28 abril 2007

Sexo por obrigação

Ontem à noite na RTP2 apanhei um documentário sobre tráfico de mulheres. Mulheres compradas e vendidas para serem escravas sexuais.
Arrepiante a ideia de se sair de casa pensando que se vai comprar bens para vender no mercado, ir trabalhar a servir às mesas ou procurar uma carta, e de repente dar por si a ser tratada por um bando de negreiros (mulhereiros?) que as espancam, torturam, chantageiam com as suas famílias e com as suas vidas, para serem obrigadas a servir como receptáculos das fantasias sexuais de homens que nunca viram e preferiam não ver.
Fechadas em prisões, casas com grades nas janelas e trancas nas portas, são visitadas pelos clientes em condições que se adivinham miseráveis. As que são domadas pela humilhação psicológica são convencidas de que aquele é o seu verdadeiro destino e vocação e começam a fazê-lo convictamente, já sem necessidade de barras ou correntes. Ficam prisioneiras da sua inexistente auto-estima e a esperança de um dia serem salvas por um qualquer principe encantado.
Para mim o mais arrepiante era aquilo que não foi mostrado. Que tipo de homem paga para ter sexo com uma mulher que evidentemente está a ser obrigada a isso? Que tipo de pessoa se excita com a mera existência de uma mulher, mesmo que esta ali esteja contra a sua vontade? Que tipo de homem quer ter prazer desta forma, tão cruel e tão vil?
Culpados são os traficantes e os chulos, mas mais ainda os clientes - porque os primeiros só existem em função dos segundos, numa simples equação de oferta e procura.

4 comentários:

-pirata-vermelho- disse...

Nem mais.

E!
se acrescentar, cinicamente ou fora do contexto que descreve, a estranheza que pode causar a ideia de aceitar partilhar carícias e intimidades com uma mulher desconhecida que, apesar de brutalizada pode, ela também, ser grosseira ou repelente, fica com os dois lados de uma moeda de incompreensível valor.
Não sendo grosseira ou repelente
-coisa não sabida antes e vista a brevidade do encontro- mantem-se a estranheza e o estranhamento...

8 e coisa 9 e tal disse...

penso não ter entendido o sentido do seu comentário, pirata. Está a falar dos coitados a quem calha na rifa uma call girl em quem não encontram atractivos suficientes para despoletar uma resposta?

-pirata-vermelho- disse...

Não,
estava a tentar lembrar a capacidade, para mim enigmática, que certos homens têm para se 'misturarem profundamente' e lhoose deixarem tocar por uma mulher desconhecida, eventualmente grosseira.

8 e coisa 9 e tal disse...

Presumo que não seja uma capacidade, pirata, mas antes um desejo. deve haver muita gente que anseie pelo sexo com desconhecidos. Alguns, poucos imagino, procuram um contacto, uma pele, uma intimidade falsa, que acaba com um orgamo não partilhado e um adeus querido superficial.

O mundo dos desejos dos outros (por vezes mesmo os nossos) tem mistérios insondáveis.