30 setembro 2007
Receita
Quando terminar, respire outra vez fundo, beba dois goles de água e veja o vídeo.
Fica-se como nova!
A bola é redonda, tudo pode acontecer
Todos exibimos os nossos cachecóis com águias, o pequeno infante leva um leão na sua. Não há de ser nada. Chegamos aos lugares marcados, que isto de ir ao estádio já não é o que era, os lugares são reservados e nos inúmeros bares à escolha lá dentro até há sandes de queijo da serra ou de paio de porco preto, os couratos já devem ter dado a alma ao criador, sentamo-nos mesmo em frente à bandeirola de canto. Que emoção, com sorte vemos o golo da vitória em primeiro plano, ao vivo e a cores.
Um rapaz aproxima-nos para nos dar um conselho: é melhor que o miúdo esconda o cachecol verde, vá-se lá saber porquê sentaram-nos ao lado (mas mesmo ao lado, quase ao colo) dos Diabos Vermelhos, que ainda na semana passada ameaçaram de pancada uma mulher que era da equipe contrária e que teve o azar de se sentar perto deles. Um dos stewards vem-nos dizer a mesma coisa. Eu, que já não ia muito feliz para um sítio com milhares de pessoas potencialmente agressivas, começo a hiperventilar. Como se não bastasse, a Juve Leo está posicionada no outro canto da mesma baliza, a acicatar as almas que foram chegando para ocupar o sítio da claque. Aquela gente nem está interessada no jogo, vêem já ébrios destilar o seu fel do dia a dia para um alvo de cor diferente. As massas acéfalas assustam-me de morte.
Ajudadas pela chuva que nos encharca, tentamos procurar um sítio mais tranquilo para ver o jogo com a criança. No meio disto, tentamos explicar a uma inocente criatura de 7 anos que há gente que nos pode fazer mal apenas porque ele gosta da equipe contrária. A natureza humana é tramada.
Depois de muitas voltas e indecisões, descobrimos finalmente um sítio onde parecemos a salvo. Por incrível que pareça, o oásis estava entre as duas claques, que se coibiram de nos brindar com granadas de ataque e defesa por cima das nossas cabeças.
Duas filas atrás de nós estavam 3 mulheres sentadas, vestidas de encarnado dos pés à cabeça. Gritavam e berravam os maiores impropérios aos jogadores do sporting. O miúdo, espantadíssimo, olhava para elas que lhe iam repetiam "oh amor tu não oiças isto", "oh amor, isto não é para repetires", enquanto para baixo atiravam "oh palhaço, a multiópticas já dá desconto igual ao da idade" "Cabrão, cona da mãe, a tua avó nunca devia ter nascido!" "Liedson, devias era partir uma perna, paneleiro de merda", pontuado com "ai se a minha mãezinha me ouvisse". O estímulo aos jogadores preferidos também era bom de ouvir "Luisão, seu cabeçudo, a tua cabeça vale ouro" "ah grande Quim, anda cá que eu já te conto". Enquanto isso, Di Maria insistia em não acertar.
No final de contas, a batatada maior a que assistimos foi em campo, mesmo à nossa frente que tivemos a sorte de ver que a bola bateu no ombro do Katsouranis e toda a gente pedia penalti sem se perceber porquê. Até o santo do Rui (por esse gritava eu) se meteu ao bedelho.
Pouco depois houve finalmente um lance que ia dando golo ao Sporting. O miúdo já pensando que não sofreria sevícias, não se controlou e gritou "GOLO!". Viraram-se centenas de cabeças para ver quem era o anormal. A nossa sorte foi ter sido apenas falso alarme.
Viemos embora, incólumes mas pouco satisfeitos com o resultado. No carro ouvimos os comentários na TSF. Veio-me à memória uma tirada de um vizinho de cativo de há uns anos atrás, que no final de um jogo exclamou, batendo com as mãos na barriga, "aaah, agora vou para casa, comer que nem um porco e ver os resumos todos". Burp.
29 setembro 2007
Once in a lifetime
Andava eu por aqui e por aqui , quando tropecei nesta notícia e respectivo vídeo.
E não é que, pela primeira vez na vida, estou de acordo com qualquer coisa que Pedro Santana Lopes disse e/ou fez? Foi-se embora? Não quis falar mais? Fez muito bem. A SIC esteve mal, atropelando princípios básicos de educação e de respeito. Nem que seja para (não) entrevistar o 'the special one'. Ou o papa. Ou o zé dos plásticos.
