30 julho 2008

Itinerante

O comboio corre frenético em busca de um qualquer destino. Por breves momentos os estranhos que nele vagueiam criam uma comunhão superficial de rotas acertadas a minutos e horas pontuais. Na janela corre a paisagem, as árvores fogem apressadas no azul estanque do céu. E há as paragens, esses instantes de célere intromissão na vida dos outros. Os outros que saem alvoroçados a olhar para o relógio, os outros que saem a medo com o olhar perdido de quem não sabe se está no sítio certo. Ou esses outros que saem já de braços abertos, prontos para o abraço que os espera junto ao banco da estação. O abraço de uns pais saudosos que esperam um filho que há muito não conhecem, o abraço de uma criança que corre de sorriso inocente para os braços do pai, o abraço de um amante que aguarda o beijo apetecido...
Sujeito-me a um papel inerte e intrusivo. Resumo-me à vida dos outros. E findas as paragens, impõe-se a descoberta do rumo a esta itinerância insolúvel. O abraço fílmico que foi registado vezes sem conta cresce imperioso, despe-se urgente.

1 comentário:

dizia ela baixinho disse...

gostei de me apear neste post.
eu tb estava nesse comboio, tu é que não me viste. era aquela, 2 bancos à frente, que olhava p ti.