30 abril 2007

Procura-se

Por algum destes acasos da vida, será que alguém tem, ou conhece quem tenha, uma marquesa para vender a um preço acessível? De preferência com acessório para pôr a cabeça.
Dão-se alvissaras, ou seja, oferece-se uma massagem ayurvédica para quem fizer o melhor preço. Resposta a este blog.

Precari@s de todo o mundo UNI-VOS


O precariado rebela-se e com toda a razão. Precários ou não, amanhã a partir das 14h a manifestação começa na Alameda Afonso Henriques e vai até Alvalade.

Rebaja, saldo, sale

A minha irmã convidou-me para um jantar elegante, com embaixadora à mistura e avisou-me para “ter cuidado com a roupa”. Ora, eu que muitas vezes tenho vontade que se instale em Portugal um sistema maoísta que imponha a farda como indumentária única e obrigatória que nos (me) livre de ter de escolher a roupa para o dia, ando com o guarda roupa a zeros pois há pouco mais de um ano iniciei uma nova etapa da minha vida regressando a este nosso canto à beira mar plantado com uma mão à frente, outra atrás e apenas 20 kilos de vida e de roupa de inverno na mala e, para juntar à festa, estou desempregada há alguns meses. Dito isto, e como deixo tudo para a última da hora, lá comecei no sábado ao fim da manhã a pensar no que iria vestir à noite. Resolvi que a ocasião merecia, convenci a minha mãe a dar-me um crédito para poder resolver esta urgência e arranquei para as compras, esquecendo por um dia a fobia que tenho aos centros comerciais. Consegui comprar uma saia preta gira e barata, depois descobri uma loja que gosto e que não tem tudo igual às outras lojas (a Cortefiel) e aí comprei uma blusa gira preta e branca, também barata (ou pelo menos não muito cara) e foi então que caí em mim: de nada me adiantava ter roupa bonita se não tinha nem uns sapatos de jeito. E aqui sim, é que a porca torcia o rabo, pois eu adoro sapatos, amo sapatos, mas odeio todos os sapatos que vulgarmente se vendem. Além disso, decidi eu inspirada e convictamente, tinha chegado finalmente o dia em que me iria converter aos saltos altos! Depois de muito procurar, lá consegui por fim OS SAPATOS, lindos, pretos (já agora para poder dar com tudo) com uns saltos enormes, da Camper, (porque isso sim, conforto acima de tudo), e pronto, não eram baratos (eram mesmo caros mas é melhor uns sapatos bons que durem muitos anos) e sobretudo, eram lindoooos de morrer... Com os meus novos sapatos nos pés desde as 3 da tarde, recuperei de novo o gosto por vestir-me, achei que afinal a roupa nova estava demasiado preto e branco e que me apetecia mais cor, mudei tudo (milograsamente, sempre consegui algo de vestir no meu parco guarda fato) e lá fui eu para o jantar orgulhosa, discreta e colorida, elegante, em cima dos meus 10 cm de confiança. Mas depois de tudo, afinal era a mais bem vestida do jantar (também não era preciso ter exagerado) e os meus 10 cm de confiança começaram a ser cada vez insuportáveis. Depois de ter resistido o máximo que pude as dores nos pés, perdi a vaidade e o orgulho: acabei a noite bem vestida e com as pantufas de ursinhos da dona da casa nos pés, voltei para casa com elas e nunca desejei tanto saber fazer bem o pino ou conseguir levitar para não ter que suportar o peso do meu corpo, que não é pouco, sobre os meus pobres pés. Se por acaso alguém quiser comprar uns sapatos lindos de morrer, que dão com tudo e só com umas horas de uso é só escrever para este blog; faço um desconto irrecusável...

29 abril 2007

Bancada lateral



SPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTING!

Laugh Out Loud

No outro dia fiquei parva comigo. Uma amiga disse qualquer coisa que me deu vontade de rir, daí que os meus lábios e a minha boca se uniram imediatamente naquele desenho que antecede a saída da gargalhada. Mas o que saiu da minha boca foi só um esboço de riso seguido de um LOL. Assim mesmo, frontal, directo, verbalizado. Eu disse LOL em vez de Hahahahaha, Hehehehehe ou mesmo Hihihihihihi. Até um Huhuhuhuhuh teria parecido melhor. O Msn messenger ter-me-á implantando um chip no cérebro enquanto dormia? Agora o que pode salvar a minha sanidade é acreditar piamente que não sou a única a quem esta barbaridade já aconteceu. Help!



28 abril 2007

Officium*



Corria o ano de 1987 quando fui ver o meu primeiro concerto de jazz ao vivo. Tinha 17 anos recém completados. Fui com a minha irmã, cunhado e sobrinha de 4 meses ver um concerto incluído no festival 'Jazz em Agosto', no anfiteatro ao ar livre da Gulbenkian. A dupla era extraordinária - Jan Garbarek (saxofonista) e Naná Vasconcellos (percussionista) - e esta experiência-concerto marcou indelevelmente o meu percurso e procuras musicais a partir de então.

Anos mais tarde, já com o catálogo da ECM e respectivos músicos bem conhecidos e interiorizados - sai o álbum 'Officium' (1994), uma colaboração entre Jan Garbarek e os Hilliard Ensemble - quarteto de música de câmara. Apaixonei-me por este álbum e pelo cruzamento entre dois estilos tão distintos. Até hoje. Não me canso de ouvir e de tornar a ouvir.

Em baixo, o 1º tema do ábum - Parce mihi domine (a partir do Officcium defunctorum de Christóbal de Morales (1500-1553).

