31 março 2007
Qualquer tarado é um publicitário em potência
30 março 2007
Sobre a Natureza das Coisas
Já cá faltava um espaço destes. Depois do grande 'espalhanço' de 'O Público' nas suas novas opções editoriais (é concebível que tenham extinguido o suplemento 'Mil Folhas'? E que a Laurinda Alves tenha uma página inteirinha - à 6ª feira - onde mais não faz do que escrever banalidades? O novo grafismo nem sequer é merecedor de comentário...), parece que desta vez acertaram nos convites endereçados ao colectivo que ali escreve.
(Obrigada Cassiel, bem sei que é o segundo 'linkanço' esta semana...)
Ainda de doutores e engenheiros
A propósito de senhores engenheiros, lembrei-me de uma história verídica que sempre me faz sorrir. Quatro irmãos, entre os 18 e os 20 e tal anos estavam animadamente a brincar aos carrinhos de rolamentos numa calma rua de um bairro de Cascais. Aparece uma senhora fardada de "criada de serviço" e com um tom algo ríspido, diz-lhes: Importam-se de fazer menos barulho? É que o senhor doutor quer descansar. Vira-se o mais velho dos irmãos, há já algum tempo licenciado e responde-lhe: Ai é? Pois diga-lhe que o Sr. Engenheiro quer brincar de carrinhos de rolamentos.
Titulocracia
Direitos por linhas tortas
A água continua a passar por baixo da ponte...Há uns tempos falou-se por aqui no povo cigano e nas dificuldades de integração que existem entre este e os não ciganos. A solução encontrada pela Câmara Municipal do Porto para "integrar" a comunidade cigana de Bacelos num processo de realojamento que considera urgente, revela nitidamente abuso de poder ao não considerar as características étnicas e os interesses desta comunidade na toma de decisão sobre esta situação. É um exemplo práctico de como o poder político, neste caso a Câmara Municipal do Porto, se sobrepõe aos direitos desta comunidade, e vai contra as orientações de outro poder político, a Segurança Social. Leiam mais aqui.
29 março 2007
La Maldita Primavera
Para a Z., querida amiga del alma, de viagens e de muitas primaveras partilhadas e por partilhar. Venham elas como vierem, estamos cá para recebê-las de braços e coração abertos...
PS: Ao ver este vídeo percebi por fim a razão do histerismo dos amigos de Bogotá ao ouvir esta música na festa dos vizinhos. Imagina se a nossa vizinha do lado desse uma festa e pusesse as Doce em altos berros? É lindo!!
Borboletas
"Keep you fingers out of my eye. While I write I like to glance at the butterflies in glass that are all around the walls. The people in memory are pinned to events I can't recall too well, but I'm putting one down to watch him break up, decompose and feed another sort of life". [Genesis, The Lamb Lies Down on Broadway].
French Kisses
Plus je t'embrasse / Plus j'aime t'embrasser! / Plus je t'enlace / Plus j'aime t'enlacer! /Le temps qui passe /Ne peut rien y changer: Mon cœur bat / Quand tu t'en vas / Mais tout va bien / Quand tu reviens {Car...} / Plus je t'embrasse / Plus j'aime t'embrasser! / Je ne peux m'en lasser / Et j'en ai tell'ment envie / Que j'oublie tout dans la vie... / C'est insensé / Ce que j'aime t'embrasser !
28 março 2007
O saco preto
Chega a casa. Senta-se no sofá, leva as mãos à cabeça e apoia-as nela durante minutos que parecem uma eternidade. Acende um cigarro e apaga-o logo a seguir. Ganha coragem e resolve finalmente abrir o saco: tira o conteúdo de dentro do mesmo e dispõe os objectos um por um em cima da mesa em frente ao sofá, num alinhamento perfeito:
- uns óculos
- umas chaves de casa
- uma carteira
- um livro marcado a meio
- um rádio
- uma moldura com o retrato dos filhos
- um lenço de bolso
- uma máquina de barbear
- um necessaire com produtos de higiene
Desbobra a roupa e o pijama e chega-a perto de si. Cheira-a e sente o odor familiar. Fixa então a atenção nos objectos que lhe parecem sorrir tristemente: os óculos que não lerão o livro que já ia a meio, a carteira (que não ousa abrir por lhe parecer uma invasão de privacidade), o rádio que não tocará as mesmas estações, as chaves que não abrirão nunca mais a porta de casa.
