24 maio 2007

Retalhos da vida de uma condómina

Já me começaram a chatear com esta história da administração do condomínio, mas agora houve novo ataque com forças animais.
Ainda andava eu nas diligências para ter os almejados três orçamentos da praxe para fazer obras no prédio, onde pedia também para me arranjarem o tecto que apenas eu vejo por ser a única condómina a viver no ultimo andar. Via que estava abaulado e é necessário substitui-lo. No fim da semana passada tive os dados todos, preparava-me para tomar a decisão, eis senão quando chego a casa na 3ª feira e tinha tijolos, estuque, cadáveres de pombos em decomposição e pó em barda a partir do lance de escadas anterior ao meu patamar. Ao ver aquela beleza de hortaliça contive o nojo e apenas dei deo gratias por ninguém estar a passar ali por baixo no momento da derrocada. Ligo ao mestre de obras que me fez o orçamento mais conveniente e peço-lhe urgência para dar início aos trabalhos.
No dia seguinte preparo-me para sair de casa, abro a porta e tenho dois pombos a esvoaçar no patamar. Fecho a porta. Terei visto bem? Volto a abrir, continuam lá. Vou buscar a vassoura, a ver se à custa de umas pauladas os desgraçados saem por onde entraram, viro a parte da escova para cima e lá vou eu armada em Indiana. Os bichos são burros, começam às turras com toda a força contra a janela, sem perceberem que têm de passar por cima para sair, contra as paredes, contra a porta da casa ao lado, voam por cima da minha cabeça, penso que se vão borrar todos de medo mesmo por cima do meu cabelo acabado de lavar.
Desisto de os pôr fora, mas tenho mesmo de sair de casa. Desço até ao andar de baixo, mochila às costas e vassoura em riste, que deixo no andar de baixo para repetir o número na subida quando voltar.
Ligo de novo ao mestre de obras, que me diz que o técnico do telhado só está disponível para a semana. Entro em choque, faço o número da donzela em apuros, tenho pombos a esvoaçar no patamar, isto mais parece um pombal, já para não falar do cheiro nauseabundo. O senhor verga-se aos meus argumentos e veio cá esta tarde para tratar do assunto.
A sua cara perplexa ao ver a desgraça que se abateu literalmente sobre mim não deixa dúvidas, confessa que não pensou que fosse tão grave a coisa. Percebo que sou mesmo eficaz no número da princesa na torre do castelo.
Decide tapar o buraco com uma tábua, preso às traves desnudas do tecto. Para tal tem de subir por um escadote, a cerca de 4 m de altura. Num só não vai ser possível fazer o trabalho, monta então uma construcção digna de número de circo - um escadote ao fundo das minhas escadas, outro em triangulo invertido a meio dos degraus, uma tábua para fazer de passadeira e lá andam, ele e o ajudante, sem qualquer tipo de segurança, quais equilibristas no arame a tratar do meu problema. Como tenho um grave caso de vertigens, não consigo ficar a ver o espectáculo sem ter uma taquicárdia brutal e preparar o número do 112, porque juro que vão cair e morrer mesmo à minha frente. Venho então para casa, fumar cigarros e esperar pela queda que nunca chega.
Deixam-me o buraco tapado, e posso finalmente entrar e sair de casa sem perigo de encontros imediatos. Apesar de já saber da existência de pombos armados em okupas no forro do meu telhado, ainda não tínhamos sido apresentados cara a bico.

6 comentários:

Ruiva disse...

Isso é que é vizinhança... sim senhora, e ao sétimo dia choveram pombos!

sem-se-ver disse...

AAAAAlembrou-me uma história passada entre mim e uma osga.

deito. pra dormir (acompanhada, inda por cima).

lá estava ela, alva e branca, alva e pura, mm no topo da parede à qual encostava a cabeceira da cama.

bem, «se cai, ai, e provoca alergias, e ai que dizem serem tão gélidas ai ai ai», lá vou eu tb à procura de vassoura.

ingenua, candida, ternamente, tento enxutar a bicha, conduzindo-a até à janela para que saisse e fosse comer mts melgas à entrada da dita - mas do lado de fora.

pois sim. a bicha paralisou pelo medo. nitidamente. nem prá frente nem pra trás.

e lá dormimos todos mt bem, nós na nossa caminha e ela na sua paredinha.

se houve ais, não conto. finais em aberto são os mais giros.

(pombos dentro do prédio não tem piada alguma)

dizia ela baixinho disse...

hehehehe :)

cá p mim começava a cobrar renda a essas criaturas todas que insistem em coabitar contigo no teu cubiculum vitae (q de cubículo nada tem...).

e, bleargh! pombos não está com nada! morei numa casa na calçada do lavra cujo pátio estava infestado por pombos. depois percebi a razão: havia uma velhinha muito velhinha que todos os dias aparecia com um saco de pão triturado e os chamava: 'venham cá, meus queridos' e os atraía com beijinhos mimosos. claro q eles iam. resultado, tinha sempre pombos à espreita em qq divisão da casa. e nessa éopca tive pesadelos com pássaros, digno de um guião de filme de hitchcock.

em países francófonos apelidam-nos de 'rats volants'. pq será?

Anónimo disse...

Tu e os Pombos!... Consulta já um biólogo: deves libertar umas feromonas de Pomba e vais ganhar uma pipa com os testes que te vão propôr!!

cs disse...

caramba, o que mais me enerva nestes seres é mesmo o contante aliviar de tripa. só de imaginar como estariam a suas escadas, tou com montes de pena. um abraço super solidário. um dos encontros que tive com essas coisas foi em hyde park quando um deles se aliviou mesmo em cima do meu almoço(uma sandes que me fazia água na boca )e que foi directamente para o lixo apenas com uma dentada. brghhhhhhh

8 e coisa 9 e tal disse...

ruiva, chover chover ainda não, pode ser que para o mês que vem...

semsever, podia ter pegado o bicho pela cauda, era mais eficaz que com a vassoura. Mas isto sou eu, a quem osgas e lagartixas não fazem grande mossa.

dizia ela baixinho, tb descobri que no jardim em frente à minha casa há imenso milho pelo chão. Deve ser algum avôzinho estremoso que quer mostrar a maravilha da diversidade animal ao netinho, e não encontrou melhor maneira que alimentar os ratos voadores que por aqui habitam.

eu, essa de ter ferormonas de pomba tem que se lhe diga. não me parece que seja coisa para se augurar a quem quer que seja, chiça.

cs, sim a escada ficou num belo estado verdejante, já para não falar no belo do cheiro. felizmente a senhora da limpeza tem estomago mais forte que o meu e deu-lhe na lixivia que foi um disparate.

Assinalei que houve um único vizinho que se ofereceu para me ajudar nas várias diligências que tenho a fazer, dado o meu azar de távoras por me acontecer tudo isto a mim, que sou a mais recente no prédio e logo quando sou administradora. Todos os demais se revelaram exímios administradores de bancada, cheios de ideias e certezas quanto aos inúmeros passos a tomar de seguida (já queriam até que eu aproveitasse a onda e fizesse obras totas no prédio todo). Um manguito para eles.