*Este post e respectiva música é para a sem-se-ver, em retribuição a uma cortesia sua e a propósito de uma afirmação de suposto 'purismo' musical minha, em casa dela. Afinal não era assim tão verdade... É só vasculhar um bocadinho no baú das memórias.
Enjoy!



Sexo por obrigação consentido

A propósito do documentário de ontem, lembrei-me de pesquisar sobre BDSM. Pensei no paradoxo do costume, o que para alguns é um suplício para outros será um prazer desejado.
Não é novidade para ninguém; o Marquês de Sade no século VIII e o Sacher-Masoch no séc. XIX ficaram de tal forma famosos por escreverem sobre estes temas que deram nome aos termos sadismo e masoquismo.
Encontro uma página bem explicativa na wikipedia, e apartir dessa descubro que até o google tem um motor de busca específico para esse tema. Não será então uma coisa assim tão insólita.
A coisa pode-se passar a vários níveis, descubro. O mais soft entra em jogos de poder, uma pessoa abdica da sua iniciativa para que outra tome o controle, psicologica e fisicamente. Mais à frente, esse jogo de poder pode incluir restrição de movimentos e deprivação de sentidos, uma prisão consentida dentro do jogo sexual para aumentar o prazer sensual. O nível mais forte inclui a aplicação de dor das mais variadas maneiras - chicotadas, chibatadas, espancamentos, pendurar as pessoas, encoleirá-las, humilhá-las.
Ao longo do texto vamos sempre encontrando referências à necessidade de estas coisas se passarem entre adultos consentâneos, para que o jogo se possa de facto entender como tal. Pode incluir simulação de situações mais variadas, desde a representação de papéis à violação, mas sempre com todas as partes a desejarem a adrenalina e o prazer que daí decorre.
Lembro-me de um filme com o Nicholas Cage, 8mm, em que uma mulher descobre um filme hard core sado maso entre os pertences do marido morto, em que parecia ter ocorrido o homicídio da rapariga envolvida no cenário grotesco para prazer dos carrascos envolvidos e dos espectadores do dito. Nicholas Cage é o detective privado que vai à procura da verdade por detrás daquele filme, entrando numa viagem alucinante pelo mais obscuro que esse mundo pode ter.
Creio que os homens interessados em pagar para ter sexo com mulheres que não o desejam representam uma forma mais que distorcida destes jogos entre adultos. Alguns deles até se devem convencer de que no fundo no fundo elas gostam do mal que lhes fazem, que não pode deixar de ser assim. Outros devem ter prazer com essa realidade, poder gozar de uma violação sem sofrer os castigos legais que daí decorrem. Outros ainda devem-se estar pura e simplesmente a marimbar, querem praticar uma forma de onanismo assistido.
Não me parece que existam formas correctas ou erradas de gozar a sexualidade, mas há uma regra que para mim é fundamental. As partes envolvidas (sejam lá quantas ou de que género forem) têm de ser adultos com vontade. Tudo o que saia disso para mim constitui como uma terrível aberração humana.

Sexo por obrigação

Ontem à noite na RTP2 apanhei um documentário sobre tráfico de mulheres. Mulheres compradas e vendidas para serem escravas sexuais.
Arrepiante a ideia de se sair de casa pensando que se vai comprar bens para vender no mercado, ir trabalhar a servir às mesas ou procurar uma carta, e de repente dar por si a ser tratada por um bando de negreiros (mulhereiros?) que as espancam, torturam, chantageiam com as suas famílias e com as suas vidas, para serem obrigadas a servir como receptáculos das fantasias sexuais de homens que nunca viram e preferiam não ver.
Fechadas em prisões, casas com grades nas janelas e trancas nas portas, são visitadas pelos clientes em condições que se adivinham miseráveis. As que são domadas pela humilhação psicológica são convencidas de que aquele é o seu verdadeiro destino e vocação e começam a fazê-lo convictamente, já sem necessidade de barras ou correntes. Ficam prisioneiras da sua inexistente auto-estima e a esperança de um dia serem salvas por um qualquer principe encantado.
Para mim o mais arrepiante era aquilo que não foi mostrado. Que tipo de homem paga para ter sexo com uma mulher que evidentemente está a ser obrigada a isso? Que tipo de pessoa se excita com a mera existência de uma mulher, mesmo que esta ali esteja contra a sua vontade? Que tipo de homem quer ter prazer desta forma, tão cruel e tão vil?
Culpados são os traficantes e os chulos, mas mais ainda os clientes - porque os primeiros só existem em função dos segundos, numa simples equação de oferta e procura.

Um dia do caraças!

Passei o dia com o meu companheiro a fazer-lhe companhia nos assuntos que tinha para tratar na Segurança Social e nas Finanças. Se tivéssemos combinado sair para passear não tínhamos conseguido fazer nem metade das coisas que fizémos. Com uma só senha tirada pudémos relaxar tanquilamente em duas esplanadas diferentes, almoçar num restaurante qualquer do centro comercial da zona, ir ao Bingo da associação desportiva e gastar dez euros em quatro cartões, dar uma volta pela feirinha de queijos e presuntos que havia por ali e ainda ter tempo para procurar lugar para estacionar o carro, o que como toda a gente sabe, leva uma imensidão de tempo. Quando chegámos à porta da Segurança Social ainda estavam dois números à nossa frente.

