Quando se tem um emprego, dizem-te que tens que cumprir pelo menos 7 ou 8 horas laborais(contudo, posso dizer que é raro encontrar quem não trabalhe mais que as horas estabelecidas pela lei). Se dormirmos 8 horas como é recomendado pela OMS, ficam 8 horas das 24 que estipulámos como as horas de um dia. É bastante provável que levemos 2 horas em transportes para irmos trabalhar. Ficam 6. Se dedicamos, mínimo dos mínimos, 3 horas por dia aos ofícios domésticos, e ressalto que isto é todo um mundo que vai desde acompanhar os filhos e filhas ou outras pessoas a nosso cargo, nas suas variadíssimas necessidades, a fazer as tarefas domésticas (lavar roupa e louça, cozinhar, limpar, arrumar, pagar contas, fazer compras, etc, etc, etc.) sobram-nos menos de 3 horas para estar com o nosso companheiro ou companheira, com os amigos e amigas, ter uma vida política e construir o país em que vivemos, ter hobbies, namorar, ir ao cinema, comer um gelado, não fazer nada, masturbar-te tranquilamente sem que nada te interrompa, entre outras actividades que temos os humanos. Tudo isto claro, se contamos com alguma “sorte” e não temos que ter mais ou dois trabalhos remunerados para poder ajustar o orçamento doméstico ao estreito molde da sobrevivência quotidiana.
Tem graça fazer contas à vida e ao tempo, ver a impossibilidade de estruturar a vida da forma como foi pensada para nós por este sistema económico e político em que vivemos, e por nós também, pois de alguma forma aí estamos e contribuímos para as mudanças ou estacamentos sociais. Tem graça ver a quantidade de actividades que temos que comprimir no limitado tempo que nos sobra depois do trabalho remunerado. E ainda nos sentimos culpados por não tempo.
Trabalha-se para ganhar a vida e gastamos a vida que ganhamos a trabalhar para ganhar a vida.
A que horas nos deixámos convencer que as contas ao tempo não podem ser feitas de outra forma?
6 comentários:
"É sempre possível acordar uma manhã e dizer
não vou.
E decidir ficar em casa. Fechar-se
no próprio quarto e proclamar
a serra é aqui".
M. Alegre
é possível dizer não vou uma manhã, mas a vida faz-se muitas e muitas manhãs.
"é possível parar!", dizia o homem estátua no meio da Rua Augusta. É possivel parar, mudar de vida, mudar a vida. gostei muito deste post...
As horas de publicação do post e dos vossos comentários traiem-vos a todos (Exceptue-se mms que aproveitou a hora de almoço para blogar) :-)
todos/todas, perdão.
E de que outra forma podemos fazer as contas ao tempo? Aceitam-se sugestões criativas.
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