17 maio 2007

O vento mudou

No tempo dos meus avós, o casamento era para toda a vida. Os homens tinham histórias por fora que as mulheres aguentavam com sorrisos e resignação.
No tempo dos meus pais, o casamento para toda a vida dissolveu-se no ar.
No tempo que é o meu, o casamento é uma ficção que sabemos que tem um fim. Suspendemos a incredulidade durante algum tempo e inventamos uma língua que não compreendemos.
Talvez no tempo dos meus filhos se inventem outras formas de viver o amor.

5 comentários:

Ruiva disse...

provavelmente o problema é mesmo esse... a sociedade sempre se preocupou em demasia em enquadrar e legitimar uma ideia romântica, mas esqueceu-se de amar, de dar espaço e deixar crescer os amores!

Anónimo disse...

também a felicidade é uma ficção que não sabemos sequer quando começa.

e pur si mouve!

o chofer a dançar com a criada disse...

para meu espanto ou nem por isso, vejo-me a chegar à conclusão que no tempo dos teus /nossos /vossos filhos, quaisquer outras formas de viver o amor implicam a conformidade à ideia da poligamia duma forma aberta e naturalmente aceite por todos sem questionar sequer.
Será o fim do ciúme também?
quem já é adepto hoje em dia das chamadas relações abertas, saberá gerir de forma perfeita os seus afectos?

Anónimo disse...

não creio que essas relações sejam abertas, fechamos-nos sempre a um quando estamos com outro.

essa gestão seria tão mais perfeita quanto melhor for o timing entre o fechar de uma porta e o abrir da outra. de preferência sem bater com força ao fechar para não haver ruído, e abrir de mansinho, espreitar e só depois entrar na outra.

dificilmente chamo a isso relação aberta. na melhor das hipóteses falta de interesse por, pelo menos, uma das partes.

quanto mais múltiplos (já lhe vi chamr muita coisa) mais creio que o resultado final é a falta de capacidade de nos interessarmos seja pelo que for.

no entanto, a tecnologia é generosa e cada vez mais temos o ciberespaço e sites, e blogues e mensageiros instantâneos com os quais podemos "gerir" (tb já lhe vi chamar muita coisa) os nossos "afectos" - the click giveth, the click taketh.

one woman disse...

Se calhar a época contemporânea distingue-se por ler todas as opiniões do comment e concordar com todas. E ainda juntar-lhe mais uma. A minha seria que talvez a coisa mudasse, e ganhasse sentido, se se abrissem mais portas entre as divisões que já existem. Talvez se acendessem sentidos entre as partes que não se conhecem. Talvez não houvesse mais necessuidade de fechar portas. Talvez nascesse vida onde havia oclusão. Talvez, não se sendo muito exigente, não se querendo o impossível, não se querendo Deus num só lugar e numa só figura, as figuras reapareçam investidas de uma outra dignidade e de um outro interesse. Talvez essas luzes se combinassem e fosse dia em todas as divisões. E essa luz fosse a nossa.