(e acabei de saber agora mesmo, pela mesma SIC, que Luís Filipe Menezes sucede a Marques Mendes na liderança do PSD. Com a possibilidade de Santana Lopes se candidatar à liderança parlamentar. Parece que Pacheco Pereira está muito melindrado. É ir aos respectivos blogues e confirmar como vão os moods.)
Ordem e desordem
Durante 3 semanas assim foi, o tal do deadline ocupava todo o espaço da minha mente, da minha vida, do meu tempo. Felizmente, o famigerado dia chegou, o deadline foi cumprido e lá recuperei a minha vida. Pensei então: aaaaaah! agora é que vai ser aproveitar o tempo e a vida que me foram devolvidos! Nessa mesma noite fui sair, assisti um qualquer espectáculo, jantei fora, bebi uns canecos. No dia a seguir acordei à hora que o meu corpo julgou necessário.
Sábado início de tarde - olho em volta e vejo a casa de pantanas, como já não tinha memória. Deve ser falta de cafeína, vou fazer um café, é isso, não pode estar assim tão mal. Pego na cafeteira que tem uma crosta preta agarrada ao fundo. Ok, toca de a esfregar. O café pinga e eu começo a vislumbrar a dimensão da entropia que se instalou no meu cubiculum vitae: pilhas de jornais espalhados por todo o lado, louça e mais louça por lavar, lixo cheio... Abro o frigorífico e julgo ver um alien lá dentro. Fecho-o horrorizada, mas como preciso do que lá está, resolvo fazer a limpeza necessária. O conteúdo do frigorífico vai na sua grande maioria para o lixo, resolvo atar o saco bem atado, não vá ele ganhar pernas e andar.
Sento-me com o café na mão e olho para o chão: vejo novelos de cotão, migalhas, sapatos por todo o lado, roupa, livros. As minhas probres plantas que olham murchamente para mim. Hummmm... Começo a recolher tudo, a arrumar, a limpar, a lavar...
4 horas depois - a casa está mais ou menos decente, já fiz 3 máquinas de roupa. O tempo colabora, ao menos isso. Agora tenho que ir à compras e adquirir o que me falta, deve haver uma conspiração qualquer, invariavelmente a pasta-de-dentes terminha na mesma altura que o detergente para a louça, assim como o amaciador do cabelo, entre outros. Já para não falar na comida que é inexistente, aprodreceu ou ganhou nova vida. Saio de casa e vou para uma grande superfície. Uau! Programão para um sábado à tarde...
2 horas depois, regresso do hiper. Toca a arrumar tudo. Entretanto, decido tomar banho e descubro que a minha roupa ou está suja, ou por secar ou então - pior! - por passar.
4 horas a passar roupa a ferro. Não existe tarefa mais inglória que esta. Decidi abolir as camisas do meu vestuário.
Faço o jantar e acabo o dia mais exausta que qualquer um dos 21 dias que trabalhei ininterruptamente.
Se a minha vida regressa desta forma, então quero a minha não-vida de volta.
Coisas de óptica
Remember my name
Vi este senhor pela primeira vez esta noite, mas creio bem será coisa para se repetir amiúde nos próximos tempos. O senhor que era até ontem mais conhecido pelos cidadãos de Ílhavo como o seu presidente da câmara (também responsável pela administração geral, recursos humanos, cultura, saúde, planeamento e ordenamento da cidade) é o porta-voz de Luís Filipe Menezes.
Eu via-o impante a falar e no meio dos substantivos e predicados parecia-me estar perante uma caricatura em vez de uma pessoa. Uma espécie de Santana Lopes mais feio e com defeito na fala. Isto vai ser um pagode para os comediantes com talento em Portugal.
Ribau Esteves de sua graça.
28 setembro 2007
Ainda o portão da escola
27 setembro 2007
Dúvida sobre o amor moderno
26 setembro 2007
Insólito ignoto
Como alemão organizado que se preze, apetrechou-se correctamente. Calças e camisola preta, botas de escalada, mochila, cordas, arnês. Foi dura a subida, mas conseguiu atingir o 2º andar do edifício usando a sua destreza e força física, no auge dos seus 41 anos, qual Cary Grant. Preparou-se então para encontrar o melhor sítio para furar o chão e assim passar pelo tecto do consultório almejado, mas estava na sua noite de sorte: havia uma janela. Perfeito, pensou certamente, assim nem tenho de fazer barulho nem sujar nada. Abriu-a e fez-se baixar com elegância com uma corda como Tom Cruise e aterrou na sala debaixo sem fazer ruído.
