31 julho 2008

Assino por baixo


suspiro seguido de duplo suspiro

aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

não sei se é do calor, se de que é, mas hoje só consigo procrastinar, procrastinar, procrastinar...

acho que vou fazer uma chávena de chá.

Ainda sobre o Cavaco

Ele, o Cavaco. Gosto deste tratamento. Odeio este tratamento.

E o Cavaco e o Cavaco?

O que terá ele para dizer?

conversa com os meus botões

Cada vez acho mais belas as mulheres maduras, mulheres dos seus quarentas e muitos, cinquentas, algumas até mais. São belas, muitos belas, andam na rua contentes, com caras radiosas, com todas as suas rugas e cabelos brancos assumidos ou pintados de cores fortes, conversam animadamente com vozes expressivas e olhar inteligente, andam de autocarro ou de combóio sempre com o livro ou o jornal, algumas são gordinhas outras magras mas com uma ou outra protuberância atraída pela gravidade, mas todas me parecem contentes com o seu corpo, têm um ar satisfeito consigo mesmas e parece que já não lhes importa o que o mundo pensa delas. Acho belas as mulheres maduras.
...
É um termo estranho este, mulheres maduras.
...
Parece fruta na árvore pronta para comer, salvo seja...
...
...

por acaso...
...
...
agora que o digo...
....

Um dia o Oito e Coisa não tem parança

Hoje é o dia.

maravilhoso mundo do consumo

Enquanto procrastino um bocadinho no msn com uma amiga, reparo numa mensagem lá em baixo da janela do msn: cartão crédito citi, peça já 10000 euros e receba GRÁTIS uma máquina de café.
Uma máquina de café???? Mas isso alicia alguém a meter-se num crédito de 10000 (dez mil) euros? Ou eu ando demasiado impermeável ao marketing ou o marketing anda impermeável à imaginação.

Dear John

These messages were sent while you were offline.

2:52 PM Ela: quando vieres já não estou beijos

Muda-se o ser, muda-se a confiança

No outro dia disse-lhe que não se devia pôr as mãos no fogo por ninguém, nem mesmo por nós próprias. "Não, eu por mim ponho", afirmou peremptória. Dois dias depois entrou nas urgências com uma queimadura de 3º grau.

Eu devo ter um íman

Uma das minhas alunas é minha vizinha. Não é uma vizinha qualquer, vive no andar mesmo abaixo do meu e dorme no quarto cujo tecto é o meu chão.


As probabilidades disto me ter acontecido estão de tal forma contra mim que no dia em que a vi entre a assistência na minha aula teórica pensei jogar no euromilhões, lotaria, totobola e bingo do belenenses. Foi um desperdício não o ter feito, teria com certeza ganho uma bela maquia.


No primeiro semestre consegui despachá-la com facilidade, com uma nota mediana. Neste segundo é que já me está a dar problemas. Chumbou na primeira época e a segunda também não está famosa. Dado que não é trabalhadora estudante e não tem mais hipóteses de passar, estou perante um dilema.


- Passo-a, mesmo tendo de fechar os olhos à minha honestidade e integridade, para que não tenha de me lembrar dela todas as vezes que faço amor e a cama geme?

- Chumbo-a, para ver de que massa ela é feita e se me vem com as 4 irmãs, pai, mãe, cão, dois gatos e três periquitos pedir meças e queixar de infiltrações na casa de banho?

- Deixo de fazer amor em minha casa, ou passo a usar para o efeito o vão das escadas para que deixem de perceber de que lado vem o barulho, A-ha!

- Convenço-a a mudar de curso, faculdade, universidade, com promessas de glórias eternamente mais interessantes que aqui, e ela ala para trás os montes e alto douro (se tivesse jogado na lotaria podia-lhe pagar para o fazer, que rapariga pouco previdente fui)

- Passo-lhes as minhas infestações de bichos, a ver se toda a família se muda para outro lado


Ou mudo de casa?



(continua, continua sempre)

Despertar

Esta série - a que dei o nome de the dirty boulevard - são histórias verdadeiras. Relatadas em vários fôlegos. Permiti-me recriá-las à minha maneira, mantendo o anonimato daqueles que a protagonizam. Pelos motivos óbvios. Hoje, é a A. que fala.

O pior momento do dia era o acordar, no meu caso de manhã, a verdadeira descida aos infernos. Antes de adormecer já sabia o que me esperava na manhã seguinte e, por isso, acho que dormi anos a fio com o pavor do que já sabia que ia sentir, mal acordasse: as dores no corpo, uma náusea e uma espécie de gripe sempiterna conviviam com o meu ecossistema logo pela manhã. Era assim o meu despertar: maldizia a vida, arrastava-me como podia até à casa-de-banho, onde tentava recompor-me, depois de ter engolido um analgésico opiáceo. Já controlava todas as farmácias do bairro que mos vendiam sem receita. Os choques térmicos com água às vezes ajudavam. Mas por pouco tempo.


Chegava ao trabalho e à medida que o tempo ia passando, começava numa contagem decrescente até aos minutos que faltavam para a hora de almoço. Saía a correr e apanhava um táxi. Não morava longe, mas o corpo já não aguentava mais. Não comia nada e voltava com a cabeça cheia e as dores apaziguadas. Estourava o meu ordenado em táxis e na castanha: dor (alívio da dor), prazer (já muito pouco), compulsão (muita), uma mistura explosiva. Os sentimentos de culpa? Claro que existiam, estavam sempre presentes, quando acordava. Depois do almoço, já tinham desaparecido, era como se tivesse renascido. E era então que começava nova contagem decrescente, até ao momento em que sairia do trabalho e, pelo meu próprio pé, me dirigia até ao dirty boulevard, a fim de por termo a mais uma dose de angústia física. Mas sobretudo a uma dose de angústia na alma. Sabendo, lá no fundo, que estava a destruir a minha vida. O mais difícil era ter todos estes sentimentos contraditórios convocados diariamente. Passei anos nisto. Acho que este foi o maior dos desgastes. Maior que o desgate físico.

(continua)

30 julho 2008

Sintomas ambiguos

"Foi neste instante que o morgado da Agra de Freimas sentiu no lado esquerdo do peito, entre a quarta e a quinta costela, um calor de ventosa, acompanhado de vibrações eléctricas, e vaporações cálidas, que lhe passaram à espinha dorsal, e daqui ao cérebro, e pouco depois a toda a cabeça, purporeando-lhe as maçãs de ambas as faces com o rubor mais virginal. (...) Duas enfermidades há aí cujos sintomas não descobrem as pessoas inexpertas; uma é o amor, outra é a ténia. Os sintomas do amor, em muitos individuos enfermos, confundem-se com os sintomas do idiotismo. É mister muito acume de vista e muita prática para discriminá-los. Passa o mesmo com a ténia, lombriga por excelência."
in A queda de um anjo, de Camilo Castelo Branco

Itinerante

O comboio corre frenético em busca de um qualquer destino. Por breves momentos os estranhos que nele vagueiam criam uma comunhão superficial de rotas acertadas a minutos e horas pontuais. Na janela corre a paisagem, as árvores fogem apressadas no azul estanque do céu. E há as paragens, esses instantes de célere intromissão na vida dos outros. Os outros que saem alvoroçados a olhar para o relógio, os outros que saem a medo com o olhar perdido de quem não sabe se está no sítio certo. Ou esses outros que saem já de braços abertos, prontos para o abraço que os espera junto ao banco da estação. O abraço de uns pais saudosos que esperam um filho que há muito não conhecem, o abraço de uma criança que corre de sorriso inocente para os braços do pai, o abraço de um amante que aguarda o beijo apetecido...
Sujeito-me a um papel inerte e intrusivo. Resumo-me à vida dos outros. E findas as paragens, impõe-se a descoberta do rumo a esta itinerância insolúvel. O abraço fílmico que foi registado vezes sem conta cresce imperioso, despe-se urgente.

leituras de verão no masculino

Acabei de saber que este senhor, Daniel Gabarro, escreveu um livro para ajudar os homens a pensar a sua masculinidade, chama-se "Transformar a los hombres, un reto social". Podem ir ao link, descarregar o pdf, fazer fotocópias e levar para a praia, quem sabe as surpresas que o verão nos prepara...