Coloca todos os objectos dentro de uma caixa e sela-a com fita adesiva. Vai ao sotão e arruma-a lá. Guarda apenas consigo os óculos. Põe-os no rosto. Por momentos julga ver-se de mão dada, com ele, em direcção a casa. Tira os óculos, que continuam a sorrir tristemente para si, e arruma-os na cómoda. Sai de casa e desce a rua, com o som dos passos a baterem no chão de macadame e a ecoarem-lhe nos ouvidos. Não ouve mais nada, só aquele som: clac, clac, clac.
27 março 2007
A simple twist of Faith
Para a I., em período de Quaresma, uma entrevista a M. Scorcese sobre o filme The last temptation of Christ (1988).
26 março 2007
Vergonha nacional
História para uma 2ª feira*
No dia seguinte a papelada estava pronta.
* História lida (e rida) aqui. Obrigada, Cassiel!
24 março 2007
Filha de fim de semana
Na livraria
Deve ver mal, pensei. Um pouco mais profunda e até envergonhadamente, como se o fizesse em voz alta, acabei por pensar que talvez fosse daqueles que fazem sempre de conta não verem os demais.
A empregada - O senhor?...
Eu - Desculpe, talvez o senhor não tenha reparado, mas eu já aqui estava.
O senhor com ar distinto - Então o livro fica aí e eu volto depois.
Quão fácil é percebermos quem somos...
23 março 2007
Continua a primavera
- Olá mãe, então como correram os exames?
- Tenho más noticias, tenho um tumor de 12 cm, vou ser operada na próxima semana.
- ...
Allwhat?
Sem vontade para levantar o traseiro do sofá, zapei ao jeito da minha cara metade mas nada de interessante se passava. Eis que o relógio da SIC NOTICIAS anunciava 23h59m. Boas notícias! Algo de nutritivo para a mente se iria passar. E asseguro-vos, minhas caras, não haver série Britcom de melhor nível. Há muito, talvez desde que uma operação ao apêndice me levou a fundir-me com o sofá de uma amiga, que não assistia a momentos televisivos tão hilariantes e de crivo nacional. Então, era Serenella e o seu "Casa Cheia" que fazia as minhas delícias. Enfim, efeitos de anestesia...
Primeiro bloco - notícias nacionais. Era mais ou menos este o alinhamento. O escândalo no CDS tendo como música de fundo alguns impropérios que uma senhora insistia em fazer ouvir e Paulo Portas no seu melhor, o olhar acusando a imensa vontade de rasteirar Ribeiro e Castro mas, ainda assim, optando por deixá-lo passar e cumprimentando-o de forma afável. Notícia seguinte, que todos há muito esperávamos e, até, ansiávamos: Santana Lopes diz que quer voltar e que o senhor Mendes não tem capacidade. De imediato nos é dado a saber que o senhor Mendes discorda, afirmando que tudo é mentira, desde os projectos feitos e dados a conhecer para a OTA até à sua incapacidade. Vai mesmo mais longe e afirma sentir-se muito bem! Ainda bem... Surge então um Primeiro Ministro, como sempre, incisivo e de dedo espetado (porquê?) que revela à nação que um país que não investe na educação não é país que se preze e que não está virado para o progresso. A sério?! E tudo culmina com um ministro sardento e sorridente que anuncia a venda a retalho desta nossa manta a alguns estrangeiros interessados numas quantas parcelas. Deste modo, Allgarve é já uma realidade a que se seguirão outras já que temos a possibilidade de fazer o trocadilho também com o ALLentejo e de prosseguir com a região turística do Faroeste, que inclui muralhas de Óbidos e Caldas da Rainha.
Foi então que o bloco noticioso internacional lembrou que, lá fora, o mundo pula e avança e digladia-se séria e ferozmente.
Adormeci.
22 março 2007
A espera
Uma manhã primaveril
- estou no metro, tenho de ir à agência pagar o seguro do carro.
- tens mesmo de fazer isso agora?