Em vez dos apetrechos médicos soou um alarme inesperado e em poucos segundos viu-se rodeado de inúmeros polícias.
Havia-se enganado na planta do edifício, em vez do consultório entrou por uma sala de interrogatórios da esquadra de polícia de Ludwigshafen.
Strange but true, for truth is always strange. Stranger than fiction. (Lord Byron)
* nome fictício, assim como todos os detalhes.
Bons encontros
"Quem me dera ouvir de alguém uma voz humana, que confessasse não um pecado, mas uma infâmia, que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam."
Álvaro de Campos
E mais nada!
Pois é sim senhora! Viver mata, a vida é uma doença crónica. Agora experimentem lá morrer sem estar vivos, não dá, é condição para morrer o estar vivo. Não há cá segundas hipóteses. Pois é, como faço para fugir da morte? mato-me?
Da mesma forma que experimentar viver estando mortos é outra grande chatice, clinicamente possível mas uma complicação com mazelas imprevistas.
Desculpem lá, é que tem dias que uma pessoa acorda assim optimista. E além disso, as árveres somos nozes, olha que porra!
24 setembro 2007
Pena de Morte II
Palavras sabias do Rafael
- Sabes, eu sei falar inglês.
- Ai sim? Que bom!
- Queres ver? "Fak iu"!
Olha Rafael, até que te percebo bem...
Distracção III
"diz filha, já tás acordada?"
"que tás a fazer mãe..?
"são três da manhã mãe...."
Distracção II
"diz filha..."
"para onde é que tou a ir? atão, para o fim da fila...."
Distracção I
A minha mãe gesticula, de braços no ar, apanhada de surpresa, a tentar desesperadamente relembrar o francês do liceu e fala muito sem dizer coisa nenhuma.
"la bas...vous allez..."
E os franceses vão respondendo...
"ah, e depois..?
E eu.
"mãe...."
E a minha mãe continua na sua demanda interminável de quem quer muito ajudar os pobres senhores que estão perdidos no meio de lisboa.
"oui...non, mais oui, la bas, la bas.."
E eu.
"mãe...."
E os franceses.
"pois, ali à direita.."
E eu.
"mãe..."
E a minha mãe finalmente olha para mim com um ar atarefado e impaciente.
"diz filha...."
"eles estão a falar contigo em português mãe..."
23 setembro 2007
Telepatia
22 setembro 2007
To be or not to be
Eu que nem me costumo meter nestas tricas, não posso deixar de me indignar com a Casa Branca e com os nossos conterrâneos que acham hilariante esta tirada. Gostava de saber quantos chefes de governo conseguem improvisar discurso em língua que não a sua e têm a ousadia e a coragem de o fazer em público, mesmo sabendo que não a dominam e a calinada está mesmo ao virar da língua.
Augúrios
À porta do cemitério a minha irmã pede-me lume. Uma senhora rezingona relembra os malefícios do tabaco, os perigos para a saúde. Nem tenho força para lhe responder, fá-lo a minha irmã por mim. Viver mata.
Múltiplos livros
Decidimos, então, distribuir a coisa por categorias, sendo que cada uma teve direito a uma das escolhas. Mantendo a aura de mistério que nos caracteriza, não dizemos quem escolheu o quê, fica à escolha do freguês. No fundo, somos uma só com personalidade múltipla.
LIVROS QUE NOS MARCARAM
- Todos os de 'Os Cinco', Enid Blyton - porque foi com eles que comecei a gostar de ler, com a luz do candeeiro da rua que me entrava pela janela, porque já tinha passado a hora de dormir.
- Conceitos Fundamentais da Matemática, Bento de Jesus Caraça - porque finalmente percebi que a matemática existe e para que serve. Demorei 18 anos da minha vida a perceber isso.
- Anna Karenina, Tolstoi - porque foi escrito para mim.
- 7 anos no Tibete, Heinrich Harrer - veio com os iogurtes danone no ano passado e abriu-me todo um mundo novo desconhecido.
