Com uma otite galopante há uma semana, enquanto as dores lentamente me abandonam a cabeça parece afundar-se cada vez mais no my own private aquarium. Sozinha em casa e em silêncio estou bem, tenho a sorte de apreciar a minha companhia, mas quando saio da gruta a vida complica-se.
No outro dia tive de vigiar um exame de uma colega. Expliquei-lhe a minha situação clínica mas como não tinha que tirar dúvidas bastava fazer cara de má e mandar calar com veemência de cada vez que sentisse movimento na sala. Funcionou. Quer dizer, não sei porque não ouvi. Passaram 5 em 30, se copiaram não lhes serviu de muito.
Guiar é um constante desafio. Com as janelas abertas não suporto o barulho do trânsito, fechadas construo a minha sauna pessoal. Entre não ouvir os outros carros, estar sempre com um olho nos radares e outro no conta quilómetros, um dia destes acabo espetada num pilar de cimento. Já pensei pedir um cruise control à CML, que isto de estar sempre a controlar a velocidade de forma obsessiva ainda vai acabar por me fazer sociabilizar com o senhor da viatura da frente.
Ir a restaurantes em geral e cafés em particular é uma façanha de monta. Odeio as colheres a bater no pires, as facas a raspar nos pratos, a máquina do café a funcionar, o moinho entra-me pelo cérebro como uma faca eléctrica pelo occipital.
Numa reunião com mais de 30 pessoas, ouvir os outros é uma odisseia, perceber o feedback às minhas intervenções praticamente impossível. Sei que os fiz rir porque os ombros abanavam e viravam-se para mim de taxa arreganhada. Fiquei com a dúvida se fui eu ou um pum inadvertido.
Com tanto líquido persistente cá dentro creio bem estar a contribuir para o desenvolvimento de uma nova espécie piscícola autóctone no ouvido médio. Espero que sejam vermelhos como os do Matisse.
5 comentários:
Vou ali comprar uma cana de pesca e já te direi de que cor são os peixes que habitam nos teus ouvidos.
'tadinha da minha amiga.
muitas melhoras.
chama-se a isto "al mal tiempo buena cara"... com a atracção que a tua casa tem por animais não me admira que o teu ouvido médio também tenha ficado contagiado.
Espero que melhores rapidamente, abracinho
passei a infância a otites. um horror, um suplício. abraço de solidariedade, espero que passe depressa!
na prise, então?
multiplas, obrigado pelas melhoras. Já nao me dói mas continuo surda...
Sem-se-ver, eu também! Reza a história que a minha primeira otite foi aos 4 dias e daí até aos oito anos foi sempre a rir sempre a curtir. Depois passou-me, até agora. Já me tinha esquecido do horror que são as dores de ouvidos. Agora só continuo com os meus aquários, um de cada lado. à espera que a na prise me venha tirar os peixes.
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