Observações I

A vida é uma puta sádica!
Digo isto com uma ponta de masoquismo premente ou de curiosidade mórbida.
Mas a vida é uma puta sádica!

Depois tu chegas e dizes-me que eu não passo de uma tola descrente.
Talvez sejas uma puta sádica tu também!

Maravilhoso inconsciente

Esta noite sonhei que namorava com o José Eduardo Agualusa. Acordei com a enorme satisfação de termos estado na marmelada no cinema, abraçados, festinhas e beijinhos. Passeei o meu nariz pelo seu pescoço, e devo dizer-vos que ele tem um toque bestial e cheira bem que se farta. E gosta imenso dos meus beijinhos. Que mais se pode querer?

Fotografia daqui

aguardamos

com expectativa que a nossa múltipla nos conte a anedota do Bob. Vá lá coisinha, conta lá...

do filme "four weddings and a funeral"

” I always just hoped that, that I’d meet some nice friendly girl, like the look of her, hope the look of me didn’t make her physically sick, then pop the question and…um… settle down and be happy. It worked for my parents. Well, apart from the divorce and all that!”

29 julho 2008

por ele perdi tudo na vida

alguns dos melhores anos, quem sabe
Esganiça a vizinha que me entra pela janela aberta da sala. Atrás da voz dela, uma ágata qualquer é espremida por umas colunas manhosas.
É nestes momentos que me apetece emigrar para a Islândia.

Dúvida

O que é que se faz quando se sabe que se tem de tomar uma decisão, se sabe que se tem duas opções e se sabe que qualquer uma que se escolha vai ter como consequência uma tristeza profunda?

28 julho 2008

dedicado a todos os "pais de calvin" do mundo

- Quem é aquele ali naquele quadro, sentado na cadeira?
- Ah, aquele ali era um gajo francês qualquer muito importante.
- Como é que se chamava?
- Napoleão Bonaparte.
- Ah, lembro-me de ouvir falar.
- Isso era a alcunha que lhe deram depois por causa dum cão que teve chamado Bona, exactamente, que andava atrás dele para toda a parte.
- A sério? Que giro.
- Pois. Eu em história era um craque.
- E que fazia ele lá na França?
- Sei lá, era uma gajo importante, pronto. Ganhava as batalhas todas.
- Tem ar de mau.
- Isso é porque era mesmo mau. Vivia sozinho numa ilha deserta no meio do mar e comandava as tropas directamente dali..
A mãe entra na sala.
- O que é que estás para aí a ensinar ao miúdo, Joaquim? Não dês ouvidos ao teu pai.
- E nunca saía da ilha?
- Não. Mandava as ordens todas por pombo correio.
- Joaquim!

Nada se perde


Depois de andar à pesca nos ouvidos da múltipla otítica, resolvi deixar os despojos do seu aquário interno nesta invenção que transforma a casa de banho numa maravilha nautica.


Aqui estão eles, os teus peixes vermelhos.

A última campanha

De manhã, enquanto se arranjava para ir trabalhar, derrubou o horroroso busto do napoleão com que a sogra a havia presenteado por alturas do seu casamento. 'É muito valioso, querida, trata bem dele', haviam sido as palavras proferidas naquele dia festivo, como se de um conselho se tratasse. Durante os anos que se seguiriam, ela iria perceber que a sogra nao se referia ao objecto em gesso barato, mas ao filho, que lho confiava para a vida. E que, tal como o general francês, também o marido era dado a empresas sobrehumanas, das quais emergia com retumbante vitória, respeitado pelos seus pares, admirado pelos seus subordinados e temido pelos seus inimigos. Embora as batalhas fossem travadas no intelecto, perto de casa e das 9 as 6, nao deixavam de o tornar distante e ausente, por longos e dolorosos períodos, o que a deixava, a cada dia que passava, mais fechada dentro do seu mundo, limitado pelas quatro paredes da casa que habitava e que estava em nome dele - como tudo o que possuiam em comum.

Ela havia já por várias vezes pensado em deixá-lo, mas o instinto teimava em não deixar correr pelas suas veias a coragem necessária a abandonar tudo e começar de novo, sozinha e sem os confortos com que se acostumara a existir. Os amigos, que no inicio a acompanhavam, foram progressivamente perdendo o interesse, ja cansados de tanto a avisar para nada. Alguns mesmo, evitavam a companhia dela, nao por nao a apreciarem, mas por também terem maleitas e desgraças que precisavam de partilhar, mas que não achavam justo fazerem-no com ela. Os que permaneciam, tentavam manter um contacto mínimo e indispensável resumido a breves sms enviados pelos anos e no Natal, porque falar de viva voz podia tornar-se penoso.

E depois havia a filha, que, na ausência do pai, se virava contra ela quando lhe era negado um chocolate, uns bonecos animados na televisão ou 5 minutos a mais no parque.

E a porcaria da estátua em mil bocados no chão. Ele continuava a dormir.

Ela suspirou. Foi ao quarto da filha que dormia e tirou-a da caminha de grades, sem barulho. Depois agarrou na carteira e saiu. Para nunca mais voltar.

A aposta

Andava há meses angustiado. Gostava mesmo daquela mulher, mas não sabia se ela seria capaz de o satisfazer do modo que ele precisava. As coisas até corriam bem, mas faltavam aqueles detalhes que faziam toda a diferença.
Durante meses andou a pensar como abordar a questão. Leu e releu, pensou e meditou. O busto de napoleão era um número demasiado complicado para usar. Verem um filme juntos talvez arriscado. Mandar-lhe uma história não, tinha medo de a assustar. Um artigo científico, mas depois achá-lo-ia demasiado meticuloso e calculista. Não, decididamente desta vez queria fazer as coisas bem. Não sabia era como.
Um dia a oportunidade surgiu-lhe, como o acaso a favorecer os espíritos preparados.
Ela disse-lhe que lá no emprego todos tinham apostado dinheiro nas equipes do europeu de futebol. Ela tinha ido pelos italianos, que são bonitos, mas tinha ficado pela estrada com os espanhóis, por isso na final estava pelos alemães apesar de já não ir ganhar nada com o quiosque.
Ele sorriu, disse-lhe que se ela quisesse eles podiam fazer apostas caseiras. No entanto, como eram apenas eles a apostar em vez de dinheiro escolheriam géneros. Ela gostou da ideia.
Entre risinhos, abraços e beijinhos ela ia tentando escolher o que queria com a vitória da Alemanha. Acabou por se decidir por uma massagem de costas completas com pés.
Ele, que até tinha um avô que viveu em Espanha, achou que tinha a vantagem a seu favor. Quando ela lhe perguntou, e tu?
Se a Espanha ganhar quero que vistas um catsuit de latex preto, me amarres todo nú à cama, me provoques com a chibata de montar, me chames teu menino maroto que se portou mal e vai levar tau tau da fraulein, só se vem quando eu deixar.