- O Principezinho, Saint-Exupery - porque me ensinou a responsabilidade por aqueles que cativamos. Porque li de tantas maneiras diferentes desde que a minha mãe mo deu na 1ª classe.
- Simposium Terapêutico, de 1996 - nada melhor para uma hipocondríaca como eu [e com uma vocação perdida para a medicina], este livro à cabeceira. Pela primeira razão evocada, mas também pelo efeito hipnótico que tinha, outras vezes pelo figuraço que fazia a discutir princípios activos com o farmacêutico do bairro.
- Todos os do Sam Shepard, pela visão cinematográfica.
[consenso geral com Eça de Queiroz e Garcia Márquez. Tudo o resto deu batatada e acesas discussões]
LIVROS QUE NOS PASSARAM AO LADO
- O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago - porque as 5 primeiras páginas me aborreceram de morte e não li mais. Não consegui.
- Todos os livros do clube de 'Os 7' e todos os manuais do curso de direito de Lisboa - pela presunção dos primeiros e pela altura da vida em que tive de ler os segundos.
- Qualquer coisa da Isabel Allende, nem me lembro do nome.
- Nem me lembro, passou-me mesmo ao lado.
- Os Filhos da Meia Noite, Salman Rushdie - porque fui capaz de o largar a 50 páginas do fim.
- Eurico, o Presbítero, Alexandre Herculano - muito melhor que um xanax para adormecer. Tive que o ler mas não retenho nada.
- Todos os de Harry Potter e todos os do Paulo Coelho.
LIVROS QUE NOS CHATEARAM DE MORTE
- Memorial do Convento, José Saramago, ainda mais do que os três volumes da História do Direito, Ruy de Alburquerque.
- Um artigo sobre bioética que tive de traduzir e que era uma chacha tão grande, tão grande...
- Viagens na Minha Terra, Almeida Garrett - de cada vez que começava a ler adormecia.
[a esta altura instalou-se uma acalorada discussão sobre as qualidades literárias deste escritor, dividindo-se as opiniões]
- Fonética e Fonologia, da Universidade Aberta. Porque tive mesmo de estudar.
- Todos aqueles que deixei a meio, quebrando o meu compromisso de ler qualquer livro do princípio ao fim. Foram alguns e nem me lembro deles.
LIVROS QUE NOS FIZERAM SENTIR BURRAS
- Os Passos em Volta, Herberto Hélder.
- O Pêndulo de Foucalt, Umberto Eco, que comprei com o meu dinheiro na feira do livro, e me esforcei meses a fio para ler e não consegui, sempre a tentar a tentar, e a sentir-me burra por não conseguir entrar.
- Quase tudo o que é poesia, tirando Fernando Pessoa, aqueles mais evidentes.
- Livros ‘inteligentes’ sobre história contemporânea.
- O suplemento de economia de qualquer jornal, incluindo todo o Diário Económico e o Jornal de Negócios.
- Finnegans Wake e Ulisses, ambos de James Joyce.
- Qualquer manual de matemática e os manuais de instruções do Ikea.
Agora temos de marcar outro jantar para decidir a quem mandamos seguir a marinha da corrente (ou talvez não).
Last but not least, por causa deste post reavivámos as memórias de infância da nossa insular múltipla, a quem os livros chegavam num barco com nome de parteira new age. As suas palavras transmitem bem o seu (e o nosso) amor pelos livros:
Em sítios onde a oferta de livros era pouca, a chegada do Doulos era um maná de programa - ir à doca, subir a prancha de embarque, sobreviver a tanta gente que lá estava (ainda me lembro do calor e de querer tirar o meu casaco de lã azul escuro com pompons, e não me deixarem porque se podia perder na confusão) e depois aquele fantástico gelado com xarope de morango - e de livros, livros em estantes, livros em caixas, livros em sacos, o espreitar e ver o que havia, cheios de cor, cheios de capas, letras, desenhos, o tocá-los e eles mesmo ali ao lado....
O meu último tributo
O filme da nossa vida passa lentamente... O que fizemos e vivemos juntos - a fome que partilhámos e que te levava à casa de família para angariar umas latas de conservas, os momentos de calma ao pôr do sol na Praia da Areia Branca, as noitadas sem fim no teatro, a constante falta de dinheiro que nos fez solidários mas que provocou também muitas cisões, as borgas cheias de amigos e boa disposição em que eras sempre o maior contador de anedotas, as férias em Sesimbra, no Farol, na Luz, as discussões em que revelavas de forma inesperada a tua faceta obstinada... E o filme pára abruptamente, talvez no momento em que tive de dizer-te que chegara o fim.