- sim, estou sem seguro do carro há 3 semanas, já não posso pagar por multibanco, tenho mesmo de ir lá. Porquê?
21 março 2007
Prima Donna
A poesia está onde quisermos!
Descubram tudo aqui.
Que bom haver lugares assim!
20 março 2007
19 março 2007
Do além
Perguntar não ofende?
- o seu avião já aterrou?
A primeira vez
Para nos distribuirmos entre os vários carros e partirmos juntos pela estrada fora combinámos no Cais do Sodré pelas 10h30 e daí partiríamos para o idílio campestre. Saio de casa com uma amiga, passamos a buscar outro na Almirante Reis, e quando descemos pela baixa encontramos todas as estradas fechadas para nos dirigirmos ao sítio marcado. Sem perceber o porquê de tanta comoção, páro, baixo a janela e interrogo o senhor agente da autoridade. É a maratona, diz-me. Se quero apanhar a ponte 25 de Abril tenho de ir ao Marquês, ao Cais do Sodré só chego se for a pé.
Telefonemas para cá e para lá, mudamos o ponto de encontro para Santa Apolónia, onde conseguimos todos chegar em quatro rodas.
Chegados lá vemos que os corredores andam ufanos para a frente e para trás pela avenida marginal, saímos do carro e ficamos a vê-los passar enquanto fumamos o primeiro cigarro do dia. Como alguém decide passar a sua manhã de domingo a correr 42 Km é coisa que nos ultrapassa, que já sonhamos com a sesta à sombra de um chaparro.
Um dos amigos que vem de carro da linha de Cascais avisa-nos que, ao contrário da informação dada pela PSP, todas as entradas para a ponte 25 de Abril estão cortadas, e que nos vai buscar ao Lux para seguirmos pela Vasco da Gama. Olhamos para o panorama que se estende à nossa frente e concluímos que vamos ter de atravessar as duas vias da maratona para chegar ao seu carro.
A primeira faixa afigura-se-nos fácil; basta corrermos no mesmo sentido que os maratonistas e irmos guinando para a direita. Este grupo improvável de corredores junta-se então aos demais e chegamos ao separador central; metade está feito.
Para atravessarmos a segunda faixa terá de ser contra a corrente, o que dificulta um pouco o nosso movimento. Olho para os homens e mulheres de número ao peito, suados e cansados, uns de bigode outros de boné, alguns de ipod. Olham para nós, incrédulos em relação às nossas intenções. Agarro bem a mousse, seria uma desgraça deixá-la cair e partir uma perna ao etíope de turno que teria o azar de escorregar por cima da delícia de leite condensado e vitamina C.
Encho-me de coragem e velocidade, eles não param tenho de me fazer à vida e lá vou eu voando entre a massa.
Conseguimos passar incólumes e sem provocar qualquer entorse aos estafados participantes, a polícia ignorou-nos olimpicamente e a banda que tocava Xutos & Pontapés com umas colunas a sair de um camião continuou impassível à nossa presença.
Foi a primeira vez que participei numa prova desportiva. Fiquei emocionada.
Como é possível?
"Nos últimos dias, as mensagens de ódio racista proliferaram nas paredes da Faculdade de Letras. “Portugal aos portugueses” ou “Fascismo é solução” são algumas das frases escolhidas pela extrema-direita para a sua propaganda e ameaça. Também não faltaram as “chamas” do Partido Nacional Renovador (PNR). Pelo caminho, foram destruídos todos os murais ou outro tipo de comunicação (das mais diversas organizações) entendida como “comunista” – o facto era assinalado pelos próprios censores, ao lado das “emendas” efectuadas.
Ora, hoje alguns estudantes da faculdade, em conjunto com a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP), decidiram-se por uma acção pública: pintar um mural contra a ameaça do racismo e da violência.
A verdade é que o mural não foi terminado, porque a polícia não o permitiu. Ainda mais preocupante é o facto de hoje se terem juntado, numa atitude claramente ameaçadora, com todo o à-vontade, várias dezenas de skins na faculdade de Letras. A mensagem era clara: ameaçar, condicionar, amordaçar; impôr a cultura do medo, à custa da impunidade – basta dizer que se deram ao luxo de tirar fotografias a todas as pessoas envolvidas na pintura do mural! E isto, “nas barbas” da polícia, que esteve sempre mais ocupada a impedir que o mural chegasse ao fim!
