05 maio 2007

A incrível e triste história da tomatada de abril

Dia 25 de Abril, feriado nacional, dia da liberdade. Como em todos os anos anteriores, na mesma data e à mesma hora, parte um cortejo de várias entidades do marquês do pombal, avenida da liberdade fora até ao rossio.
Este ano seria um pouco diferente; um cartaz de um partido dito nacionalista na rotunda da casa partida ferve com o espírito democrático de muitas almas, algumas das quais umas semanas antes teriam atirado balões com tinta para o mesmo, o que fez com que o original fosse substituído por outro onde se pode ler acima de um avião a descolar "as ideias não se apagam, discutem-se". Alguém tinha dado por isso? Ninguém.
Ninguém não, um grupo que resiste ainda e sempre ao invasor, quatro pessoas apostadas em fazer uma neo-manifestação pacífica decidiram que era o mote perfeito para tal.
Colocaram uma faixa à frente do cartaz, onde se podia ler a contra-resposta "a xenofobia não se discute" e puseram umas quantas caixas com tomates podres, recolhidos com afã em diversas praças e mercados nessa manhã, e preparavam-se para fazer uma mini performance de teatro invisível para as pessoas que passavam para cortejarem o 25 de Abril.
No entanto, os tomates falaram mais alto. Nem tiveram tempo para fazer nada, logo os traseuntes ocasionais se entusiasmaram com a ideia e começaram a atirar os ditos ao cartaz, exorcizando assim a sua raiva e indignação. Tudo tranquilo, dir-se-ia. Mas não.
Logo os agentes da PSP, sempre atentos, comunicaram com os superiores que os mandaram fazer cerco ao cartaz para o proteger do ataque orgânico, cerco esse que protegia também os ditos tomates, decerto para não arriscarem terem de mandar dezenas de fardas para a limpeza a seco.
Uma das organizadoras do evento decidiu insurgir-se contra a apropriação abusiva dos seus vegetais, e reclamou às autoridades que os devolvessem. "os tomates são meus, não têm que mos tirar, não tenho culpa que as pessoas os tenham atirado" "pois, mas estão a estragar o cartaz, estamos e democracia e todos têm o direito de exprimir a sua opinião", retorquiu-lhe o senhor agente. De nada serviu explicar que uns quantos tomates em nada estragariam tal obra de marketing e publicidade politico-partidário. A paciência esgotou-se e então a rapariga esgueirou-se por entre as pernas do polícia, apanhou o primeiro tomate que encontrou e ainda o conseguiu atirar por cima da cabeça do agente que a agarrou pela cintura, tentanto impedir esse hediondo acto terrorista. Este preciso momento e outros imortalizados aqui.
A parte triste desta história divertida foi a cobertura mediática dos eventos. Apenas o expresso contou esta história tal como se passou. Os restantes confudiram a tomatada pacífica com os actos de vandalismo cometidos chiado abaixo. Vimos, ouvimos e escrevemos.

3 comentários:

João Curvêlo disse...

Eu, por acaso, estava a conversar com uma amiga mesmo ao lado e acabei por levar com os empurrões brutais da polícia, antes, sequer, de ter percebido o que se passava.

Aliás, depois do incidente fiquei sem perceber grande coisa, diga-se. A organização que trouxe os tomates foi a Ofensiva Popular?

sete e pico disse...

esta posta é um verdeiro serviço público de informação! quando eu li sobre os acontecimentos pós manifestação do 25 de abril, fiquei com a ideia que a tomatada tinha sido mais um dos actos de vandalismo que estupidamente se fizeram nesse dia. Afinal era só uma acção inteligente de protesto. essas miudas já estão no nivel 2 das neo manifestações!!

8 e coisa 9 e tal disse...

João, tal como escrevi na posta não esteve nenhuma organização por trás do evento, foram três amigas que decidiram fazer aquilo às quais se juntaram mais dois rapazes. Se algum deles pertence a alguma coisa n terá nada a ver com o assunto, da mesma forma que serem todos benfiquistas não tem nenhuma relação estatisticamente significativa com a escolha dos tomates como vegetal de arremesso.

Nota extra: qd a policia fez o cerco aos tomates, impedindo as pessoas de lá chegar, quem morava ali perto foi buscar ovos e outras armas de destruição maciça para continuar o ataque.

Sete, sempre às ordens. O nivel 2 é possivel, e nao é preciso ficar à espera que alguém se levante para o organizar. Think small.