Adiante. A senhora que finalmente nos atendeu, não obstante a fila enorme de pessoas que a cercava, já de boca ao lado e quase a babarem-se de exaustão, estava com um humor óptimo, rindo-se de tudo e de nada. As palavras, num tom alegre e descontraído, saíam-lhe em catadupa, sobre a colega que não estacionava o carro na garagem e que preferia pagar parquímetro, essa era a loira burra, sobre a jovem africana que trocou os papéis todos e que apareceu de repente toda atrapalhada na mesa ao nosso lado, essa era a cabeça de alho chocho, já nós, por outro lado, parecia que lhe falávamos em paquistanês porque demorou quase dez minutos para perceber qual era o nosso problema e porque é que estávamos ali. Problema esclarecido, expirou então um valente suspiro que nos fez compreender o porquê da lentidão do seu pensamento, estava muito cansada, confessou ela, ainda bem que no outro dia iria ser feriado.

De novo no carro a caminho das Finanças. Tínhamos saído de casa ao meio-dia, eram agora três da tarde. Um cúbiculo de quatro metros quadrados a servir de sala de espera para algumas dezenas de pessoas, a maior parte do lado de fora da porta, desesperadamente a tentarem esticar os pescoços para conseguirem ver o painel electrónico com os números das senhas, estratégica e brilhantemente, diga-se, colocado num canto do interior da repartição, onde só quem estava já ao balcão a ser atendido teria um acesso visual perfeito. Ainda assim, menos tempo de espera desta vez. Só um mísero copito de Sumol ali no café da berma da estrada e uma passeata pelas montras do comércio do bairro. Lá chamaram o bendito número. Demorava menos tempo a ler a extensiva descrição da caminhada de cada um dos cavaleiros da távola redonda, pensei eu. Entrei para a gaiola dos infernos e sentei-me num lugar livre ao lado duma senhora que ocupava ainda metade do meu banco para além do dela e que tinha o poder extraordinário de conseguir revirar os olhos tal qual um camaleão de cada vez que entrava uma pessoa nova pela porta, examinando tudo em cada uma delas, desde o penteado, à roupa, às unhas das mãos e posso jurar que até a cor das peúgas de um senhor, pela forma como rodou a cabeça. Contas feitas e depois de conseguir fugir daquele bafo quente onde as bactérias quase eram vísiveis a olho nú, até que foi um dia produtivo. Sobretudo, depois de chegarmos ao carro e sermos presenteados com uma multa de estacionamento proibido: tínhamo-nos esquecido de pagar o parquímetro. Nunca gostei tanto de ver o meu sofá ao chegar a casa.

Isto, meus amigos, não é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e/ou factos reais não é coincidência.

27 abril 2007

The Fallow Way


D. Blaufuks via sem-se-ver




I'll learn to love the fallow way
When winter draws the valley down
And stills the rivers in their storm
And freezes all the little brooks
Time when our steps slow to the song
Of falling flakes and crackling flames
When silver stars are high and still
Deep in the velvet of the night sky.

The crystal time the silence times
I'll learn to love their quietness
While deep beneath the glistening snow
The black earth dreams of violets
I'll learn to love the fallow way.

I'll learn to love the fallow way
When all my colors fade to white
And flying birds fold back their wings
Upon my anxious wonderings
The sun has slanted all her rays
Across the vast and harvest plains
My memories mingle in the dawn
I dream a joyful vagabonds.

The crystal times the silence times
I'll learn to love their quietness
When deep beneath the glistening snow
The black earth dreams in of violets
I'll learn to love the fallow times.

No drummer comes across the plains
To tell of triumph or of pain
No word far off battle's cry
To draw me out or draw me nigh
I'll learn to love the fallow way.

I'll learn to love the fallow way
And gather in the patient fruits
And after autumns blaze and burn
I'll know the full still, deep roots
That nothing seem to know or need.

That crack the ice in frozen ponds
And slumbering in winter's folds
Have dreams of green and blue and gold
I'll learn to love the fallow way
And listening for blossoming
Of my own heart once more in spring.

As sure as time, as sure as snow
As sure as moonlight, wind and stars
The fallow time will fall away
The sun will bring an April day
And I will yield to Summer's way.

Juddy Collins, The Fallow Way.

Para o meu pai, no dia em que faria 84 anos.

Intimidade

Eu na sanita, ele no bidé, libertando aliviadamente os dejectos indesejáveis da nossa fisiologia, enquanto continuamos a discussão sobre o racismo em Portugal.

26 abril 2007

eu confesso




Estes óculos ficam-me bem, vou levá-los. E estes também já são meus.

Toca o telefone.

Com a música da loja não oiço nada. Saio e acabo a conversa na rua. Descubro que tenho na mão os óculos escuros. Descubro que não gritou nenhum alarme, que o segurança não veio atrás de mim, que os óculos são meus e que ninguém deu por nada.

Vou-me embora com óculos novos.