Não te tratei bem, como não tratei bem os meus amores quando chegou o fim. Mas lembro-me de te amar. De me comover com todas as personagens às quais tu deste corpo de forma tão sábia e verdadeira. Lembro-me de te incitar, de te picar para te fazeres à vida, para não teres medo. Lembro-me do teu sorriso franco, do teu carinho imenso.
Por tudo isto e muito mais que as palavras não podem traduzir, obrigada, Pedro Alpiarça, por teres feito parte da minha vida.
Descansa em paz...
21 setembro 2007
Serviço ao cliente
Saddam mata Mandela!!!
20 setembro 2007
Conversa no portão da escola
Trintas e vintes
Requiem pelo Bartis
Soube aqui que o meu tasco de eleição fechou.
[E agora onde é que levo o meu irmão quando ele vier a Lisboa?]
Vou ouvir um requiem qualquer e selar o baú das minhas muitas memórias ali construídas. E, sim, também são feitas com o mau feitio da minha amiga Paula e com o sabor e cheiro inconfundíveis das tostas de frango com oregãos. Entre muitas, muitas outras.
O BA está, definitivamente, mais pobre desde 5ª feira passada.
Ora que porra...
19 setembro 2007
Mais uma corrida, mais uma viagem
Se no final deste ano eu não for viver para um sítio ermo, sem vizinhos nem gente que me chateie a mona, então é a prova da minha resiliência à prova de bomba atómica.
Começámos a ter uma infestação de baratas no prédio; quase de certeza que vinha de casa da D. Madalena, mas de qualquer modo já estavam a alastrar por mais duas casas. Como eu, boa alma com lugar cativo à esquerda do senhor (seja lá ele quem for) sou a administradora voluntária deste ano, calhou-me em rifa chamar a empresa para eliminar toda a bicharada, de todas as casas, esgotos, partes comuns, e, já que estávamos nisso, os ratos que me atormentam a existência.
O meu dia começou às 8h50 com o senhor a tocar-me à porta enquanto ainda punha cremes na fronha, sem pequeno almoço. Engulo um café e mãos à obra.
Vamos de casa em casa a exterminar tudo aquilo, e eu procuro como uma louca a chave para levantar as caixas dos esgotos. Como não se encontra em lado nenhum, desato a tocar às portas de todos os prédios, a ver se alguém me pode emprestar a sua, mas claro, ninguém tem, sabe ou está. Cada vizinho a quem peço notícias do paradeiro da mesma tem uma brilhante ideia para eu executar; um que ligue à câmara, outros às chaves do areeiro, melhor ainda aos bombeiros. Que vá à casa de ferragens ao fundo da rua. Eu ia sempre perguntando “e um pé de cabra não tem?”. Estranhamente ninguém tinha, mais valia ser vizinha de ladrões de carros, esses ser-me-iam decerto mais úteis que estas abéculas. Depois de percorridos os contactos sugeridos e em nada terem resultado, decido cravar o jardineiro da câmara para me ajudar a levantar as tampas com uma picareta e uma enxada. Dêem-me uma alavanca e eu levanto o mundo; não estava errada. Eu sabia que tinha uma razão para gostar de cavadores de batatas, este também não me deixou mal: prova superada, contra todos os vaticínios.
A velha do r/c esq da janela só repetia “isso não vai dar, assim não vão conseguir”. A múmia do 2º, “ai que partem um pé”, o do 1º “já lhe disse que chamasse os bombeiros, era uma limpeza”. Eu e o cavador é que lhes mostrámos o que era, Arquimedes rules.
No meio disto, a D. Madalena não abria a porta nem por mais uma, apesar dos murros na porta e toques insistentes. Já pensávamos mandar vir a polícia, sabe-se lá o que o Jorge lhe teria feito, quando ela nos aparece sorridente com um ramo de malmequeres e violetas colhidos durante o seu bucólico passeio pelos jardins da vizinhança. Entretanto, a pespineta dos caniches era a única que não aparecia para que lá fossem a casa. Quando entra finalmente pelo prédio adentro, a rugazinha no canto da boca deixou-me logo o alarme: vem chatice. Começou com o seu tomzinho irritante de voz a dizer que na casa dela só depois das 14h30, que não podia ser, que não queria. Respiro fundo, não há de ser nada. Eles voltam na sexta, logo se vê então.
