios públicos. A associação critica igualmente "o fim anunciado dos benefícios fiscais", previsto no Orçamento de Estado para 2007, que se prevê abranger 39 mil pessoas, alegando que "muitos trabalhadores com deficiência não serão capazes de fazer face às despesas que decorrem das desvantagens sociais que enfrentam".

A panóplia de deficiências é ampla e qualquer um de nós pode ser afectado. Custa-me pensar nisto e no quão afastados estamos ainda de uma verdadeira inclusão social. Talvez um dia deixemos de olhar a deficiência com tanto medo ou vergonha e aprendamos a relacionarmo-nos com ela de uma forma mais tranquila e propositiva. E talvez um dia os programas de Governo se preocupem mais em aumentar e não em diminuir as oportunidades das pessoas com deficiência para que estas, e as suas familias, possam viver em condições de dignidade e sem discriminação.

Auxiliai-me

Na verificação de palavras para introduzir comentários aparece um símbolo de deficientes motores ao lado das letras a escrever no espaço em branco. Parti do princípio que seria para deficientes visuais, mas que por um qualquer motivo decidiram englobar as deficiências em geral sentando alguém numa cadeira de rodas.
No outro dia decidi carregar nesse símbolo, e saiu-me na rifa uma coisa alucinante. Em fundo tinha uma voz masculina a fazer sons repetidos, como se estivesse a recitar o alcorão, e em primeiro plano uma voz feminina com sotaque brasileiro a soletrar a uma velocidade para deficientes mentais as letras que por ali passavam. Quando chegava ao fim dizia "de novo" e lá ia tudo outra vez.
Para além de umas gargalhadas bem dadas, fiquei com algumas dúvidas: se os deficientes visuais não vêem bem as letras da verificação de palavras, como é que conseguem ler os blogs? Porque é que há uma voz como som de fundo? Porque é que soletram como se os amblíopes não soubessem onde estão as teclas? É que se leram o post e escreveram comentários, decerto conhecem o teclado.

Post-it



Baseado num quadrro de Ana Jotta, algures em 1980, aqui.

a pedido de várias famílias

eliminou-se a boçalidade.

02 dezembro 2006

Target: USA

Durante um dia inteiro, a CNN fez um levantamento de todas as situações em que poderiam ocorrer ataques terroristas nos Estados Unidos, programa a que deu o nome de: «Target – America».
Jon Stewart, do Daily Show, dá-nos os pormenores. Ver o video aqui

01 dezembro 2006

Astigmatismo



O astigmatismo pode desfocar os dias e enevoar a existência.

Arte em mim

Nunca tinha olhado para o meu ânus. Não sei se algum de vocês já olhou para o próprio, mas depois da experiência desta tarde é coisa que não aconselho, pois vivia muito bem na ignorância.
O caso é que ao reparar numas manchas de sangue não esperadas durante actividade na retrete, decidi virar-me para trás e abrir as bochechas do rabo. O que vi deixou-me traumatizada. Descobri que tenho pêlos, mas não são assim uns pelinhos ou uma penugem, são pêlos mesmo, pretos e compridos, para aí de 4 cm. Um horror. Percebi que de facto aquilo que nos separa dos chimpazés não pode ser muito mais que um gene ou dois.

O que significa que para além de depilar as pernas, as virilhas, as axilas, o buço e as sobrancelhas agora terei também de me pôr de 4 e deixar que me espalhem cera quente no rêgo, seguido do horripilante puxão rápido para acabar com o triste espectáculo.

É que desde que me mandaram as fotografias da nova exposição de Serralves fiquei mais sensibilizada para a estética do fundo do rabo



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