Carta Aberta

Caro Aníbal,
Soube da tua intenção de pores cobro a alguns rituais potencialmente perniciosos para a nossa juventude, uma vez que esta pouca ou nenhuma identificação terá com os mesmos.
Apoio-te e, perdoa-me a ousadia de me imiscuir em questões de Estado, vou mesmo mais longe! Se é absolutamente indiscutível que o 25 do A (uma vez que fica mal pronunciar o mês em simultâneo com o dia) nada diz às nossas camadas mais novas, é também inegável que o golpe levado a cabo por um grupo de malfazejos conjurados a 1 de Dezembro de 1600 e troca-o-passo faz ricochete nas mentes dos nossos concidadãos. Da mesma forma, a ressabiada revolta anti-monárquica que permitiu a alguns ilustres ocuparem o cargo de PR's no último século (cargo que,e bem, dignificas) é uma perfeita desconhecida. Posso ainda sugerir que o 1º de Maio se trata de uma lamentável festa em tons de vermelho que nenhuma alusão desperta nos nossos contemporâneos. Isto para me ficar, claro está, pelas datas políticas. O que te proponho é uma profunda reviravolta no nosso calendário, o que, de resto, vai de encontro a uma ideia por ti há muito preconizada: a de eliminar algumas datas comemorativas que apenas servem para a malta operária se passear pelas catedrais do consumo sem reflectir convictamente no significado de que as mesmas se revestem.
Mantenha-se, contudo, o Dia da Raça, aquele em que o português se junta em torno da sardinha assada, ao mesmo tempo que recita "Amor é fogo que arde sem se ver" (aquele que todos conhecem) e que dança ao ritmo das marchas de Lisboa em pracetas engalanadas por balões de muitas cores, enebriados pelo travo do vinho tinto e pelo odor a manjerico.
Aí sim, podemos todos manifestar aquilo que somos e o que fizemos: um povo envergonhado por ter erguido uma democracia, desejoso, como manifestou em referendo, de voltar a ter um "big brother" que lhe diga por onde ir e o que fazer e que não fez absolutamente nada de há 33 anos a esta parte.
De nada adianta dares ouvidos a reaças que dizem ser preferível repensar e reestruturar os programas educativos. Qual quê! A malta nova, bem se sabe, não estuda e não podemos contrariá-la a não ser que ela se reúna à porta de um certo edifício na António Maria Cardoso.
Em próxima missiva lançarei profíquas ideias para reestruturar o calendário católico. É que esta história dos rituais já chateia há mais de dois séculos!
Respeitosamente, tua

Múltipla

Auguries of innocence

To see a world in a grain of sand,
And a heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour.

(...)

Every night and every morn
Some to misery are born,
Every morn and every night
Some are born to sweet delight.

Some are born to sweet delight,
Some are born to endless night.

We are led to believe a lie
When we see not thro' the eye,
Which was born in a night to perish in a night,
When the soul slept in beams of light.

W. Blake

25 abril 2007

Primeira comunhão no mundo do sado-masoquismo

Há muito tempo que não me acontecia, mas tive um pesadelo esta noite. No meio de vários peripécias sou perseguida por um chinês com ar de mau, fecho-me em casa cuja porta ele tenta arrombar; olho e vejo que a tenho bem trancada, com as barras de cima e de baixo bem encaixadas e que por ali ele nunca vai entrar. Oiço um riso maléfico do outro lado e ele anuncia-me "não é por essa, vou entrar pela outra", e num sobressalto lembro-me que tenho porta da cozinha, vou a correr e vejo que essa tem uma fechadura simples, apenas no trinco, completamente desaparafusada e sem chave para trancar, ele começa a empurrar a empurrar a empurrar, aquilo a ceder a ceder a ceder, e nisto acordo de um pulo e com taquicardias.
Penso se o meu inconsciente será na realidade partidário do PNR ou se a metáfora terá vagas conotações sexuais; com sorte volto a adormecer mas sou acordada pela campaínha da porta. Penso que se me aparece alguém com feições vagamente orientais me borro toda.
Mas não. Era a vizinha do rés do chão, às 11h da manhã de um feriado, com o seu sinal peludo no queixo acompanhada pelo filho cabeçudo e o caniche branco. Não sei se preferia o chinês.
Encontro o roupão, nem tenho tempo para me pentear nem isso me importa muito. Abro a porta e ela anuncia de braços cruzados e voz pespineta:
"Quero o livro de actas do condomínio, interessa-me a nº 16 ou 17, que daqui a 1h tenho cá a minha advogada. Além do mais preciso também da morada onde encontro a vizinha do 3º Esq".
Percebo logo que tem a ver com o imbroglio da parabolica e da queixa à policia municipal. Como a minha resposta foi um levantar de sobrancelha, ela decide acrescentar, sem descruzar os braços.
"se faz favor".
Eu bem sabia que me ia arrepender.

25 de Abril Sempre



Que os nossos filhos e filhas nunca passem pela vida do antes 25 de abril e que continuem a reinventar uma cada vez melhor democracia. Tchim Tchim!

Notícias

Leio no Expresso da semana passada (um verdadeiro maná de notícias fabulosas) que roubaram o carro ao pobre do David Beckham. É que não era um carro qualquer, era um BMW X5, decerto um belissímo automóvel ao qual ele e toda a sua família estariam muito afeiçoados.
Não me chegava de escândalo e comoção, descubro então que o carro parece ter aparecido. E quem está atrás do volante de tão ilustre viatura é a ministra do interior da Macedónia.
A Macedónia é de facto um país do qual pouco se sabe, para além de dar um nome a uma salada. Não deixa pois de ser relevante o facto de quererem ser postos nas bocas do mundo por andarem a comprar carros gamados para uso dos membros do governo. Qualquer dia descobrem que o ministro das finanças anda com o relógio do Robbie Williams, o da cultura com o telemóvel do Schumacher, o da saúde o portátil da Madonna e que o primeiro ministro inspira a sua actividade escatológica a olhar para o grito de Munch.
Ah, a senhora disse que devolveria o carro se se provar que foi palmado ao David. (dito isto, deu uma cotovelada ao colega da cultura e piscou-lhe o olho. a tradutora oficial não disse o que isso queria dizer).
[Depois disto quem é que tem coragem de atirar pedras ao Santana Lopes por ter comprado carros caros? Ao menos vieram do stand.]