"Minha senhora, deve ser fraqueza. Esteve o dia todo a correr de um lado para outro só com um café, que tomou À minha frente. Apanhe um bocado de ar e coma, vai ver que se sente melhor".
Era verdade. Fiquei comovida. Quero ir viver para um prédio onde tenha por vizinhos o jardineiro e o homem da desinfestação.
(continua, como sempre)
V-Day
O que é verdadeiramente desconcertante é que os "principais partidos políticos italianos - tanto de direita, como de esquerda - passaram, de facto, a ter razões para estarem preocupados com Beppe Grillo, que tem vindo a organizar com grande sucesso o "V-Day" (de "Vaffacullo Day")".
"The idea of V-day was to give a voice to those who don't have a voice," said Grillo, who has denied plans to start his own political party. "
Diz que isto de vaffacullo quer dizer : "vai levar no c*"....
Sim, porquê??
“Fumar reduz a permanência em lar de 3a idade”
“Fumar elimina a necessidade de fazer um PPR”
“Fumar reduz a preocupação com a reforma aos 65″"
Pena de morte
18 setembro 2007
Os crocs
17 setembro 2007
Conversa numa porta qualquer
Terrorismo
2007-09-17, 11h16
Dubai, 17 Set (Lusa) - Um "site" islâmico radical divulgou hoje um vídeo atribuído à Al-Qaida que apela para acções de "extermínio colectivo" destinadas a aterrorizar o Ocidente.
"É preciso elevar o terrorismo islâmico nos países do Ocidente e transformá-lo num fenómeno semelhante ao das catástrofes naturais", afirma uma voz, anónima, no vídeo divulgado no 'site' ekhlaas, que anunciava desde 12 de Setembro a divulgação de mais um vídeo - o terceiro - a propósito do sexto aniversário dos atentados de 11 de Setembro nos Estados Unidos.
"Assim, devem perpetrar-se actos de extermínio colectivo (no Ocidente), para que as pessoas sintam que o seu bem-estar também lhes traz a morte (...) e para criar, dessa forma, um equilíbrio dissuasor entre nós e eles", prossegue.
Intitulado "A conquista de Nova Iorque e de Washington: razões e motivações", o vídeo termina com a assinatura "Al-Tanzim", nome supostamente derivado do nome da organização terrorista em árabe: "Tanzim al-Qaida".
O vídeo apresenta uma "colagem" de imagens das torres gémeas do World Trade center em chamas, após os atentados, e de campos de treino.
Além da mensagem referida, o vídeo incluiu excertos de anteriores mensagens do líder da rede, Usama bin Laden, e do seu "número dois", o médico egípcio Ayman al-Zawahiri.
MDR.
Fonte: Agência LUSA"
Lamento
16 setembro 2007
Quem dá mais?
Consulta no centro de saúde
- Vamos já ver isso. Onde é que eles estão?
- Ó Sr. Dr, mesmo abaixo da pilinha, uma coisa estranhíssima.; eu já lá toquei e toda a gente lá de casa também, e dói-lhe mesmo muito, veja lá isso que estou mesmo preocupada com o rapaz.
(o médico começa a coçar a cabeça, manda a criança despir-se. Pede-lhe que lhe mostre o sítio exacto)
- É aqui doutor, dói muito quando aperto.
(o médico passa-se)
- Minha senhora, nunca viu o seu marido nu? Ele também tem dois iguais a estes, um pouco maiores suponho.
(juro que não inventei)
14 setembro 2007
13 setembro 2007
do lado de fora da porta
Agradeço, bato ou atiro-me da janela?
12 setembro 2007
Quem nunca se viu assim, levante a mão
Aqui.
Zimbro, o lobo
15:30. O odor intenso dos pinheiros invade-me as narinas e sabe-me bem. No meio da área florestal montanhosa, no interior da Malveira estendem-se cercados em rede de aço até perder de vista e em todas as direcções.