Momento de poesia

Em pedaços

Espalhou-se em pedaços pelo chão da carpete verde escura daquela casa que cheirava a bafio, a doença, a velhice desatendida e a solidão. Tão depressa quanto a artrose, o reumatismo e a velhice lhe permitiam, apanhou cuidadosamente cada um daqueles pedaços, um por um, reuniu-os, limpou-os, e deixou que as memórias lhe assaltam-se intempestuosamente, lembrando cada um dos momentos da sua vida ao lado do marido já morto. Aquele busto daquele personagem que nunca soube quem era nem o que fez era a única lembrança física que guardava do seu marido, junto com o fraque do seu casamento. Recordava como se fosse hoje o dia em que ele o trouxe para casa e o colocou na sua mesa de cabeceira, ao lado da foto do dia do casamento, das fotos dos filhos e dos netos. O defunto olhava para ele com uma expressão estranha, parecia que lhe queria dizer qualquer coisa que nunca conseguia alcançar a garganta, ficavam-lhe as palavras presas na expressão do olhar perdido. Quando ao princípio lhe perguntava quem era o senhor daquela estátua dizia, não sei, e deixava o assunto morrer aí. Deixou de perguntar, habitou-se ao olhar perdido da estátua de pedra igual ao olhar do seu marido quando o olhava e depois a olhava a ela, interrogante e silencioso. Os netos riam-se cada vez que olhavam para o busto ao lado das suas fotografias, mas também eles nunca lhe disseram o motivo do seu riso. Hoje finalmente, tinha-se partido o objecto misterioso que a tinha acompanhado tantos anos, e uma sensação de liberdade, de estranha liberdade, percorreu-a dos pés à cabeça, aliviando as dores dos seus ossos e da sua alma. Tocaram à porta, era o seu vizinho octogenário que todos os dias a visitava, e que todos os dias sem excepção desde há dez anos, a convidava a dar um passeio de mãos dadas no parque do bairro, ao que ela sempre respondia, um dia Alberto, um dia. Reuniu os cacos da estátua de pedra, meteu-os num saco de plástico, pôs o seu chapéu de palha, abriu a porta e disse, estendendo-lhe a mão: Vamos, Alberto?

Portuguesas e portugueses

Há uns tempos atrás foi notícia nos jornais e na blogosfera o facto dos portugueses fazerem mais sexo que os espanhóis e o seu gosto pelo sexo anal. Como se fala só em portugueses e não se diz se são homens ou mulheres (a linguagem jornalística insiste teimosamente que o sujeito masculino representa os dois sexos) pareceria que são os homens e as mulheres portuguesas que gostam de praticar sexo anal. Contudo, o que me pareceria mais próximo da realidade é que os homens portugueses heterosexuais gostam de praticar sexo anal com as suas companheiras, ou que as mulheres gostam do sexo anal.

Mas era capaz de pôr as minhas mãos no fogo e não me queimar como os homens portugueses heterosexuais são ainda resistentes a descobrir a fonte de prazer dos seus ânus. Como ainda predomina no imaginário colectivo que o sexo anal nos homens está associado à homosexualidade, a maior parte dos portugueses heterosexuais continua a oferecer resistência em adoptar comportamentos que se afastem da masculinidade tradicional e diz cuscredo, eu cá não sou desses, não gosto que me vão ao cu. E enquanto continuam a pensar assim, limitam a descoberta desse maravilhoso orifício do corpo humano, que paradoxalmente serve para libertar-nos dos nossos dejectos e tem imensas terminações nervosas que são uma fonte de prazer incríveis.
Por isso, queridas amigas portuguesas, está na hora de comprar um busto de Napoleão para pôr ao lado da mesa de cabeceira e ajudar os nossos homens a descobrirem novos prazeres do seu corpo, tanto tempo reprimidos.

O busto de Napoleão - momento de ingenuidade

Não havia quem pela Praia da Zambujeira passasse que pudesse ignorar os figurões. Dona Tininha e o seu Napoleão eram um par de coqueluches desta terra com sabor a mar.

"Chamei-lhe assim porque mal o vi veio-me à ideia o busto de Napoleão que tenho em cima da mesinha de cabeceira. Percebi-lhe logo o carácter, a firmeza. Isso do tamanho não é o que importa, não!" prontificava-se a explicar a quem quer que questionasse o nome do bicho. E disso, do tamanho, parecia ela perceber bem. Dona Tininha pareceu sempre bem mais alta do que de facto era. Do cimo dos seus 60 e alguns anos, sobressaíam um peito forte e bronzeado que ela fazia questão de não esconder e umas pernas magras que, embora curtas, terminavam sempre em grandes saltos.

Já Napoleão não podia encontrar artefactos que lhe permitissem disfarçar o que era. Sobre as suas quatro patas andava rasteiro mas firme, como que ao som de uma batida sempre igual. E o pêlo esvoaçava, alvo e longo.

Durante anos o trajecto não enganava. Instalavam-se os dois na esplanada de sempre, ela com uma qualquer revista cor-de-rosa entre mãos e ele, aos pés.

"Olhe, diz que o Joaquim Almeida não quer trabalhar em Portugal. Pois que não trabalhe, não acha? Se nós não temos com o que lhe pagar... Esteja calado! Quer o quê? Queque ou bolo de arroz? Ó Paulinho, traz um bolo de arroz aqui para o Napoleão, trazes?"

Dirigira-se-lhe sempre na 3ª pessoa. Era "para corresponder ao respeito que ele impõe", dizia.

O Verão corria agitado e chuvoso. Napoleão começava a dar sinais de velhice e os sentidos começavam a falhar.

"Foi desafiado pelo catraio. Raios o partam, ao catraio! Correu atrás dele na brincadeira e..." A voz tolda-se e Dona Tininha recorre aos Dior castanhos escuros para esconder as lágrimas que teimam em saltar.
"Empalhe-se!" ordenou ao marido Joaquim.

E o empalhado Napoleão partilha hoje a mesa de cabeceira com o busto do outro. Sobre o naperon branco, escrita sobre papel reciclado, figura a inscrição:

"É necessário cometer amiúde algumas imprudências mas convém que sejam devidamente calculadas" Napoleão (o do busto).

Ver para crer


Não é apenas uma história ou uma anedota.
O busto de Napoleão existe e podemos descobri-lo em muitos sítios.
Este magnífico exemplar em resina foi encontrado aqui.

como fabricar um busto de napoleão



ai não era o busto de napoleão?
rats, enganei-me no origami...

27 julho 2008

Mais leituras de verão

Obrigada às meninas do Womenage por me apresentarem este senhor, João Ubaldo Ribeiro.

(...)Lembrei que tinha compromissos inadiáveis: curtir as livrarias, comprar cigarros na tabacaria de um feroz comunista amigo meu, tomar uma cerveja n'A Brasileira e dedicar algum tempo a apenas me sentir maravilhosamente bem ali mesmo naquele formigueiro da Baixa. Lembrei Dorival Caymmi, uma vez explicando, antes de a Bahia haver sido destruída como Lisboa, felizmente, não foi — e como não foi, em tantos sentidos! —, umas certas cores uns certos ares que era imperativo ficar curtindo, em vez de trabalhar. Não há tempo para trabalhar, dizia ele, a pessoa fica muito ocupada vivendo.

Pois então, pois cá tenho vivido muito em Portugal. Não propriamente vendo coisas, embora haja, é claro, coisas para ver, mas sentindo. Não propriamente aprendendo, mas me acrescentando de tantas formas sutis e fortes, por tantas vias antes insuspeitadas. E então, sobraçando minhas ervas, meus livros, meus postais velhos, meu cortador de vidro, desço de novo ao Rossio. Vou caminhar pela avenida da Liberdade, em ponderado passeio para o Parque Meyer. O dia fica cada vez mais luminoso, só consigo pensar em coisas boas(...)

Casamento

E por falar em escrever bem...



Parabéns ao premiado António por anos ao serviço da Língua portuguesa.

Leituras de Verão



Porque o Verão nos permite desafiar a vergonhosa estatística de 1,3 livros lidos por ano, deixo aqui dois conselhos, a meu ver exemplos maiores de como se escreve bem em português.