24 abril 2007

Parar é morrer



É caso para dizer "que bom pé de dança". Absolutamente fantástico.

Cenas da vida conjugal (III) - descubra o diálogo

Bom dia, bom dia, gostas de mim?, sua tonta, claro que gosto, porquê?, oh..., vá lá, diz lá porquê, ai..., diz-me!, queres mesmo saber?, sim, mesmo?, claro, porque estou perdidamente apaixonado por ti.

Bom dia


23 abril 2007

A física aos seis anos, mesmo antes de ir para a cama

Quando está a chover e o sol passa pelas gotas da chuva, as rochas ficam às cores.

Histórias de estradas (II)


- WELCOME TO HELL!!!

[freeze!]
Olho para o M., o M. olha para mim. Tarde demais para voltar atrás, já démos uns bons três passos em frente. Tornamos a olhar um para o outro e começamos a dirigirmo-nos em slow motion para o balcão.

Uma longa fila de bancos altos em frente ao balcão está toda ocupada (à excepção de dois lugares à esquerda) por indivíduos que chupam cigarros (estranho, a lei anti-tabaco está mais que promulgada e em vigor aqui nos U.S. of A., penso eu) roem palitos, bebem cerveja e - sobretudo - olham para a nossa lenta caminhada. Todos eles vestem calças de ganga, têm chapéus de cowboy e trazem um sorriso irónico no rosto, observando-nos. Os 'gringos' são eles, não sei o que seremos nós para eles, não temos ar de 'chicanos' (isso já eu tive oportunidade de perceber que não associam o nosso fenótipo aos mexicanos). Passamos por uma área de mesas, onde se sentam mulheres de ar atrevido, entretidas a falar com outros homens, em conversas que adivinho pouco ingénuas.

Chegamos ao balcão, fazendo uma diagonal que nos leva aos dois únicos lugares vazios. Sentamo-nos. O empregado, de copo e de toalha na mão - fingindo que o seca - pergunta-nos o que queremos. Olhamos para a direita e temos toda uma fila de cowboys de olhos postos em nós. Olho para o M. e ele anui com um piscar de olhos. Peço então:

- Duas cervejas, por favor. E uma rodada aqui para os senhores do balcão. É por nossa conta.

Faz-se algum silêncio, o empregado tira duas canecas e enche-as, enquanto nos olha de soslaio. There you are, pousando as cervejas. Começa a servir aqueles que já têm as canecas vazias. Já mais confortável (não tenho colarinho, mas se tivesse desapertava-o), dou um longo golo na cerveja. O silêncio é, então, quebrado pelo cowboy que se senta ao nosso lado, o mesmo que nos saudou assim que franqueámos a porta do bar:

- So, where are you guys from?

Ui, lá vem a pergunta difícil. Considerações à parte em relação aos conhecimentos geográficos dos norte-americanos, decidimos pela resposta mais eficaz: We're from Portugal, next to Spain, Europe. Empurra o chapéu para trás, e troca o palito de um lado para o outro da boca. Estende-nos a mão e diz:

- Nice to meet you, pals. My name is Mule Skinner. And yours?

Dou mais um golo valente na cerveja, tentando perceber o que é aquilo quer efectivamente dizer. Mas o tipo até é simpático e começa-nos a contar uma das histórias mais inverosímeis que alguma vez ouvi: mudou-se com a sua 'companhia' de teatro para o Arizona e ganham a vida a simular tiroteios do velho farwest no próprio do farwest para os turistas que ali passam. Fazem vários espectáculos por dia, que nos relata pormenorizadamente. O Mule Skinner - o seu nome artístico - é um dos dois cowboys que está presente no tiroteio final, naquilo a que aqui chamaríamos de mano-a-mano. Infelizmente, é ele invariavelmente o que morre. O espectáculo acaba com Mule Skinner já dentro do caixão. Olho para ele e, já turvada pela terceira caneca de cerveja, penso que gostaria que - nem que por uma vez, uma só vez - fosse ele o sobrevivente...

Os olhares há muito que se desviaram de nós, deixámos de constituir matéria de interesse e/ou atenção. Mule Skinner pergunta-nos onde vamos pernoitar. M. diz que estávamos a pensar dormir no carro na berma da estrada, the road is long e amanhã temos muitas milhas para fazer. 'Bom, eu se estivesse no vosso lugar não arriscaria. Com a chuva que caiu, todas essas pequenas criaturas mortíferas - escorpiões, lacraus e SÓ a cobra mais venenosa do planeta (a mojave green) saíram das suas tocas, aproveitando this moisty environment. Entram-vos pela parte de parte de baixo do carro e a primeira dentada/picada é letal. Ainda por cima aqui, in this back of beyond. Eu não arriscava'.

Despedimo-nos de Mule Skinner, já emocionado com a partida dos seus mais dois recentes amigos europeus (ou das beers, talvez). Acenamos aos demais, que nos levantam a ponta do chapéu. Faço o mesmo movimento com as mãos na porta que fiz para entrar, empurrando-as no sentido oposto.

Entramos no carro em silêncio e só paramos - depois de cruzada a fronteira dos estados do Arizona com a California - no primeiro motel que se adivinhava da estrada, com o letreiro néon a anunciar vacancies.

