De manhã, enquanto se arranjava para ir trabalhar, derrubou o horroroso busto do napoleão com que a sogra a havia presenteado por alturas do seu casamento. 'É muito valioso, querida, trata bem dele', haviam sido as palavras proferidas naquele dia festivo, como se de um conselho se tratasse. Durante os anos que se seguiriam, ela iria perceber que a sogra nao se referia ao objecto em gesso barato, mas ao filho, que lho confiava para a vida. E que, tal como o general francês, também o marido era dado a empresas sobrehumanas, das quais emergia com retumbante vitória, respeitado pelos seus pares, admirado pelos seus subordinados e temido pelos seus inimigos. Embora as batalhas fossem travadas no intelecto, perto de casa e das 9 as 6, nao deixavam de o tornar distante e ausente, por longos e dolorosos períodos, o que a deixava, a cada dia que passava, mais fechada dentro do seu mundo, limitado pelas quatro paredes da casa que habitava e que estava em nome dele - como tudo o que possuiam em comum.
Ela havia já por várias vezes pensado em deixá-lo, mas o instinto teimava em não deixar correr pelas suas veias a coragem necessária a abandonar tudo e começar de novo, sozinha e sem os confortos com que se acostumara a existir. Os amigos, que no inicio a acompanhavam, foram progressivamente perdendo o interesse, ja cansados de tanto a avisar para nada. Alguns mesmo, evitavam a companhia dela, nao por nao a apreciarem, mas por também terem maleitas e desgraças que precisavam de partilhar, mas que não achavam justo fazerem-no com ela. Os que permaneciam, tentavam manter um contacto mínimo e indispensável resumido a breves sms enviados pelos anos e no Natal, porque falar de viva voz podia tornar-se penoso.
E depois havia a filha, que, na ausência do pai, se virava contra ela quando lhe era negado um chocolate, uns bonecos animados na televisão ou 5 minutos a mais no parque.
E a porcaria da estátua em mil bocados no chão. Ele continuava a dormir.
Ela suspirou. Foi ao quarto da filha que dormia e tirou-a da caminha de grades, sem barulho. Depois agarrou na carteira e saiu. Para nunca mais voltar.
Ela havia já por várias vezes pensado em deixá-lo, mas o instinto teimava em não deixar correr pelas suas veias a coragem necessária a abandonar tudo e começar de novo, sozinha e sem os confortos com que se acostumara a existir. Os amigos, que no inicio a acompanhavam, foram progressivamente perdendo o interesse, ja cansados de tanto a avisar para nada. Alguns mesmo, evitavam a companhia dela, nao por nao a apreciarem, mas por também terem maleitas e desgraças que precisavam de partilhar, mas que não achavam justo fazerem-no com ela. Os que permaneciam, tentavam manter um contacto mínimo e indispensável resumido a breves sms enviados pelos anos e no Natal, porque falar de viva voz podia tornar-se penoso.
E depois havia a filha, que, na ausência do pai, se virava contra ela quando lhe era negado um chocolate, uns bonecos animados na televisão ou 5 minutos a mais no parque.
E a porcaria da estátua em mil bocados no chão. Ele continuava a dormir.
Ela suspirou. Foi ao quarto da filha que dormia e tirou-a da caminha de grades, sem barulho. Depois agarrou na carteira e saiu. Para nunca mais voltar.
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