Tendo em conta estes preocupantes acontecimentos, o SOS Racismo gostaria de deixar claro que:
1 – Este novo “palco” para os skins representa uma importante ameaça, que deve preocupar toda a comunidade escolar. Não é possível aceitar que esta realidade se torne “normal” ou “aceitável”.
2 – Infelizmente, as respostas de quem tem responsabilidades deixam muito a desejar. Já no ano passado, quando o SOS Racismo alertou o Conselho Directivo, em reunião a nosso pedido, para o crescimento da extrema-direita dentro da faculdade e o perigo que isso representa, este órgão não revelou nenhum interesse pelo assunto. E hoje, o Conselho Directivo da Faculdade de Letras apenas se mobilizou para proibir a pintura do mural de hoje, mas nunca demonstrou preocupação com as mensagens de ódio dos skins. Esperamos não ter de ouvir este órgão, no futuro, lamentar a violência e o ódio na faculdade, quando podia e devia ter-se interessado a tempo!
3 – A impunidade com que foi possível hoje, na presença da polícia, várias dezenas de skins fazerem a sua demonstração de força é um sinal muito inquietante. Não parece normal que a PSP tenha “convidado” a retirar-se quem pintava o mural, mas tenha deixado cerca de 50 skins no interior e nas imediações da faculdade, em pose ameaçadora, bebendo cerveja, fazendo uma espécie de “guarda” a um dos bares da faculdade, enquanto ia distribuindo panfletos.
4 – Fica, mais uma vez, clara a ligação entre o movimento skinhead e o PNR!
5 – O SOS Racismo vem há muito alertando para o perigo e a impunidade que caracterizam o crescimento da extrema-direita em Portugal. Para estas pessoas, a violência e o ódio são a dimensão essencial da política. Quantas mais vítimas serão necessárias para que se desenhe finalmente um combate a esta triste realidade?
6 – Em pleno “Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos”, em que vão abundando os discursos de circunstância sobre igualdade e a necessidade de combater as discriminações, seria mais útil ver quem tem responsabilidades empenhar-se no desmantelamento desta rede criminosa – tráfico de armas, de droga, “cobranças difíceis”, violência frequente, etc. – de ameaça, ódio e morte.
Pelo SOS Racismo,
Human(a)
Sabe bem voltar a ouvir os temas que fizeram parte da (minha) adolescência. Human League era uma das minhas bandas fétiche por volta dos meus 13 anos. E hoje, dia em que me sinto infra-humana, esta música vem mesmo a calhar. E vivam os anos 80!
Cenas da vida conjugal (I)
- [Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.....]
16 março 2007
História de uma viagem entre duas quase cidades
Chego cá fora e pergunto a uma senhora: "porque é que não faz uma reclamação e pede o reembolso do bilhete?". Ela respondeu-me: "Ó menina, é que eu não sei escrever".
15 março 2007
14 março 2007
A minha Parede*
Vista da Marginal, com antigo Sanatório da Parede, ao fundo.
Assim chegou a família do meu pai à Parede.
Esta é a minha Parede, daqui, de mim.
*este post é para o -pirata vermelho.
13 março 2007
Uma inverdade conveniente
Foi mostrada uma gota de água, apresentada como sendo "uma molécula". De seguida, a imagem de um cristal de água que seria o que teria acontecido à dita cuja depois de uma amena cavaqueira: estava a sorrir. Queria com isso demonstrar que se as moléculas de água sorriem com dois dedos de conversa, e sendo nós constituídos por 70% de água, basta falar às pessoas para que elas sorriam.
Telejornal com filho
- É o adjunto do ministro.
- O que é que isso quer dizer?
- Quer dizer que é o braço direito do ministro.
- E quem é o braço esquerdo?
12 março 2007
O trabalho liberta
Os dias da rádio
Mais tarde, fazia-me ouvir as comunicações entre navios. Houve um dia em que sintonizámos as emissões da Rádio Galo Negro (de Savimbi), em pleno período de guerra. Soube certa altura, numa conversa, que sabia as frequências para ouvir conversas entre telemóveis, na altura em que estes apareceram. Um dos meus irmãos insistiu com o meu pai para que ele as revelasse. Nunca o fez, era um homem de princípios.