Cenas da vida conjugal (II)

- Estou?
- Querida, sou eu.
- Sim?
- Estou aqui no supermercado, na secção dos produtos de higiene feminina e ando à procura dos pensos higiénicos que me pediste.
- E então? É com alas, daquela marca que te escrevi no papel.
- Pois, só que dessa marca há milhares de variações com alas e já estou aqui há 10 minutos e não consigo atinar com as indicações que me deste. Olha, ali na prateleira ao lado há uns muito mais baratos, marca branca e só têm 3 tamanhos...
- Não!!! Estás proibido de comprar esses! Eu quero daquela marca, com alas, diz super plus, 28,4 cm também, dias de fluxo abundante...
- Ó querida, isso dizem quase todos, isto é muito complicado para mim...
- Pois, mas a idiossincracia menstrual tem dessas coisas, e uma delas é a escolha do penso certo.
- [suspiro]
- És um querido. E não te enganes, está bem? Obrigada.
- Vou tentar.
- Ok. Até já.
(ai ai, o que é que ele me vai trazer? só espero que não se engane e não traga fraldas para incontinentes... mea culpa, mea culpa...)

22 abril 2007

Lisboa vista da minha cerveja



Uma tarde de primavera. A preguiça a pairar. Os jornais já lidos. A atenção fixada naqueles que passavam. As cervejas a anunciarem a 'saison' do caracol. Uma já - quase - sociedade perfeita. Pelo menos a tarde assim o foi.

aos utentes




para lamentações, use a senha amarela.

para declarações, use a senha verde.

para celebrações, use a senha azul.

Carta aos meus netos*

imagem daqui
Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
P'ra me poder aquecer
Na mão de qualquer menino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
P'ra tudo o que eu sou caber
Na mão de qualquer de vós
Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Tudo em mim se pode erguer
Quando me pisam não grito
Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto
O que lá estou a fazer
Só se nota quando falto
Quando eu for grande quero ser
Ponte de uma a outra margem
Para unir sem escolher
E servir só de passagem
Quando eu for grande quero ser
Como o rio dessa ponte
Nunca parar de correr
Sem nunca esquecer a fonte
Quando eu for grande quero ser
Um bichinho pequenino
Quando eu for grande quero ser
Mais pequeno que uma noz
Quando eu for grande quero ser
Uma laje de granito
Quando eu for grande quero ser
Uma pedra do asfalto
Quando eu for grande...
Quando eu for grande...
Quando eu for grande quero ter
O tamanho que não tenho
P'ra nunca deixar de ser
Do meu exacto tamanho

* letra de Manuela de Freitas para música de José Mário Branco

O prometido é devido

Uns posts abaixo, prometi uma música a uma querida múltipla. Aqui vai ela.

Someday my prince will come.

(com a glamourosa Rita Hayworth - inspirada em ti - e Fred Astaire, o parceiro ideal para se dançar!).

Luv' ya ... :)

20 abril 2007

Histórias de estradas (I)

Joshua tree

Deserto do Mojave (Arizona), Setembro, 1996.

Se não fosse o ar condicionado do carro já tinha derretido de certeza. Aliás, tudo parece liquefazer por aqui: os cactos gigantes em forma de tridente, as joshua trees (a única vegetação que tenho visto) as pedras, os abutres, os sinais de trânsito, tudo. O ar, ao fundo, assemelha-se a uma massa espessa e turva. Quase que jurava que podia chegar lá com uma colher, tirar um bocado e comer. Não estou dentro de um quadro de Dali, mas não devo andar muito longe.


Estou cansada, apetece-me enfiar qualquer coisa fresca pela goela abaixo e esticar as pernas, já passei a fase da fome. Quebro o silêncio e proponho ao M. uma paragem para beber a dita, não importa onde, o primeiro sítio que encontrarmos. Estou farta da paisagem cromatico-monótona do deserto, do ar hipocritamente fresco da ‘gaiola’ que nos desloca de um lado para o outro a não-sei-quantas-miles-per-hour (não esquecendo as vantagens das mudanças automáticas). Fizemos uma grande tirada hoje e amanhã temos de chegar a Los Angeles. Depois, começar a subir a A1 em direcção a San Francisco (não sei porquê, tenho cá uma fezada por esta cidade). Não faço ideia onde vamos dormir, eu e o M., como estamos amuados desde ontem, não conversámos pelo caminho: mais de 500 km autistas, tomar decisões não está fácil. Por mim, terminava o dia aqui, bebia a tal fresca, reclinava os bancos para trás and end of story.


Vejo umas luzes a piscar ao fundo, as neon lights às quais já me habituei por estas bandas. Ou é motel ou é bar (ou então as duas coisas, melhor ainda). Hum, não me parece motel, não diz vacancies. Será um daqueles dinners de estrada? Também serve, gosto da mística dos dinner- in-the-middle-of-nowhere (parece que estou no meio de um videoclip do Tom Waits, menos mal): tudo e todos de passagem, o café servido directamente da cafeteira para a mug, menus de elevado teor calórico, autênticas bomba de colesterol.


Arriscamos, saímos do carro, levamos com o bafo quente do deserto que nos bate no rosto com a força de uma chapada e aproximamo-nos do edifício: afinal sempre é bar. Vejo umas portas de madeira a 2/4, daquelas que têm gonzos e que têm que ser empurradas para dentro. Percebo, então, que – caraças - estou mesmo no farwest: é um saloon! [Bem-feita, não era eu que queria ter experiências novas e verdadeiras? The real thing?] Respiro fundo, empurro as duas portas com as duas mãos e ouço – vindo de dentro do saloon– a mais insólita saudação de sempre:


- WELCOME TO HELL!!!