26 julho 2008

Elefantes, pulgas e outros elitismos

Desde sempre me lembro de encontrar atitudes de desdém ou de troça à língua portuguesa que é falada de um modo diferente da que se fala em Lisboa. Vejo muito pouco televisão, mas quando vejo, é raríssimo, issimo issimo, encontrar outros sotaques que não o lisboeta, os apresentadores das notícias, os políticos, os actores e actrizes da novelas, os desenhos animados (com excepção do Ruca) falam, na sua maioria, com o sotaque que se usa da capital do país. Dos russos, ucranianos e outros imigrantes de leste é também frequente ouvir dizer que alguns até falam muito bem o português, nem se percebe que são estrangeiros, como se falar bem o português passasse por adoptar e imitar o sotaque lisboeta. A questão torna-se ainda mais acesa quando passa as fronteiras e já não se limita só aos sotaques mas à forma de estruturar e compor uma língua, de dar-lhe vida de uma forma diferente daquela que utilizamos em Portugal, como é o caso do Brasil. Sobre isto, encontrei aqui este texto que subscrevo:
«(…) Era bom que, com a assunção pelo Governo português de uma política da língua, se conseguisse que esta, bem como as políticas culturais, deixassem de ser dominadas por uma certa elite que parece ainda não ter ultrapassado o complexo de rejeição e de inferioridade causado pelo abandono do país por D. João VI aos ocupantes franceses, indo para o Brasil, que passou a ser sede de Império. Ou seja, era bom que se deixasse de olhar para o Brasil com despeito e se percebesse e aceitasse a magnificência cultural daquele país e a grandeza que é o português ser falado naquela imensidão de terra e de gente. Era bom que se percebesse que Machado de Assis não fica atrás de Eça de Queiroz, que Padre António Vieira existiu porque viveu a dinâmica global da sua época nos dois territórios, que se Mia Couto inovou porque enriqueceu o português com a vivência da língua em Moçambique, antes, no Brasil, existiu Guimarães Rosa. Era bom que quem se acha dono da língua percebesse que as línguas vivas vivem dos seus falantes. Caso contrário, morrem. É por isso que a capacidade de fazer uma reforma ortográfica comum a todos os países lusófonos, como o recente acordo ortográfico, é uma prova de vida e de vitalidade. É por isso que é ridículo dizer que a pronúncia do português que tem que ser regra no ensino e na política da língua no mundo é o português de Portugal. Porquê? Pelos 800 anos de história? E já agora o português de qual Portugal? De Lisboa? De Beja? De Castelo de Vide? De Coimbra? Do Porto? De Chaves? De Lagos? De Câmara de Lobos? De São Miguel? É que a arrogância de proprietários da língua que muitos intelectuais portugueses assumem em relação ao Brasil dá vontade de lhes dizer que perante o elefante cultural, artístico e linguístico que o Brasil é, Portugal não passa de uma pulga.» (São José Almeida, Público, 26 de Julho 2008)

25 julho 2008

Bob

É quando olho para a capa do livro de canções do Bob Dylan e relembro o concerto que deu no Optimus Alive que penso

que era tão bom que nos pusessem à frente a nossa imagem de hoje a 20/30/40 anos e nós pudéssemos dizer: "Ora então quero ficar assim como estou que a idade não me vai fazer mais bonito/a" ou "Não, prefiro envelhecer, vou envelhecer bem, vou ficar melhor, sou como o vinho do Porto".

Tudo isto para dizer: o Bob tinha um ar de sacana em 74...

Autista à força

Com uma otite galopante há uma semana, enquanto as dores lentamente me abandonam a cabeça parece afundar-se cada vez mais no my own private aquarium. Sozinha em casa e em silêncio estou bem, tenho a sorte de apreciar a minha companhia, mas quando saio da gruta a vida complica-se.


No outro dia tive de vigiar um exame de uma colega. Expliquei-lhe a minha situação clínica mas como não tinha que tirar dúvidas bastava fazer cara de má e mandar calar com veemência de cada vez que sentisse movimento na sala. Funcionou. Quer dizer, não sei porque não ouvi. Passaram 5 em 30, se copiaram não lhes serviu de muito.

Guiar é um constante desafio. Com as janelas abertas não suporto o barulho do trânsito, fechadas construo a minha sauna pessoal. Entre não ouvir os outros carros, estar sempre com um olho nos radares e outro no conta quilómetros, um dia destes acabo espetada num pilar de cimento. Já pensei pedir um cruise control à CML, que isto de estar sempre a controlar a velocidade de forma obsessiva ainda vai acabar por me fazer sociabilizar com o senhor da viatura da frente.

Ir a restaurantes em geral e cafés em particular é uma façanha de monta. Odeio as colheres a bater no pires, as facas a raspar nos pratos, a máquina do café a funcionar, o moinho entra-me pelo cérebro como uma faca eléctrica pelo occipital.

Numa reunião com mais de 30 pessoas, ouvir os outros é uma odisseia, perceber o feedback às minhas intervenções praticamente impossível. Sei que os fiz rir porque os ombros abanavam e viravam-se para mim de taxa arreganhada. Fiquei com a dúvida se fui eu ou um pum inadvertido.

Com tanto líquido persistente cá dentro creio bem estar a contribuir para o desenvolvimento de uma nova espécie piscícola autóctone no ouvido médio. Espero que sejam vermelhos como os do Matisse.

24 julho 2008

De 15 em 15 dias

foto encontrada, nem a propósito, aqui

Por vezes penso se estarei a ser preconceituosa quando não consigo abandonar a ideia de que um fim de semana com o pai de 15 em 15 dias é maneira de criar pais, ou imagens de pais, demasiado idealizados. Mas não me larga a sensação de que estes pais tentam criar magia durante 4 dias dos 30 dias de um mês, e, por algumas razões que não discuto, não vivem nem se relacionam nas outras formas que implicam o crescer e acompanhar cada dia dos filhos e filhas, no meio das birras para o banho, para a comida, dos cansaços, das negociações dos tempos para a televisão e do deitar, do rituais, dos pontos de fuga, das conversas e das brincadeiras, cada dia em sucessiva rotação, em sucessiva negociação, cada dia carregado de realidade e de continuidade, e com esforço inventando momentos de magia que escapem à norma e as limitações que exigem o dia a dia das crianças. São pais idealizados em contraste com as mães da vida real de cada dia, cada 26 dias por mês. São pais que têm tempo para si próprios, para sair, para estudar, para ler, para não fazer nada em contraste com as mães que têm 4 dias por mês para poder dedicar tempo a si mesmas.

Não duvido em nenhum momento que amem os seus filhos e filhas. Não duvido que sofram por não estarem com eles. Sei também que muitas mulheres e inclusive o poder jurídico, continuam a achar que as crianças são das mães e que é com elas que devem ficar em caso de divórcio. Só estranho que não lutem pelos seus filhos e filhas, que não reivindiquem o seu direito ao quotidiano, às pequenas coisas boas e más de todos os dias. Lembro-me de há uns tempos atrás ter lido no jornal que dois pais ingleses se mascararam de Batman e Robin e penduraram-se no Big Ben para chamar a atenção do seu direito a ter guarda conjunta, que lhes tinha sido negado pelos tribunais de família ingleses. Não digo que os pais portugueses se tenham de mascarar de Zés do Telhado e pendurarem-se na Sé ou na Torre dos Clérigos, apenas sei que as leis e as mentalidades não se mudam porque sim, ou por inspiração divina, mas sim pelas lutas da vida quotidiana. E, se as mulheres têm vindo a fazer um longo caminho para que sejam reconhecidos os seus direitos, inventando-se e reivindicando-se, aos homens ainda lhes falta outro tanto por percorrer, para que possam de facto apropriar-se do espaço familiar, doméstico e emotivo de que tiveram tradicionalmente afastados.

