Comecei por beber licor de hortelã-pimenta e acabei no absinto estreme. A minha embriaguez era pacífica e até certo ponto catedrática. Eu me explico. Se o auditório me favorecia, deixava-me ir em discursos sobre a filosofia da história, alternados com outros discursos sobre a história da filosofia. Estas matérias, que a todo o homem em estado normal, se afiguram áridas e insípidas, a mim pareciam-me deleitosas e lucidíssimas; e os ouvintes, salvo a lisonja, mostravam-se igualmente admirados que instruídos. Não poderemos inferir daqui que as ciências de certa transcendência as devemos à alucinação de certas cabeças?, E que o espírito humano, sem o complemento de outros espíritos, cuja imortalidade ninguém discute, há-de sentir sempre a estreiteza dos seus limites? Não discorro agora a este respeito, por que bebo água há dois anos.
Camilo Castelo Branco, Coração, Cabeça e Estômago
3 comentários:
E em maré de leitura aqui fica a ligação: http://worldebookfair.com/
Para acompanhar também com água, com ou sem gás. E duas pedras de gelo, por favor.
linda esta posta...
Grande CCB.
Ontem uma amiga minha tornou-se criminosa ao ser apanhada com 1.42 g/l de álcool no sangue. Ela tb devia ter bebido água.
(na realidade, seria criminosa mesmo sem ser apanhada. Mas como só se sabe depois de soprar...)
Enviar um comentário