No interior destes cercados, os terrenos que prefazem quase 20 hectares acolhem Lobos de toda a península Ibérica, animais resgatados , por denúncia das autoridades e amiúde por um ou outro civil com alma. Foram lobos que mataram vezes sem conta as ovelhas dos pastores, uma vez que desapareceram as espécies que lhes serviam naturalmente de alimento, como o javali ou o veado. Foram lobos que, por terem fome, foram mortos pelos pastores que não são indemnizados a tempo e horas pelo Estado pelas baixas sofridas nos rebanhos.
Mas o lobo caça com respeito, mata com respeito, da mesma forma que a história nos conta, matavam os índios e os esquimós, com respeito e deferência para com a peça caçada.
O homem que se diz “civilizado” não. O pastor analfabeto e mal formado não. Mata com a revolta e a raiva no corpo, com a maldade e a estupidez natural a descoberto, a prepotência e o excesso de ego a atrofiarem os seus sentidos, a obrigatoriedade de se ser humilde e de sentir em pé de igualdade com todos os outros seres vivos.
Minho é um dos lobitos trazido ainda pequeno para este centro de recuperação do lobo ibérico, único em toda a península. A mãe deste animal morta numa armadilha e o seu filho roubado para ficar preso a uma casota de cão a ser apedrejado diariamente por adultos e crianças que por ali passavam até que a situação ser denunciada e os voluntários do centro o poderem ir buscar. Hoje em dia, Minho, já recuperado das mazelas, é um lobo que não pode nunca vir a ser socializado. Não quer nada com humanos e no dia em que for libertado no cercado que lhe está destinado com cerca de 11 hectares, vai desaparecer para não mais ser visto.
É o que acontece neste centro. Quem está à espera de o visitar esperando ver ali os lobos à sua espera, como se num jardim zoológico estivesse, sai desiludido com a visita. O respeito pela privacidade e pela tranquilidade dos rituais de vida deste animal é seguido à risca por estas pessoas que dão o seu coração para a recuperação destes magníficos animais, o que faz com que seja muito díficil e uma questão de sorte conseguir avistá-los no meio da folhagem.
Para além do Minho, outro caso grave neste centro foi a denúncia de um lobo que foi resgatado pelos voluntários duma situação de extrema malícia e ignorância. Este animal, depois de apanhado pelos pastores numa das armadilhas, perdendo uma das patas, foi entretanto amarrado por uma corda a um carro e puxado a alta velocidade pela terra fora para gáudio dos habitantes da aldeia. Ainda com vida e neste momento em recuperação na unidade hospitalar do centro, é mais um caso de um animal que nunca mais poderá ser socializado. A maior parte dos lobos aqui presentes nestas soberbas instalações , são animais que por uma razão ou outra são já incapazes de sobreviverem sozinhos no no seu habitat natural.
A majestosidade, a imponência, a dignidade no olhar de Zimbro fazem-me quebrar e cair do cimo do meu pedestal humano e prometer não o esquecer.
Mamas: toda a verdade
- Não, estive a saltar à corda sem soutien
Maude, série americana dos anos 80
Joanna Scurr, uma investigadora da Universidade de Portsmouth, dedicou-se a estudar o tema de um ponto de vista científico. Mediu a amplitude do balançar das mamas durante a prática desportiva; não sabemos o tamanho das copas nem a modalidade em causa, mas não podemos de deixar de ficar abismadas com as suas conclusões: "as mamas modernas podem balançar uns assustadores 21 centímetros aquando a prática de desporto. Ou seja, mais do que as antigas, que não ultrapassavam uns moderados 16 centímetros, segundo pesquisas anteriores."
Será que a mulher moderna tem mamas maiores que a antiga? Ou será uma questão de aumento de flexibilidade? Ou o efeito de estufa influenciou os clássicos 9.8 m/s2?
Também me intrigam as partes práticas do estudo: como terão feito as medições? Imagino um senhor de bata branca e régua na mão a correr ou a saltar ao lado do objecto em estudo, presumivelmente em topless.
Questões perturbantes, sem dúvida.
Gostava de ter posto o vídeo do final do Meaning of life, com um homem a ser perseguido por uma horda de mulheres em topless e capacetes, mas não o encontro. Se alguém fizer o obséquio de arranjar o link ficava a coisa mais compreensível.
11 setembro 2007
Under pressure*
Como é adequada esta música ao meu momento... Not complaining!