E esta não pode ser uma luta por procuração, é uma luta com H, é uma luta dos homens. E nós aplaudimos e apoiamos.


Ps: Parte deste post já estava escrito há muito tempo, mas hoje com a leitura deste outro, resolvi por fim terminá-lo. E sei que o JPN, um dos pais mais queridos que eu conheço, compreende e concorda.

Da beleza e outros demónios

O Cesariny dizia que afinal o que importa não é ser novo e galante, ele há tanta maneira de compor uma estante. Na segunda vida isto não verdade. Em quatro meses neste mundo pixelado só encontrei um avatar velho e dois ou três gordos. Todos os outros são lindos, novos e esculturais. Os avatares passeiam-se em roupas curtas, justas e brilhantes, a avataras equilibram-se em cima de saltos que parecem precipícios, os avataros mostram corpos musculados que só muitas horas de ginásio e algum doping poderiam criar. As pequenas imperfeições são inexistentes: ninguém tem rugas, manchas na pele, borbulhas, caras cansadas, ou rabos grandes. Durante as horas passadas na segunda vida, quase podemos acreditar na perfeição do nosso outro corpo. O difícil depois é desligarmo-nos da invasão de beleza pixelada e reencontrarmo-nos com a colecção de minúsculas imperfeições que carregamos connosco nesta vida.

Queres casar comigo?


23 julho 2008

Eu proscrastino. E tu, procrastinas?

Não é bem a palavra de ordem no meu momento de vida (é mais esta).
Deixo, de qualquer modo, este vídeo muito bem esgalhado que retrata LINDAMENTE aqueles momentos que nos paralisam. Bloqueando a acção. E as ideias. E tudo o mais.
Ladies gentleman: meet procrastination.

(Xôoooooooooooo!)

Senhoras e senhores

apresento-vos a MARIQUITA PEREZ


21 julho 2008

O busto de Napoleão.

Desafio, fio fio...as minhas queridas múltiplas a escreverem uma ou mais postas tendo por tema "O busto de Napoleão".

O conteúdo fica ao critério de cada uma, é dado camarada.

As postas serão publicadas todas no mesmo dia, sugiro que seja na próxima segunda-feira, para termos uma semaninha inteira (podem ir escrevendo e programar para serem publicadas nesse dia). Em cada posta, deverão escrever "o busto de napoleão" nos labels.

Aceitam?

Imagem do dia


foto daqui

20 julho 2008

Muito mal distribuído

Não há pouco homens interessantes, estão é mal distribuidos. Só a Jessica Lange ficou com dois dos mais invejáveis de todo o planeta terra.


Mikhail Baryshnikov, com quem tem uma filha


Sam Shepard, com quem está casada há mais de 20 anos e de quem tem dois filhos

Muito mal distribuído II

A Penélope Cruz não lhe quis ficar atrás, abarbatou-se a três dos mais profundamente potáveis que há.

com Tom Cruise, com quem andou a dar umas curvas antes de ele se ter passado da cabeça (ou terá sido por isso?)

Com Mathew McConaughey, que depois dela só faz filmes da tanga (terá sido por causa disso?)

Com Javier Bardem - Penélope filha, se me desgraças este vou-me a ti e ficas toda negra!

19 julho 2008

O lago dos cisnes

um clip de uma companhia de bailado chinesa. Really amazing!

Deus está em toda a parte

É um frade italiano, Frate Metal. Diz de si próprio que é um predicantor. Há mais de uma década apaixonou-se pelo Heavy Metal, pela força que tem este estilo de música. Tem uma banda metaleira e canta para multidoes, canta para fazer as pessoas acordarem para a vida, para sentirem a vida e a sua intensidade. Fala do alcóol, das boas sensaçoes que dá e do perigo do seu abuso, fala do sexo e de como deve ser feito com responsablidade, canta cançoes à Virgem com o estilo metal. E deixa bem claro, uma coisa é o heavy metal, outra é o satanismo; o heavy metal é vida, pura vida, pura energia.
Adoro personagens assim, que se permitem sair daquilo que se espera delas socialmente. De facto, deus pode estar em toda a parte e de todas formas. Aleluia...

18 julho 2008

Hoje



Hoje, 18 de Julho, às 10.30 da manha, hora colombiana, no auditório Virginia Gutierrez, haverá a cerimónia de Graduaçao de todos os estudantes de licenciatura, mestrados e doutoramentos da Universidad nacional da Colômbia. Até hoje sempre fugi de todas as cerimónias académicas, recepçao dos alunos, queima-das fitas, festas de fim de curso, entrega de diplomas, aulas de inauguraçao. Talvez por preconceito, por achar piroso, ou por resistência aos rituais colectivos que formalizam determinadas situaçoes, ou porque a escola e o estudar sempre foi uma coisa tao naturalizada que nunca lhe dei a suficiente importancia, sem que isso quisesse dizer que nao gostasse de estudar, ao contrario sempre gostei muito de estudar , mas de ir às aulas só gostei mesmo na universidade. Mas pelos muitos obstáculos que teve esta minha defesa de tese de mestrado, hoje sinto-me contente pois os meus amigos vao-me representar e vou receber o diploma do mestrado. Hoje vamo-nos todos graduar, eles, que viveram intensamente este meu proceso de estudo, vocês que acompanharam e apoiaram o MC-L7C e eu, que estudei, fiz a tese e a defendi. Por isso, tchim tchim, à nossa saúde!

17 julho 2008

wordcode

Numa reunião, a chefe faz o seguinte comunicado à equipa:

- A partir de hoje, nesta redacção não se diz mais prenda, vermelho, funeral, sanita. Quero que substituam esses horrorosos vocábulos por presente, encarnado, enterro e retrete.

Levanta-se um braço : 'posso fazer uma pergunta?'

- Pode.

- E fodasse, caralho, filhodaputa, sacana, merda e cabrão, pode-se dizer?

- Ai isso claro que pode!

Serviço público estético


Para quem não sabe quem é o treinador do Benfica, Quique Flores, aqui deixamos uma prova irrefutável de que é um senhor bem apessoado.
Ninguém pára o Benfica oééôooooooh

Um dia o Benfica vai ter um treinador giro

Hoje é o dia.

Com um brilhozinho nos olhos

Uma viagem, um companheiro de aventuras, uma múltipla para me acolher, Tom Waits a cantar para mim. O que poderia correr mal?

Pelo menos o avião. A viagem de ida foi tão má que dei por mim a fincar as unhas no antebraço do Jonas, enquanto tentava com dificuldade manter a postura de condessa russa no exílio. Enquanto pensava que se sobrevivesse voltaria para casa de comboio, umas lagrimitas escaparam-me inadvertidas, as malandras. Quando chegámos a terra firme tive vontade de fazer a minha Bento XVI impersonation, mas a condessa russa que vive cá dentro não deixou. E foi pena, as pessoas teriam decerto apreciado. Especialmente as que estavam prestes a embarcar no avião que eu estava com alegria a abandonar.

Enquanto o Tom cantava em San Sebastián passeávamos com a múltipla pelas Ramblas, Paseo de la Gracia, Parque Guell, Sagrada Familia e La Pedrera, comíamos tapas e bebíamos cañas. Gelados em Barceloneta, funicular até Mont Juic, a fonte de mercúrio do Calder na Fundação Miró. Era só para fazer tempo, claro, Barcelona é uma maçada.

Ficámos entusiasmados com a crítica ao concerto basco. Fascinante, formidável, indefinível, impactante, cúmplice, formoso foram alguns dos adjectivos usados para descrever o homem e o seu concerto, de resto o primeiro da tour europeia. As expectativas não podiam estar mais altas.
(Lemos que ele fez umas férias por Espanha com a família antes de começar a digressão. Terá entrado num cabeleireiro algures em Euskadi e pediu ao barbeiro de serviço Could you give me a Tom Waits hair cut? Não sabemos se a piada foi apreciada).

