Passei o dia com o meu companheiro a fazer-lhe companhia nos assuntos que tinha para tratar na Segurança Social e nas Finanças. Se tivéssemos combinado sair para passear não tínhamos conseguido fazer nem metade das coisas que fizémos. Com uma só senha tirada pudémos relaxar tanquilamente em duas esplanadas diferentes, almoçar num restaurante qualquer do centro comercial da zona, ir ao Bingo da associação desportiva e gastar dez euros em quatro cartões, dar uma volta pela feirinha de queijos e presuntos que havia por ali e ainda ter tempo para procurar lugar para estacionar o carro, o que como toda a gente sabe, leva uma imensidão de tempo. Quando chegámos à porta da Segurança Social ainda estavam dois números à nossa frente.
Adiante. A senhora que finalmente nos atendeu, não obstante a fila enorme de pessoas que a cercava, já de boca ao lado e quase a babarem-se de exaustão, estava com um humor óptimo, rindo-se de tudo e de nada. As palavras, num tom alegre e descontraído, saíam-lhe em catadupa, sobre a colega que não estacionava o carro na garagem e que preferia pagar parquímetro, essa era a loira burra, sobre a jovem africana que trocou os papéis todos e que apareceu de repente toda atrapalhada na mesa ao nosso lado, essa era a cabeça de alho chocho, já nós, por outro lado, parecia que lhe falávamos em paquistanês porque demorou quase dez minutos para perceber qual era o nosso problema e porque é que estávamos ali. Problema esclarecido, expirou então um valente suspiro que nos fez compreender o porquê da lentidão do seu pensamento, estava muito cansada, confessou ela, ainda bem que no outro dia iria ser feriado.
De novo no carro a caminho das Finanças. Tínhamos saído de casa ao meio-dia, eram agora três da tarde. Um cúbiculo de quatro metros quadrados a servir de sala de espera para algumas dezenas de pessoas, a maior parte do lado de fora da porta, desesperadamente a tentarem esticar os pescoços para conseguirem ver o painel electrónico com os números das senhas, estratégica e brilhantemente, diga-se, colocado num canto do interior da repartição, onde só quem estava já ao balcão a ser atendido teria um acesso visual perfeito. Ainda assim, menos tempo de espera desta vez. Só um mísero copito de Sumol ali no café da berma da estrada e uma passeata pelas montras do comércio do bairro. Lá chamaram o bendito número. Demorava menos tempo a ler a extensiva descrição da caminhada de cada um dos cavaleiros da távola redonda, pensei eu. Entrei para a gaiola dos infernos e sentei-me num lugar livre ao lado duma senhora que ocupava ainda metade do meu banco para além do dela e que tinha o poder extraordinário de conseguir revirar os olhos tal qual um camaleão de cada vez que entrava uma pessoa nova pela porta, examinando tudo em cada uma delas, desde o penteado, à roupa, às unhas das mãos e posso jurar que até a cor das peúgas de um senhor, pela forma como rodou a cabeça. Contas feitas e depois de conseguir fugir daquele bafo quente onde as bactérias quase eram vísiveis a olho nú, até que foi um dia produtivo. Sobretudo, depois de chegarmos ao carro e sermos presenteados com uma multa de estacionamento proibido: tínhamo-nos esquecido de pagar o parquímetro. Nunca gostei tanto de ver o meu sofá ao chegar a casa.
Isto, meus amigos, não é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e/ou factos reais não é coincidência.
Adiante. A senhora que finalmente nos atendeu, não obstante a fila enorme de pessoas que a cercava, já de boca ao lado e quase a babarem-se de exaustão, estava com um humor óptimo, rindo-se de tudo e de nada. As palavras, num tom alegre e descontraído, saíam-lhe em catadupa, sobre a colega que não estacionava o carro na garagem e que preferia pagar parquímetro, essa era a loira burra, sobre a jovem africana que trocou os papéis todos e que apareceu de repente toda atrapalhada na mesa ao nosso lado, essa era a cabeça de alho chocho, já nós, por outro lado, parecia que lhe falávamos em paquistanês porque demorou quase dez minutos para perceber qual era o nosso problema e porque é que estávamos ali. Problema esclarecido, expirou então um valente suspiro que nos fez compreender o porquê da lentidão do seu pensamento, estava muito cansada, confessou ela, ainda bem que no outro dia iria ser feriado.
De novo no carro a caminho das Finanças. Tínhamos saído de casa ao meio-dia, eram agora três da tarde. Um cúbiculo de quatro metros quadrados a servir de sala de espera para algumas dezenas de pessoas, a maior parte do lado de fora da porta, desesperadamente a tentarem esticar os pescoços para conseguirem ver o painel electrónico com os números das senhas, estratégica e brilhantemente, diga-se, colocado num canto do interior da repartição, onde só quem estava já ao balcão a ser atendido teria um acesso visual perfeito. Ainda assim, menos tempo de espera desta vez. Só um mísero copito de Sumol ali no café da berma da estrada e uma passeata pelas montras do comércio do bairro. Lá chamaram o bendito número. Demorava menos tempo a ler a extensiva descrição da caminhada de cada um dos cavaleiros da távola redonda, pensei eu. Entrei para a gaiola dos infernos e sentei-me num lugar livre ao lado duma senhora que ocupava ainda metade do meu banco para além do dela e que tinha o poder extraordinário de conseguir revirar os olhos tal qual um camaleão de cada vez que entrava uma pessoa nova pela porta, examinando tudo em cada uma delas, desde o penteado, à roupa, às unhas das mãos e posso jurar que até a cor das peúgas de um senhor, pela forma como rodou a cabeça. Contas feitas e depois de conseguir fugir daquele bafo quente onde as bactérias quase eram vísiveis a olho nú, até que foi um dia produtivo. Sobretudo, depois de chegarmos ao carro e sermos presenteados com uma multa de estacionamento proibido: tínhamo-nos esquecido de pagar o parquímetro. Nunca gostei tanto de ver o meu sofá ao chegar a casa.
Isto, meus amigos, não é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e/ou factos reais não é coincidência.
3 comentários:
d. ester said: com que então estacionamento proibido?? multa??
a 1ª parte do dia até parecia estar a correr bem (sauf la 'demoiselle da seg social)...
damn it! não há p aí uma história com final feliz?
bjs querida múltipla estafada
o maravilhoso mundo da burocracia. Ao menos encontraste uma funcionária bem disposta.
Quanto a estacionamentos, no outro dia esqueci-me de pôr a moeda, ia só dizer olá porque estava atrasada e tratar do assunto, distrai-me com a conversa e quando saí encontrei não só a multa como o carro bloqueado.
Liguei para o numero indicado e passados poucos minutos chegaram dois funcionários da EMEL muito simpáticos e bem educados, devem ter tido pena de mim que estava sentada com ar infeliz na borda de uma árvore ao lado do carro. Saiu-me a 60 euros a brincadeira. Pedi para ficar com a fita amarela como recuerdo da desgraça e me lembrar de pôr sempre a moedinha.
Enviar um comentário