Hoje, num passeio pelo bairro onde moro descobri uma loja de 'reparações de todo o tipo de material eléctrico e electrónico'. Entrei na loja e vi um senhor por trás de um balcão que conversava com outro, por entre uma profusão de - sobretudo - televisões.
- Boa tarde. O senhor conserta aparelhos de rádio?
- Depende da marca, mas traga-me o aparelho que eu logo vejo o que posso fazer.
- Bom, na realidade tenho dois aparelhos de rádio: um muito antigo, que gostava tanto de ver recuperado.
Os olhos do senhor brilharam:
- Como é o aparelho? É de madeira?
- Sim, de madeira, com uma rede à frente e a válulas.
- Ena, esse deve ser dos bons! [fala-me de uma série de marcas, as quais não retenho os nomes]. Traga, traga que tenho para aí umas válvulas e logo vejo o que se arranja.
- Tenho também um aparelho - esse mais moderno - digital. Não sei porquê não liga, não me parece que seja a fonte de alimentação. Noutras circunstâncias tê-lo-ia deixado assim, não lhe ligaria mais, mas foi o último rádio que o meu pai comprou e tenho-lhe uma estima especial.
11 março 2007
Lei de Murphy - teoria e prática
O tempo do já
10 março 2007
Meia lua de sorriso (e um adeus)
Perigo de Vida
É grande o risco da palavra no tempo
maior mesmo talvez que no mar
Eu fui a margem do dia despedir um amigo
e não houve no cais
iniciativa verbal que edificasse
uma só tenda para o nosso coração
Éramos peregrinos
que deixam a saudade de turistas
ausentes na rua de Outono
Morríamos contra a curva dos dias
a morte rotativa e provisória
Tivesse a própria palavra lábios
e nenhum clima poderia
arrefecer-lhe o coração
Tivesse ela lábios e não seria
tão grave o risco no tempo e no mar
Ruy Belo
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09 março 2007
Três viagens
A segunda: fim do dia numa Lisboa caótica. Um taxista redondo, de nuca rapada, explicou-me que há 32 anos guiava um táxi. Um gajo aprende a lidar com os bandidos. No meu carro nunca entram pretos nem ciganos.
A terceira: três da manhã guiada por um taxista brasileiro. Chegou há seis anos casado, agora está sozinho. É muito duro estar longe, por isso volto ao Brasil todos os anos. Só no ano passado não fui. Perdi o meu pai e perdi a coragem.
El miedo global
Eduardo Galeano
El lenguaje
alegrias da maternidade
O dia em que eu matei um frigorífico em Granada (parte I)
A decisão estava tomada, nada de hesitações e de voltar atrás: empunhei uma faca de gume bem afiado (daquelas que brilham na ponta, como nos desenhos animados) e dirigi-me ao local onde teria de executar, sem dó nem piedade, o desalojamento de várias criaturas.
[rewind]
É Junho e fazem mais de 40º lá fora, à sombra. Moro em Granada (Andaluzia, sul de Espanha), num bairro periférico chamado 'Zaidin'. Maldita a hora em que me precipitei no aluguer desta casa. Devia ter sido mais perseverante e escrupulosa na procura do cubiculum vitae: por exemplo, podia ter insistido nos bairros de 'Albaicín' ou 'Sacromonte' (oh, so fashion & typical!). Mas não: o dinheiro falou mais alto. 35 mil 'pelas' por mês e tens aí um T3 todo mobilado (é melhor passar à frente a descrição da mobília, duvido que as alminhas mais sensíveis resistissem ao que para ali ia). Ok, vejamos o lado positivo: neste bairro, as 'tapas' são extra-large, a acompanhar as cañas. Mas creio que é tudo. Caraças, pode uma dose de boquerones bem servida servir de desempate ou escolha quanto a um bairro? Naaaaa... Erros meus, má fortuna, etc.