No dia do concerto démos uns passeios mais curtos, a preparar o corpo e a alma para o que nos aguardava essa noite. Chegámos ao auditório 1h3o antes do início, para reconhecimento do terreno. Já estava cheio de gente cujos olhos brilhavam tanto quanto os nossos. Entre os 30 e os 60, sentia-se o entusiasmo adolescente no ar. Encontrámos vários com o look camisa e chapéu displicente, uma espécie de cortejo de Elvis revival mas com pianos bêbedos em vez deles - uma visão um pouco insólita mas eles estavam felizes e convictos da sua escolha de guarda roupa, e nós demasiado excitados para nos importarmos. Estávamos todos ali unidos por uma força maior, a convicção de que em breve iríamos todos fazer parte de uma coisa magnífica e única.

O tempo passava devagar e depressa ao mesmo tempo. Fomos descobrir os nossos lugares, mas como quase todos os outros ficámos de pé a admirar o palco e os instrumentos durante imenso tempo, a gozar a antecipação. Eu de vez em quando dava uns gritinhos e uns espasmos descontrolados com os braços (a condessa deixa), o Jonas ria-se. Eu pedia desculpas (a condessa mandava), o Jonas dizia que também estava a sentir o frisson e eu deixava de me sentir parva. O Jonas é um cavalheiro, está visto.


Às 21h30 estávamos todos sentados nos nossos lugares, à espera. De vez em quando as pessoas aplaudiam, outra batiam com os pés e nada. De repente as luzes apagaram-se e o entusiasmo foi geral. Voltaram a acender-se e o burburinho deu lugar a uns urros indignados. Nós deixámos de falar e eu só fazia filmes de terror na minha cabeça, que o concerto tinha sido cancelado, que o homem estava de caganeira derivado às tortilhas estragadas ou dalgum calamar com óleo velho, o colon dá de si quando se começa a entrar na terceira idade.


Mas de repente


Foto daqui

Tem razão este quando fala da voz de taberneiro, um velhote afónico-aguardentoso que se mexe como um chimpazé, mas acho que o Tom Waits ia gostar de saber que acertou no alvo. Também este com a metáfora do parto da borboleta, por causa dos problemas com o som, que lhe distorcia a voz para além do que ele faz naturalmente e da demora no arranque do concerto, em vários sentidos.

Os músicos que o acompanharam eram irrepreensíveis - Larry Taylor (baixo), Patrick Warren (teclas), Omar Torrez (guitarra, magnífico), Vincent Henry (sopros) e Casey Waits, seu filho (bateria, da leva de 1985). Essa foi a noite em que fez estrear no palco o seu segundo filho Sullivan, 15 anos e a tremer entre os batuques e o clarinete.

Foi muito bom mas não foi mágico. Tirando a parte em que se sentou ao piano de cauda que o esperava na direita baixa, e acabou a derreter-nos todos com You can never hold back spring ou o Innocent when you dream. As suas palavras de sabedoria entre actuações, essas, ficam entre nós e ele. A paixão alimenta-se a pão do ló.

confusão. natural?

Hoje faz anos. Muitos e bons. Conhecia-a há também muitos e bons anos, quando andavámos à roda dos 20 e a sua marca de distinção era uma saia comprida e uma garrafa de litro e meio de água na mão. Fumava desalmadamente, até quando lavava os dentes deixava o cigarro ao lado e retomava-o já com a boca fresquinha. Depois, iniciou-se no maravilhoso mundo dos cremes, na mini-saia e na aprendizagem de saber apreciar o seu corpo. Hoje, deleita-se a pintar as unhas dos pés e das mãos, deixou de fumar, faz ginástica regularmente, comove-se por tudo e mesmo por nada, tem uma tendência única para fazer filmes e inventar histórias terríveis na sua cabeça e mantém intacta as suas três maiores qualidades: o seu sentido de humor, a sua capacidade de rir de si própria e a sua tenacidade e preseverança para os seus projectos de vida.


Hoje faz 40 anos.


Muitos e muitos parabéns minha muito querida amiga de tantas coisas passadas e por passar.

16 julho 2008

Os vendedores de ilusões de Sandomil

Há quem diga que a ficção é mais estranha que a realidade. Eu até concordo, regra geral, com esta afirmação, não fosse a própria realidade desmenti-lo, de quando em vez. O que se segue é uma história real. Qualquer semelhança com a ficção é pura coincidência.

Final de tarde de um qualquer dia de Verão do ano passado. Carrego um remo de metal em cada uma das mãos, depois de uma hora a tentar remar, num esforço inglório, 200 metros do rio Alva. Um rápido pequeno, mas muito eficaz como obstáculo, fez com que andasse para cima e para baixo, para cima e para baixo, até me cansar das mesmas árvores, do mesmo moinho, da mesma água. Dirijo-me em passo lento para o bar, a arrastar os pés o mais que posso. Gosto do som que as sandálias fazem quando deslizam por entre a folhagem.

Chego ao bar, entrego os remos, peço uma cerveja de pressão. Apoio um dos cotovelos no balcão e rodo o tronco. Detenho-me a olhar para uma longa fila de mesas de madeira, com bancos corridos de madeira, uma ou outra ocupadas por trabalhadores em final de dia de trabalho, bebendo as indefectíveis minis. Para lá das mesas uma paisagem que me parece um quadro impressionista: um curso de água ladeado por árvores grandes e frondosas que deixam entrar fios de luz, esbatendo no espelho de água o reflexo das árvores. Momento perfeito, diria, quando, de repente, ouço um escarcéu digno da defunta feira popular.

- O que é que se vai passar aqui? pergunto à dona do bar.
- Ah, é um ilusionista que já vem cá pelo segundo ano e está a preparar o aparato para o espectáculo de hoje à noite. Mas já lhe disse: 'olhe que é a última hipótese que lhe dou!'.
- Então porquê?
- O ano passado começou a beber estava ainda a preparar o espectáculo e quando chegou o momento tiveram que o levar em braços dali para fora. E isto já cheio de pessoas, famílias com crianças, à espera do que não se realizou. Olhe, foi uma vergonha para mim e para o homem. Este ano voltou a aparecer, mas eu disse-lhe: 'olha, tu porta-te bem senão acabo logo com o arraial num piscar de olhos'.
- Pois, digo eu, mais um golo na ‘jola, enquanto a observo a esfregar vigorosamente o balcão.

A dada altura, um homem que se encostava, tal como eu, no balcão resolve entrar na conversa:
- Eu também já tive a minha época aqui em Sandomil.
- Ai é? E o que é o que o senhor fazia? (olhe, mais uma cerveja se faz favor).
- Bom, eu tinha um projector e tinha uns filmes e quando as noites estavam quentes projectava-os numa parede ali atrás. Era um autêntico cinema ao ar livre!
- E que filmes é que passava?
- Ora bem, no início da noite projectava grandes êxitos para as famílias. Mas depois, quando a noite se tornava noite, havia um grupo que me desafiava para passar uns filmes...
- Uns filmes?
- Sim, aqueles filmes, está a ver? Só para adultos...
- Ah! (bom, havia que responder aos apelos da audiência, penso eu, e aos vários públicos ali presentes na pequena aldeia de Sandomil). Então, e ainda continua a projectar?
- Infelizmente tive que abandonar a profissão...
- Então porquê?
- É que numa dessas noites, e se a noite já ia bem longa!, estava a passar um desses filmes quando de repente entra uma família inteira no local da projecção. O homem ficou tão doido que só tive tempo de agarrar no projector, pegar na minha Casal (mota) e arrancar a toda a velocidade de Sandomil. Só parei em São Gião. Deixei-me disso e não apareci por ali durante uns tempos valentes.

