31 julho 2006

Ganhar ou não ganhar o euromilhões?



O meu pai adora fazer o euromilhões, todas as semanas me pede palpites de números, e prontamente lhe respondo (também digo sempre os mesmos, por isso é fácil!). Agrada-me a ideia de pensar que pode haver uma enxurrada de dinheiro para os meus pais, para mim e para os meus irmãos e sobrinhos. Mas outro dia, o meu pai insistia que uma pessoa quando ganha muuuitoo dinheiro modifica necessariamente o seu carácter, pois tudo passa a ser possível. A ideia não é nova, mas vinda do meu pai, uma das pessoas mais íntegras, nobres e honestas que conheço, incomodou-me imenso, e fiquei a pensar se de facto teria que ser assim.

Comecei então a perguntar a quem me aparecesse à frente o que pensavam sobre o ganhar de repente o euromilhões, ou qualquer outro prémio de sorte grande, (da económica, claro, porque para a taluda do amor ou a rifa do trabalho mais fixe ainda não há fundos de reserva).
Várias foram as respostas e divagações sobre o tema e algumas puseram-me a pensar. Um dos temas que surgiu foi a inveja e o assédio que surge a quem tem muito dinheiro por parte de pessoas que utilizam a lambebotice como forma de obtenção de riqueza e privilégios. Foram lembrados vários episódios, uns mediáticos, outros mais próximos, como o do sr. António lá da aldeia que teve que fugir do sitio onde tinha morado toda a vida. Esta parte não me tinha ocorrido, não deve ser nada agradável ter que mudar de sitio à força... Outro dos temas foi o ter de aumentar a segurança, pois quem tem muito dinheiro vive sempre com o medo de que o podem roubar, raptar, ameaçar a família, etc, e nem aqui em Portugal nos escapamos disto.

Mas por outro lado, estão as inúmeras possibilidades de ter coisas próprias, de viver a magia do dinheiro, poder dar asas à nossa generosidade, capacidade de consumo (equilibrado e ecológico) e de criação. E aí encontrei os sonhos mais diversos, desde comprar casa, livros, discos, viajar, etc, ou passar a vida a cozinhar para os amigos e a viajar, dar dinheiro ao desbarato, não ter que estacionar nunca mais o carro ou fazer as tarefas domésticas, até ao entusiasmo de poder materializar alguns dos nossos sonhos de transformação do mundo: contribuir para a defesa dos animais, do meio ambiente, dos direitos humanos, do comércio justo, ou da equidade de género, no mundo inteiro, em Ermesinde ou na Colômbia.
Gostei de ver as pessoas a sonharem com as possibilidades que oferece um número com muitos zeros na conta bancária e todos os sonhos de vida que se multiplicaram, passando do individual ao colectivo. E encontrei pessoas muito diferentes na forma de ver, de gastar e de lidar com o dinheiro. Há gente que tem bastante dinheiro e passa a vida a preservar receosamente aquilo que tem para manter um status presente e um futuro que a qualquer momento pode acabar pois a morte não escolhe dia nem hora, vivem desconfiados e o dinheiro é uma fonte de prazer praticamente individual e restrita. No outro extremo encontrei pessoas, também com bastantes posses, que dão asas à sua generosidade e sem ser levianas, fazem circular a riqueza e aumentam o bem estar de quem lhes está sinceramente próximos, viajam, aproveitam a vida alegremente. Deparei-me também com pessoas que apesar de não ganharem muito, guardam sempre um pouco para apoiar aqueles que têm menos posses mas muita vontade de contribuir para o bem social e outras, também sem muitas posses, que vivem a pensar no que não têm e não partilham o que ainda tem.

Enfim, os diversos casos e situações fizeram-me pensar que já tendo pouco ou muito, há também uma atitude individual perante a riqueza e o seu uso e função, o que me aliviou.
Continuo a dizer ao meu pai os meus números do costume e a sonhar que, quando algum dia ganhar o euromilhões, para além de satisfazer todos os meus desejos e necessidades individuais, vou poder provar que o dinheiro tem que ser uma fonte de libertação e prazer e não de opressão, que se podem montar empresas e oferecer boas e justas condições laborais aos trabalhadores e trabalhadoras e acima de tudo, provar que o ócio deve ser um dos principais objectivos de toda a humanidade e não só de algumas (muito poucas) pessoas.
Até lá, continuarei a trabalhar e a fazer “política da vida quotidiana” aproveitando ao máximo os prazeres da vida, a praia anda fantástica...

8 comentários:

8 e coisa 9 e tal disse...

e ao pensar que se notava muito as minhas tendências neomarxistas-capitalistas-hedonistas...

O que a gente se engana, hã??!!

Por acaso nunca li as referencias citadas pelo pirata mas se tiver aí os ISBN agradeço...

De qualquer modo, obrigada (acho...)

8 e coisa 9 e tal disse...

quanto ao deparei-me confesso que hesitei bastante, mas não me lembrei de nenhum outro sinónimo para não repetir "encontrei-me"..

acasos felizes da vida que fazem soltar a lágrima até ao mais vermelho dos piratas..

Anónimo disse...

ó pirata, tome lá um kleenex e não diga que vai daqui.

à multipla da posta, olha eu gostei de te ter de volta. O dinheiro é um tema muito importante, ter ou não ter, quanto. Ainda há meia hora desliguei o telefone de um amigo que trabalha numa multinacional em Itália e que diz estar prestes a matar o próximo capitalista que lhe apareça à frente. Que está farto da ditadura dos cifrões.

Eu bem tentei relativizar, lembrando que as pessoas têm contas p pagar, hipotecas e cartões de crédito, mas nem eu estava convencida do que dizia. O que se faz para evitar que o nosso melhor amigo se torne um cadastrado...

Anónimo disse...

o que'é que se passa aqui?!
se calhar o pirata està a ressacar rimadelas. aqui vai:

o pirata deparou-se
com uma taluda d'euromilhoes
afiambrou-se ao guito todo
nao nos deu nem uns tostoes.

(desculp'! - foi o possivel a estas horas)

Anónimo disse...

seteepicos darling welcome back!

as tuas tendências neomarxistas-capitalistas-hedonistas estao em alta, pois esta claro! alias, proponho um chazinho para discutir estas questoes, que me dizes?

tendencias, eu è mais a ultima e as metafisico-existenciais, mas posso sempre rever uns classicozitos: 'economia e sociedade', 'o capital', 'manifesto do partido comunista', 'a etica protestante e o espirito do capitalismo'... literatura adequada p esta saison, bien sur!
depois mando o ISBN.
beijos!

8 e coisa 9 e tal disse...

ora que boa ideia, um chazinho de tendencias cai sempre bem...Aproveitemos agora o regresso das férias para encontrarmo-nos e falar de joanetes, ciática, tendências neomarxistas e existencialistas e vários...

beijos

JPN disse...

abraços e beijos. eu não jogo no euro milhões. jogo no oito e coisa. tem mais múltiplas.

8 e coisa 9 e tal disse...

:) abraços também jpn