Adiante. Amanhã tenho que preparar um jantar português (porque insistem em pedir-me estas coisas? Eu, que nem cozinho assim tão bem...) e para tal tive que me ir abastecer de víveres e outros que tais. O problema é SÓ este: esta malta bebe cum'ó camandro e eu preciso de espaço livre no congelador, sobretudo para gelo. Mas espaço é coisa que não há. Não há espaço livre por uma razão muito simples: desde que fui morar para o Zaidin, o frigorífico e respectivo congelador albergam toda uma família de esquimós e toda uma colónia de pinguins. Se abrir a porta do congelador e olhar bem lá para dentro, lá os vejo, todos contentes, nas suas tarefas mundanas: a pescar peixe, a tomar os seus banhos... Observo os mergulhos, reparo nas fogueiras onde assam o peixe... Assim não pode ser! Afinal quem é que manda aqui? Já falei a bem, já falei a mal, fiz ultimatums vários: Nada... E as rendas que me devem? Pois é! Olha, é hoje! Mostra-lhes lá que és descendente daquele lusitano maldiposto - o Viriato - e que tens séculos e séculos de resistência a Castela. Sim, mostra-lhes que és uma portuguesa!
De faca em riste, dirijo-me ao refrigerador e começo a apunhalar a parte superior, dando início à árdua tarefa de desincrustrar as camadas neolíticas de gelo. Pumba, pumba, pumba, até que... pfffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff...
[Pffffffffffffffff (penso - e ouço- eu)? Ó c'um caraças, queres ver que isto deu barraca? O que aconteceu? SERÁ QUE MATEI O FRIGORÍFICO?! Ah pois quer-me parecer que sim! Só ouço pffffffffffffs por todos os lados... Ai, ai, ai, e agora? Ponho o ouvido perto do buraco e descubro a malfadada origem do pfffffffff. Coloco o dedo indicador no sítio por onde se escapa o fréon e o ruído cessa. E agora, camandro? Não posso continuar assim e aqui, o dedo congela e depois? Já sei, vou comprar uma cena de silicone ali a uma loja que conheço a ver se serve de remendo. Saio de casa e abasteço-me do dito. Coloco uma porção generosa de silicone no identificado buraco. Estou quase a suspirar de alívio (já para não falar em transpirar), quando começo a ouvir: pfffffffffffffffffffffffffffffffff... Novamente...
08 março 2007
História de uma tragédia mansa
Inquietação
Mais uma vez JP Simões, interpretando o tema de José Mário Branco 'Inquietação', encontrado aqui.
No ano em que ambos fazemos 37 anos, esperemos que 'mais vivos que mortos', tal como JMB em FMI, apesar das nossas sempiternas inquietações. "Porquê não sei, porquê não sei, porquê não sei ainda... (é que há sempre qualquer coisa a acontecer...)".
07 março 2007
Actualizações
06 março 2007
jogo aberto
05 março 2007
Lições do abismo*
- Ó bacana! Vfiuuuuu, vfiuuuuuuuuu…
[Olho em todas as direcções à procura do grito e dos assobios. Que porra, estou a ver cada vez pior, de facto não vejo um corno, tenho mas é que me concentrar no som. Mas de onde é que ele vem? Olho e volto a olhar e volto a olhar…]
- Ó chavala! Aqui, pá! Não me ‘tás a ver? Ouve lá, trouxeste o que te pedi no outro dia?
[Eeeeeeeeeeh. Não posso acreditar, o Gustavo, era o que mais me faltava…Seja. Avanço na sua direcção]
- Então Gustavo, tudo bem? ‘Tá-se? Epá, desculpa lá, mas ando aí com uns desatinos com um mitra de um vizinho que me tem dado cabo da paciência e ainda não tive tempo para nada, nem sequer para tratar das minhas cenas… ‘Tou mesmo fodida… Desculpa, mas ainda não te pude desenrascar, estou em falta contigo…
- Ouve lá, mas quem é o bacano que te anda a melgar? Queres que vá lá dar-lhe uns aplicativos? Hum? Quem é o caramelo? Diz lá, que eu vou lá com uns chavalos e tratamos da saúde ao gajo…
- Caga nisso Gustavo, eu sou da paz. Não quero cá mais confusões, já sou crescidinha e desenrasco-me sozinha. E para inferno têm-me bastado estes últimos dias. Aliás, tu já deves saber da cena com o meu ‘sócio’…
- Pois é, miúda, tu metes-te em cada uma… ‘Dasse…
- Diz o roto ao nu! Olha, caga nisso…
[Reparo então no braço dele, que vai esfregando vigorosamente, um risco de sangue vai percorrendo o antebraço, ao mesmo tempo que as pálpebras vão cedendo à lei da gravidade]
- Gustavo, foda-se, o que é que combinámos, porra? Que merda é essa aí no teu braço? Ó caralho, vou ter que chamar o 112! Olha o teu estado, meu!