Sandomil, terra pitoresca. Uma fatalidade para os vendedores de ilusões.

A broncar

Nem só de textos a armar ao literário vive este blogue. Desçamos à realidade, deixemo-nos de brincadeiras e mergulhemos no maravilhoso mundo das inconveniências e gaffes. Alguém tem para a troca?
Num velório, o meu bisavô quis animar o viúvo.
- Não pense mais na morte da bezerra, disse ele.
O meu bisavô nunca percebeu porque razão o amigo nunca mais lhe falou.

só a brincar

E agora eu era arqueóloga e desenterrava pedaços minúsculos de passados distantes, o fragmento de um prato, um osso amarelecido, pedaços minúsculos de passados distantes onde fui feliz infeliz alegre solitária, provas irrefutáveis da minha existência ao longo dos dias e noites até chegar a este momento em que brinco mais uma vez, agora eu era arqueóloga e varria a terra que cobria um objecto informe até encontrar a veia do meu coração.

palavras belas que ajudam a pensar na vida e na morte

Orla Marítima

O tempo das suaves raparigas
é junto ao mar ao longo da avenida
ao sol dos solitários dias de dezembro
Tudo ali pára como nas fotografias
É a tarde de agosto o rio a música o teu rosto
alegre e jovem hoje ainda quando tudo ia mudar
És tu surges de branco pela rua antigamente
noite iluminada noite de nuvens ó melhor mulher
(E nos alpes o cansado humanista canta alegremente)
«Mudança possui tudo»? Nada muda
nem sequer o cultor dos sistemáticos cuidados
levanta a dobra da tragédia nestas brancas horas
Deus anda à beira de água calça arregaçada
como um homem se deita como um homem se levanta
Somos crianças feitas para grandes férias
pássaros pedradas de calor
atiradas ao rio em redor
pássaros compêndios de vida
e morte resumida agasalhada em asas
Ali fica o retrato destes dias
gestos e pensamentos tudo fixo
Manhã dos outros não nossa manhã
pagão solar de uma alegria calma
De terra vem a água e da água a alma
o tempo é a maré que leva e traz
o mar às praias onde eternamente somos
Sabemos agora em que medida merecemos a vida

Ruy Belo
de Homem de Palavra[s], 1970

15 julho 2008

Congelados



Na manhã de um sábado em Nova Iorque, a estação Grand Central foi invadida por mais de 200 pessoas que congelaram durante cinco minutos. Foi mais uma missão da Improv Everywhere. Vale a pena ver as partidas encenações teatros invisíveis que fazem. E também o blogue Urban Prankster.

Tacones lejanos


imagem aqui

Estão na moda os sapatos (ou sempre estiveram), mas o que está mesmo na moda é falar deles, exibi-los, mostrá-los, enaltecê-los, discorrer sobre marcas, à semelhança da loura que protagoniza a série/filme 'O Sexo e a Cidade' e que, supostamente, é uma shoe-addicted. De qualquer modo, frise-se que não tenho nada contra esta moda, eu sou a favor de todas as liberdades individuais possíveis, desde que não chateiem o colectivo.

Nunca fui muito dada ao culto dos 'pés'. Mas, a bem da verdade, também eu tive a minha época em que usava (e gostava) de sapatos de salto alto. Parecia, à data, que quanto maior o salto ou a cunha, maior o sucesso junto da 'audiência' (ainda bem que esse tempo foi o dos 8cm e não o dos 12cm estipulados pelos actuais ditâmes da moda). Faziam-me sentir poderosa no início da noite mas, invariavelmente, infeliz no final da mesma. Lembro-me de noites antológicas descalça, planta dos pés preto e de sapatos na mão, tamanha era a tortura a que tinha sido sujeita. Aí compreendi na pele a expressão 'tortura chinesa', que - já se sabe - passava pelo sacrifício da bendita base que nos apoia. All for beauty's sake.

Anos volvidos, descobri a luz. A primeira vez que as vi não queria nem olhar para elas. 'Não sou capaz, isto é a fealdade, isto é horrível, não quero. 'Anda lá (passando o pleonasmo), vais ver que tudo muda na tua vida'. Uma viagem a Veneza (cidade onde se tem que andar inevitavelmente muito e muito a pé) quebrou a minha resistência inicial. Foi então que baixei a guarda e capitulei.

É é assim que todos os anos aguardo com impaciência o momento em que vou tê-las de novo nos meus pés. Fosse uma escolha minha (ou seja, se borrifasse no dresscode do meu trabalho), não calçaria outra coisa durante todo o Verão.

So, ladies & gentlemen, meet my TEVA.

P.S. De qualquer modo, todos os 8cm continuam religiosamente guardados. Os desígnios do destino ainda permanecem insondáveis, para mim, nesta matéria.

11 julho 2008

o céu é o limite

(...)
- E achas que a água vai estar mesmo morna para nadares?
- Sim! Olha, eu tenho umas braçadeiras.
- E para que queres tu as braçadeiras?
- Para nadar.
- Mas... Já sabes fazer de morto?
- Hummm...
- E nadar de costas? E mergulhos de cabeça? Sabes?
- Acho que consigo fazer o pino no chão do mar.
- Isso é bom. Mas giro, giro era se tivesses uma prancha de bodyboard, apanhávamos umas ondas, fazíamos carreirinhas... O mar era NOSSO!
- Mas eu não posso fazer isso sozinho!
- Vais comigo. Comigo consegues fazer TUDO!
(silêncio)
- Ai é? Então quando deres um salto e conseguires tocar com a cabeça nas nuvens depois diz-me como foi.

(Conversa com o meu sobrinho de 5 anos, hoje)

10 julho 2008

RATM HOJE no ALIVE a não perder!

RATM - Sleep now in the fire


The world is my expense
The cost of my desire
Jesus blessed me with its future
And I protect it with fire
So raise your fists and march around
Dont dare take what you need
I'll jail and bury those committed
And smother the rest in greed
Crawl with me into tomorrow
Or i'll drag you to your grave
I'm deep inside your children
They'll betray you in my name

Hey!
Hey!
Sleep now in the fire

Hey!
Hey!
Sleep now in the fire

The lie is my expense
The scope with my desire
The party blessed me with its future
And i protect it with fire
I am the nina, the pinta, the santa maria
The noose and the rapist, the fields overseer
The agents of orange
The priests of hiroshima
The cost of my desire
Sleep now in the fire

Hey!
Hey!
Sleep now in the fire

Hey!
Hey!
Sleep now in the fire

For it's the end of history
It's caged and frozen still
There is no other pill to take
So swallow the one
That makes you ill
The nina, the pinta, the santa maria
The noose and the rapist, the fields' overseer
The agents of orange
The priests of hiroshima
The cost of my desire
Sleep now in the fire

Rage Against The Machine, renascidos das cinzas dos Audioslave, depois da incursão de Chris Cornell numa nova carreira a solo, com o tão desejado regresso do frontman Zack de la Rocha. Aqui fica Sleep now in the fire. Grande videoclip e grande letra.

Gavetas

Quando eu tinha catorze anos o futuro era um país do outro lado do mundo. Lembro-me de tentar imaginar como seria a minha vida com vinte e oito anos e via-me casada, com filhos, algumas rugas, a vida organizada e muitas certezas. Os vinte e oito já passaram por mim e não fui nada disso. As gavetas que tinha inventado para arrumar o meu futuro continuam sem grande coisa lá dentro. Sobretudo aquela onde pensei que iria guardar as certezas.

Sabedoria Turca

Se nao gostas do caminho por onde segues, muda de rumo.

