27 julho 2006

As minhas idas ao cabeleireiro

Gosto de usar o cabelo curto. Para quem não saiba, é ainda mais difícil cortá-lo curto que comprido, há que encontrar o cabeleireiro certo que não só o faça bem como perceba o estilo que se pretende.

Descobri finalmente o Vítor, recomendado por uma amiga.

O Vítor tem um método todo seu: corta o cabelo a seco, para assim poder ver os jeitos e remoinhos que faz. Quando chego sento-me e digo “corte” e fico à espera. Ele senta-se atrás de mim numa cadeira mais alta do que a minha, acende um cigarro, semi cerra os olhos e começa a mexer no cabelo. Usa a mão direita, a esquerda, as duas. Pousa o cigarro no cinzeiro, de onde não voltará a sair. (Vejo a cinza a aumentar e o peso a deslocar-se para o lado do filtro. Penso, vai virar, cair em cima dos meus cabelos e provocar um incêndio. Nunca aconteceu).

O Vítor parece o Eduardo mãos de tesoura depois de uma visita ao casal ventoso. Parece sempre um bocado janado (e provavelmente está mesmo), pega na tesoura e começa a cortar de uma maneira que a mim me parece aleatória. Todas as vezes que lá vou penso que é desta que vou ficar com uma pelada, que terei de corrigir com corte à soldado raso, mas é este frissom de roleta russa que me faz continuar a ser-lhe fiel. (hoje enquanto me escortanhava alguém o chamou, ele virou a cabeça e continuou a tesourar. É agora que me vaza um olho. Não foi).

A dona do cabeleireiro é uma senhora mais velha loira de óculos, que sofre das cruzes e se veste com roupas largas para esconder a perda de formas femininas que chegam na menopausa. O Vítor não se deve dar muito bem com ela, de cada vez que ela fala ele olha para mim e revira os olhos. Quando ela lhe pede para ele fazer alguma coisa a resposta é invariavelmente a mesma “não vê que agora estou ocupado?”

A menina que lava o cabelo deve ter saído há pouco da adolescência, e é cúmplice do Vítor. Hoje ele disse-lhe “jurei pela minha mãezinha. E sabes bem o que eu sinto pela minha mãe, não sabes?” Ela “pois”.

Chegou ao fim e deixou-me, ao contrário do que eu lhe tinha pedido, o cabelo mais comprido atrás. Disse-lhe que não gostava. Com um ar seguríssimo respondeu-me:

“como conselheiro de imagem que sou, digo-lhe que é assim que lhe fica bem. A menina tem uma cara redonda e assim alonga. Mesmo que me peça não corto mais”.

Eu obedeci e calei-me. Paguei e vim-me embora.

5 comentários:

Betty Coltrane disse...

Em último caso o cliente tem sempre razão... Mas isto é a versão politicamente correcta! ;)
Podes ter a certeza que tens aí um grande cabeleireiro - aquele que se recusa a estragar um bom trabalho. E quem é te vê a cara? Quem está de fora, pois claro - e é óbvio que o homem deve saber o que faz... Só os grandes profissionais se atrevem a cortar a seco - e olha que eu cresci neste meio, por isso sei do que falo... Deve ter ficado giríssimo - e tens muita razão - o corte mais difícil é o mais curto! ;)

Beijoca

Nomyia disse...

Concordo com Betty. Se não fosse um bom cabeleireiro não se teria recusado a cortar mais. Normalmente calam-se e fazem a vontade ao cliente mesmo que esta queira um penteado que o desfavoreça. É o principio do dinheiro:s
*****

8 e coisa 9 e tal disse...

Obrigado meninas - o Vítor é de facto um grande cabeleireiro, apenas me pergunto que fará num sitio de bairro... Imagino problemas com outras pessoas, pq o talento dele é indiscutível.

E ficou bem giro, sim!!
Se quiserem experimentar (vale a pena pela qualidade do corte, preço e experiencia sociológica) eu mando a morada. é em lisboa.

8 e coisa 9 e tal disse...

pirata, ainda bem que achou graça. Só outra vez pedi ao Vítor p cortar mais um bocado (de todas as outras ficou perfeito) e ele fez-me a vontade. Desta não. E olhe, começo a gostar mesmo!! (às vezes é preciso um déspota p nos fazer ver as coisas de uma maneira que nao queremos)

[A] disse...

o meu chama-se RUi.
ainda não corta a seco, mas sempre tive cá para mim que assim é que deveria ser...afinal a minha lógica não me atraiçoa.