[Continua]

19 abril 2007

Eu tenho dois amores

O primeiro não digo o nome.
O mais recente chama-se Mozilla Firefox.
Vão aqui e façam o download (a vossa vidinha vai mudar e MUITO!).

18 abril 2007

Humor negro

- Fumas?
- Não pá, chegou uma altura em que tive de decidir, ou pulmão ou fígado.
- Foste pelo fígado
- Sim, pelo menos há transplantes


J'ai pas mal au foie, personne fait plus ça
J'ai un ulcère, c'est moins banal et plus cher.
B. Vian, no post anterior

Je suis snob*

J'suis snob... J'suis snob
C'est vraiment l'seul défaut que j'gobe
Ça demande des mois d'turbin
C'est une vie de galérien
Mais lorsque je sors à son bras
Je suis fier du résultat
J'suis snob... Foutrement snob
Tous mes amis le sont
On est snobs et c'est bon.


Chemises d'organdi, chaussures de zébu
Cravate d'Italie et méchant complet vermoulu
Un rubis au doigt... de pied, pas çui-là
Les ongles tout noirs et un tres joli p'tit mouchoir
J'vais au cinéma voir des films suédois
Et j'entre au bistro pour boire du whisky à gogo
J'ai pas mal au foie, personne fait plus ça
J'ai un ulcère, c'est moins banal et plus cher.


J'suis snob... J'suis snob
J'm'appelle Patrick, mais on dit Bob
Je fais du ch'val tous les matins
Car j'ador' l'odeur du crottin
Je ne fréquente que des baronnes
Aux noms comme des trombones
J'suis snob... Excessivement snob
Et quand j'parle d'amour
C'est tout nu dans la cour.


On se réunit avec les amis
Tous les vendredis, pour faire des snobisme-parties
Il y a du coca, on deteste ça
Et du camembert qu'on mange à la petite cuiller
Mon appartement est vraiment charmant
J'me chauffe au diamant, on n'peut rien rêver d'plus fumant
J'avais la télé, mais ça m'ennuyait
Je l'ai r'tournée... d'l'aut' côté c'est passionnant.


J'suis snob... J'suis snob
J'suis ravagé par ce microbe
J'ai des accidents en Jaguar
Je passe le mois d'août au plumard
C'est dans les p'tits détails comme ça
Que l'on est snob ou pas
J'suis snob... Encor plus snob que tout à l'heure
Et quand je serai mort
J'veux un suaire de chez Dior!


Boris Vian, 1954.

*Para a minha querida múltipla foi dançar a bossa nova, por causa do seu 'horror' a certas palavras e em resposta a um comment seu, algumas caixas de comentário abaixo. :PPP
(não havia vídeo melhorz'inho', pois não...)


(aqui fica a versão integral, sem imagem. Helàs!).

Prémios de consolação

A minha mãe sempre praticou o prémio de consolação pela existência; somos duas irmãs, e de cada vez que uma de nós fazia anos a outra também recebia um presentinho. Para que não houvesse desalento pelo amontoado de papéis de embrulho de coisas novas para a irmã.
Em muitas competições dão "lembranças" a todos os participantes, num estímulo ao fair play, mesmo que não se seja o melhor o que conta mesmo é entrar na coisa. E assim evita-se o embaraço dos ultimos lugares.
Não admira que fique muito desapontada por a vida não me mandar sempre umas lembrancinhas quando não tenho direito à sorte grande. É que até a Santa Casa dá prémio à terminação.

Tell me the truth about love

Apaixonaram-se, sem perceber muito bem como nem porquê. Na realidade, nunca se percebe mas desta vez foi mais complicado. Ele não era uma pessoa disponível. E no entanto ali estava, com a empatia apenas possível às almas disponíveis. Ele era o tipo de pessoa que ela sempre tinha evitado, tentou fugir do que sentia e à sua presença, mas quanto mais se escapa mais o encontro se torna urgente.
Falavam durante horas sobre tudo e coisa nenhuma. Percebiam o que o outro queria dizer, mesmo quando não diziam nada. Riam das mesmas coisas, comoviam-se com o mesmo. A verdade é que nunca aconteceu mais nada, tranquilizavam-se. Mas às vezes o nada é quase tudo. Por esses nadas decidiram que era melhor ainda menos, mas continuavam dentro um do outro. Com o tempo parecia que tudo se diluiria, todos o garantiam e mesmo eles queriam acreditar que assim fosse.
O fosso que construiram era cortado por pontes que de vez em quando decidiam baixar. Quando se encontravam assim era como se todo aquele tempo desaproveitado enchesse o espaço de uma vez só. Às vezes havia tanto a dizer que ficavam calados durante muito tempo a olhar um para o outro, e nesse olhar atropelavam-se milhares de vogais, consoantes, sílabas, pontuações com muito mais do que todas as palavras que queriam ter podido usar entretanto.
Encheram o fosso de água e povoaram-no de crocodilos ameaçadores, tentando evitar a construção de pontes periclitantes e desaconselhar a sua passagem. Mas continuavam dentro um do outro, e qualquer motivo era bom para dar uma espreitadela à outra margem, para ver se o outro continuava lá. Estava sempre.
Esperavam um sinal, um gesto, um som. Ela sabia que não podia fazer nada. Ele queria ter tudo sem deixar de ter nada.
Continuam ainda hoje, um de cada lado. Ele, com a sua indisponibilidade. Ela, com uma mão cheia de afecto e outra de tristeza. E a certeza de que será assim para sempre.