Boas notícias via rádio

De manhã e ao fim do dia, a certeza de que Portugal é o país mais verde da Europa. Sem ser em Lisboa e Porto nunca há trânsito em lado nenhum.

08 julho 2008

Sh!


Uma loja feita para mulheres, com humor, inteligência e descontracção. Lá dentro, prateleiras com óleos, cremes, livros, filmes, roupa e muitos acessórios. Uma funcionária mostrou-nos como funcionavam os vibradores, outra depositava nas nossas mãos amostras dos lubrificantes e usava a sua experiência para nos aconselhar este ou aquele, outra ainda levou-nos até à prateleira dos jogos e deixou-nos descobrir as muitas maneiras de compor a estante da vida sexual a dois.
A Sh! não ensina as mulheres a enlouquecerem os homens na cama (ou onde for). Pelo contrário, preocupa-se em ensinar as mulheres a terem prazer, sozinhas ou acompanhadas com quem quiserem.
Para quem não pode ir a Shoreditch, em Londres, aqui deixamos a loja online onde também podem descobrir conselhos Sh! Girlz. Porque o prazer é um direito ao qual não devemos renunciar. Nunca.

07 julho 2008

Misoginia feita à maneira

Ainda há umas semanas se queixava a Maria Teresa Horta, num chinfrim de meter feministas brasileiras à mistura, a pedirem o rolar de cabeça de inúmeros baptistas inconvenientes, por ousarem imaginar que a implosão de mamas de silicone seria um boa forma de protesto (e eu continuo achar uma excelente ideia, tirando o preço a que está o litro de silicone e nitroglicerina).


Compreende-se que Maria Teresa esteja preocupada com o futuro do feminismo. Os perigos continuam a brotar de todos os lados, agora o inimigo são as novas tecnologias.


A Apple desenvolveu a nova coqueluche dos telemóveis, que responde aos estimulos enviados pelas pontas dos dedos. Ora, e os direitos das mulheres que têm unhas compridas?



Feministas de pelos nas pernas e nas axilas, sem soutien e em recusa total de maquilhagem, verniz de unhas e outras utensílios e ferramentas dos machitas para seu prazer exclusivo? Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, a luta agora é pelo direito à unha comprida. Toma lá que já almoçaste.

06 julho 2008

Beatices

«Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.» Evangelho segundo S. Mateus.
Santo Agostinho diz esta coisa fantástica: "Quem me concederá que repouse em ti? Quem me concederá que venhas ao meu coração, que o entusiasmes para que eu esqueça os meus males e possa escutar-te, a ti, meu único bem? Quem és tu para mim? Tem piedade de mim, para que eu possa falar. Que sou eu a teus olhos, para que tu me mandes amar-te?... Na tua misericórdia, Senhor meu Deus, diz-me o que é que tu és para mim."

No comments

Este meu dia.

Mudam-se os tempos

Quando era adolescente, tinha de namorar às escondidas dos meus pais. Agora que sou uma mulher madura, tenho de namorar às escondidas da minha filha.

05 julho 2008

Eu

Sou uma mulher forte. O que não quer dizer que não seja frágil.

Adenda: "Não se pode acreditar no riso de uma mulher inteligente que nunca chora: ela ri-se quando tem vontade de chorar." Anton Tchekhov no Estado Civil.

04 julho 2008

dificuldade educacional vi

Aceitar, serenamente, que “É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma” (Giuseppe Tomaso di Lampedusa) .

maleitas

Com a porcaria dos ares condicionados, que me fazem ter que ir para o trabalho com um casaco de lã com capuz, ontem fiquei todo o dia imobilizada com um "vento" que me deu no pescoço e nas costas. O que me valeu foi o emplastro leão e o parasextamol que o meu enfermeiro de cabeceira me aplicou.

02 julho 2008

Ambiente laboral

No meu trabalho partilho uma sala pequena e sem janelas com mais colegas, algumas vezes estou sozinha, mas em geral estou sempre com mais colegas. Outro dia cheguei e estavam lá 3 colegas, uma delas era a primeira vez que nos conhecíamos. Apresentámo-nos, dois dedos de conversa e comecei a escrever no computador. Passados uns minutos diz-me esta colega: desculpa lá a pergunta, mas tu fazes sempre assim tanto barulho a escrever? Surpreendida, fiquei um bocadinho a mastigar a pergunta, mas lá respondi, por acaso já me tinham dito que eu parecia uma metralhadora num teclado, deve ser porque estou habituada ao portátil. Ahh, volta ela à carga, ainda pensei que podia ser do teclado e se assim fosse eu pedia para que te o trocassem. Uns minutos de silêncio, continuo a escrever, um bocado inibida a tentar ser mais suave com as teclas, mas rapidamente começo a concentrar-me no texto e desligo. Ela volta à carga: e quais são os dias em que trabalhas à tarde? Terças e quintas, respondo. Ahhhh, eu também, diz ela com uma voz (e uma cara) claramente desapontada. Depois de outro silêncio, acrescenta, eu ando muito sensível, deve ser da gravidez.
E pronto, lá passámos a meia hora seguinte a falar das crises da gravidez e do caso da mulher que não podia ver o marido durante a gravidez e de outra que não suportava a comida que ela própria cozinhava e de outra ainda que andava obcecada em ir para a cama com o marido da vizinha, até que o futuro pai lá teve que ir pedir ao vizinho que por favor se deitasse com ela que ele estava com medo que alguma coisa acontecesse ao bebé.

01 julho 2008

Desta vez dou-te a razão

"All that is necessary for evil to triumph is for good men to do nothing"*
Edmund Burke

*conclusão de um mail de uma irmã (depois de nos termos chateado à brava, por mail, a mais de 6 mil km de distância, mesmo com as montanhas e os mosquitos e a humidade peganhenta entre nós).

Tenho tantas saudades tuas.

Os contabilistas

Depois de horas e horas a torrar neurónios com um relatório financeiro dou por mim às voltas com uma pergunta: que acontecimento traumático faz com que alguém queira ser contabilista? Ou deverá a resposta a tão insondável mistério ser procurada num ainda desconhecido defeito genético?

Para averiguar do seu grau de brilhantismo

Conferência de imprensa do Tom Waits no lançamento da nova tour, glitter and doom. Ver até ao fim, para averiguar do seu grau de brilhantismo.



Não sei se já vos tinha dito, mas eu vou lá estar!!

Mais uma pérola...

Classificado online:

Vende-mos todos os animail de estimação que quizerem, menos cães, gatos, passaros!
Depois cominamos o preço!

Tudo o que sempre quis saber sobre fetiches e não sabia a quem perguntar

Clicar para aumentar e conseguir ler


Diagrama desenvolvido por Katharine Gates, enquanto escrevia o livro Deviant Desires: incredibly strange sex. Depois disto, a expressão há de tudo como na farmácia soa a boca de totós.

Agenda cultural - be there or be square

Contos em viagem - Cabo Verde é um espectáculo lindo. De ver, ouvir, sentir, cheirar. Estar ali e estar noutro lado. Com o corpo da Carla Galvão, a música e a companhia do Fernando Mota, as palavras dos autores escolhidos pela Natália Luiza e o Miguel Seabra. Mais uma encenação de ver e chorar por mais do Meridional. De 4ª a domingo às 22h00, até 3 de Agosto.


Fotografia de Patrícia Poção

A bilheteira abre 1h antes do espectáculo, pode reservar pelo telefone. Entre 5€ e 10€.

TEATRO MERIDIONAL
Rua do Açucar 64 - Beco da Mitra
Poço do Bispo
1950-009 Lisboa
Tlf. 21 868 92 45

PS - Foi com este espectáculo que agora repõe que a Carla Galvão foi nomeada para os globos de ouro. A Beatriz Batarda passou-lhe a perna este ano, mas não perde pela demora.