[Gustavo levanta os olhos, de um verde líquido e translúcido e sorri]
- Epá, acabei de dar uma ‘mista’, sabes como é, o vício é como uma amante: leva-nos a puta do tempo, do dinheiro e da saúde…
- Ia, muito bem visto! Ao ponto de empenhares a tua vida, a tua família – e aqui nem sequer estou a falar dos teus pais – estou a falar da tua mulher e das tuas 2 filhas pequenas, da puta de toda a merda de oportunidades que tens tido e deitas fora? Foda-se, também eu começo a perder a paciência… Ouve lá, estás branco! Onde é que fizeste essa merda? Partilhaste a ‘bomba’ com alguém? O que é que meteste?
- Caga nisso, chavala… Foi só meia de cavalo e meia de branca, ‘tá-se… Foi ali com o F. mas o gajo disse-me que estava ‘limpo’. Aquela merda ardeu na carica para os dois e pronto…
- SÓ?! Porra que não sei como é que estás vivo. Desculpa a franqueza… Essa merda levava qualquer outro ao tapete. Se ainda te aguentas em pé, tens mas é que ver essa merda como um sinal… Porra, nem que seja pelas tuas filhas, pensa nelas…
- Ia, elas são lindas, penso nelas todos os dias e choro, choro com saudades dela e da minha mangolé… São tão lindas, tenho tantas saudades delas… Mas a porra deste vício é mais forte do que o meu amor… [Pausa] Miúda, tu és uma bacana, gramo de ti, sabias? Esta merda do cavalo e da branca é que tiram a pica toda, senão… De qualquer maneira, sabes que não deixava que ninguém te fizesse mal, não sabes? Vem-me cá contar mais cenas dessas que eu digo-te…
- Gustavo, anda ali limpar essa cena, olha o hematoma que tens, ainda te entopes todo e aí é que já não vês ninguém, nem sequer a mim... E aí é que não te posso desenrascar de todo.
[Numa casa-de-banho, faço o curativo possível]
- Agora vai dormir. Já estás com a broa, q.b. Amanhã falamos. Venho aqui ter contigo à mesma hora.
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Epílogo - No dia a seguir encontrei-me com o Gustavo – nome fictício - e desenrasquei-o, tal como estava combinado. Nunca mais o vi. Penso nele muitas vezes. Uma vez tive este sonho: tinha entrado num num programa de recuperação e tinha-se safado. Resgatou a confiança da família e voltou a viver com a mulher e com as duas filhas, que entretanto voltaram de África. Gustavo trabalha para uma associação que lida com seropositivos e toxicodependentes. Somos amigos até hoje. Ainda me chama ‘miúda’ (embora já não queira prestar contas com todos os que se atravessam no meu caminho).
Imortalidade
02 março 2007
E se o Che Guevara fosse feio?
Por muito que não se queira, a beleza é um factor muito importante na aproximação dos outros. A beleza é muito poderosa. Pode fazer toda a diferença na mitificação de pessoas, seja na vida privada ou pública.
Por acaso, o escritor é mesmo muito bom; não sei é se alguma delas chegou a perceber isso.
Foi por isso que recebi com grande alegria um telefonema de uma dessa mulheres, ao descobrir o prazer estético-lúdico-sensual na apreciação de homens com corpos harmoniosos e caras agradáveis, numa época em que esteve muito perto (sortuda) de vários espécimes atraentes. "Percebo-te". Não há nada como o empirismo.
01 março 2007
Cantam (algumas d)as nossas almas
E que melhor presente que comprar um cativo para ir à catedral?