*The Queen e David Bowie (1982)
Conversa de balcão
- Isso depende do pezinho da menina.
10 setembro 2007
09 setembro 2007
Incomodam-nos
O desafio era encontrar uma imagem que nos incomodasse, que nos trouxesse sentimentos desagradáveis fosse por que motivo fosse. As múltiplas pensaram, pensaram, reflectiram, discutiram, e chegaram a um consenso.
Também nos incomodam muitas outras coisas, por exemplo, a maldade, a estupidez. Estes dois 'incómodos' são mais difíceis de fixar em imagens.
08 setembro 2007
Quem à janela
07 setembro 2007
06 setembro 2007
Nessun Dorma
Gäldenär, det kommer alltid tillbaka*
Gostava de pensar que é o pai natal, a controlar-nos da Lapónia, para nos mandar grandes presentes em Dezembro (se és tu, não te assustes com os pombos nem te acanhes com o exaustor, atira pela janela que eu não me importo). Ou então o cozinheiro dos marretas, a verificar que a minha relação com a gastronomia é semelhante à sua com a linguística. Desde que não seja o Bengt Ekerot à nossa espera lá do outro lado, está tudo bem.
* pedimos desculpa pelos erros na tradução, imputáveis à única página online disponível para a conversão português/sueco que encontrámos
Fatalidade faducha sobre o destino da Nação
Se a Nação só quer mesmo ir à praia ou andar por casa, é trágico. Se a Nação crê mesmo que pode ir a mais algum lado de chinelas, mais trágico é.
05 setembro 2007
analogias de feira
04 setembro 2007
Despertares
Coreanas missionárias, não me faltava mais nada. Repito, não estou arranjada e não o vou fazer para falar de Deus convosco, bom dia. Não sei o que lhes terá provocado a ira, se a falta de roupa ou o ateísmo, mas desataram-me às batidelas à porta como umas loucas. Se fosse há uns meses atrás ter-me-iam causado uma apoplexia.
03 setembro 2007
Just like a rolling stone
"I'm not there", foi o título escolhido, uma referência a um tema que faria parte do album, "The basement tapes (sessions)" mas que acabou por ficar de fora das gravações de estúdio podendo ser apenas encontrado agora nas versões bootleg.
A saída do filme está prevista para Novembro deste ano e o trailer já está disponível. Ainda por definir se "I'm not there", vem acrescentar algo de novo a uma biografia já usada e abusada do ícone Dylan, este novo trabalho de Haynes parece ir mais de encontro a uma representação artística e despretensiosa de pequenos momentos cruciais, na vida do herói que ofereceu, sobretudo, as palavras necessárias a uma geração envolvida seriamente na revolução das mentalidades.
Um trailer que revela uma fotografia de intenção quase documental que permite que nos envolvamos sem dificuldade e a caracterização exímia dos actores, principalmente da assombrosa e versátil Cate Blanchett, são os primeiros doces a sair do saco. O resto também parece prometer.
O nosso preço humano em euros
Assim, fiquei a saber que valeria muito mais em euros se fosse, loira, de olhos verdes, alta, magra, atlética, homem alto, ganhasse um grande ordenadão, não fumasse e tivesse menos de 30 anos.
Fiquei também a saber que muitas pessoas se entregaram a este hobby de corpo e alma e que a todo o custo tentam melhorar certas facetas da sua vida para poderem concorrer com melhores valores monetários contra amigos e colegas de trabalho. Só não faço ainda ideia é se já andam todos com a sua etiqueta de preço ao pescoço. Se assim for, como é que será nos meses de saldo?
Apanharam-Nos
(pronto, já arranjei a imagem)
viva a vida alegre e divertida
De volta ao trabalho
oferece-se
02 setembro 2007
Cenas da vida conjugal (iv)
- Querido, o que é que estás a ver na televisão?
- Estou a ver se o Belenenses ganha ao Sporting...
[Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr! não há condições para ser simpática. Vivo com um benfiquista. É um karma, é uma sina, é uma maldição que carrego!]
Lições do abismo*
[* de uma frase de Jules Verne 'parfois il faut prendre des lessons d'abîme'.]
01 setembro 2007
O defeito
Só há um pequeno problema: não conseguiu decidir quais são os defeitos dele. Ainda não chegou a um consenso sobre quais os defeitos com os quais ela conseguiria viver feliz para sempre.