What happened to Ensemble JER?

imagem aqui

Hoje, ao passar por aqui e depois de visionado isto, lembrei-me do Ensemble JER, dirigido por José Eduardo Rocha. Música 'séria' tocada em instrumentos de plástico, cada espectáculo é uma experiência musical imperdível.

Conheci-os algures nos anos 90, onde os vi pela primeira vez numa saudosa sala de Lisboa (que a Câmara Municipal de Lisboa literalmente 'abandonou'): vi, na altura, Volkswagner, um "divertimento cénico-musical", a partir de uma ópera de Wagner e de textos de Nietzsche, extraídos de 'O Caso Wagner' (1888). Fui acompanhando esta formação e vendo outros espectáculos aqui e ali. O curriculum deste grupo é impressionante e podem ver o seu vasto repertório aqui.

Na página que consultei, ainda não há espectáculos agendados para este ano. Por isso, aguardamos o seu breve regresso.

Longa vida para o Ensemble JER!

17 abril 2007

O cúmulo da indisponibilidade*

Tinha uma amiga tão indisponível, mas tão indisponível, que para além do sinal de 'ocupado' no messenger, ainda tinha escrita a mensagem 'ausente' por baixo do nome.

*baseado numa história verídica.

Da influência dos sonhos no estado muscular matinal

Sonho que sou acrobata e acordo com um torcicolo.

Bonito

Parece que o Verão promete chegar. Hoje acordei assim.

16 abril 2007

Abril, cravos mil*



* foto e título indecentemente colhidos no Câmara Clara, que - ao que parece - vai dedicar o mês de Abril aos 'cravos'. Tão esquecidas parecem estas flores, nos dias que correm...

Violência? Não, obrigada.

Há muito que esta questão paira no meu espírito, desde que foi levantada por um qualquer canal televisivo. Mas a vontade de tornar esta reflexão um pouco mais artística foi forçando a adiamentos sucessivos. Rendo-me porém: não sei ainda colocar imagens nos "posts"! Cada coisa a seu tempo.
Ouvi então, há algumas semanas, que quem for vítima de uma qualquer agressão física e necessitar de tratamento hospitalar tem de acarretar com todas as despesas que a mesma (a agressão) ditar. No entanto só terá de o fazer se o agressor não for um rapaz gentil e, dessa feita, não aceitar ser ele a suportar a despesa. É sempre reconfortante saber...
Assim, se nos dermos conta de que algum gandulo pretende, por qualquer razão, agredir-nos, é sempre conveniente perguntarmos-lhe acerca das suas intenções:"O senhor pretende pagar a factura ou vai obrigar-me a isso? "Ah!, não tem guito... Então bata devagarinho, se faz favor!".

o nosso mundo e o dos outros

Ontem na SIC. Documentário de James Cameron. Um enorme grupo de especulações muito bem sustentadas por teorias avassaladoras. O achado do túmulo da família de Jesus Cristo de onde sairam os seus ossários, os de Maria Madalena, sua mulher, os de Maria, sua mãe, de José, seu pai, de Mateus, um primo e de josé e Tiago, seus irmãos.
A semana passada na revista Sábado. Uma reportagem sobre o poderio assustador da Santa Aliança no Vaticano faz-nos saber que por mais achados arqueológicos que se façam, nenhuma verdade sairá jamais cá para fora.

Formação Precisa-se


Imagem tirada daqui, que por sua vez a foi buscar aqui

O amor e o querer

Não sei qual é o critério para escolher poesia e prosa no liceu. Lembro-me de ter dado este lindíssimo poema de Almeida Garrett, que me girou na cabeça de cor durante anos, e me acompanha até hoje. Lembro-me do quanto me intrigava o seu significado, de nunca me ter bastado a explicação de que falava a uma nova mulher depois do seu verdadeiro amor ter morrido. Como era possível dissociar o desejo do amor, eu que nem sabia o que era o desejo.
Hoje compreendo-o. E não sei como raio era suposto meninos no limite da puberdade entenderem todo o esplendor dos sentimentos que aqui estão.

Não te amo, quero-te: o amar vem d'alma.
E eu n'alma --- tenho a calma,
A calma --- do jazigo.
Ai! não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.
E a vida --- nem sentida
A trago eu já comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero
De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Não te amo. És bela; e eu não te amo, ó bela.
Quem ama a aziaga estrela
Que lhe luz na má hora
Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,
De mau feitiço azado
Este indigno furor.
Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto
Que de mim tenho espanto,
De ti medo e terror...
Mas amar!... não te amo, não.

15 abril 2007

Whirled Bank

"Our dream is a world full of poverty" é o lema do Whirled Bank.

Taxímetro

Um dia entrou uma senhora ali no marquês do pombal, precisava que a levasse à Parede. No caminho explicou-me que o marido estava fora há mais de um mês, que ia buscar umas coisas a uma casa e que voltávamos a Lisboa. Esperei à porta de uma vivenda, mas olhe que era uma bruta vivenda, com uma empregada fardada que carregava caixotes que eu arrumei na mala do carro. Voltámos para Lisboa e a senhora perguntou-me se eu queria jantar com ela. Eu disse que sim, mas que não desligava o taxímetro, eu estava em serviço. Como eu ando sempre bem arranjado lá fomos jantar a um restaurante na linha do estoril, mas olhe que aquilo era coisa chique, conheciam-na por lá, tratavam-na por doutora e tudo. Depois do jantar a senhora perguntou-me se eu não queria ir até uma discoteca. Acabámos a resolver o assunto, afinal de contas era o que ela queria. Mas eu nunca desliguei o taxímetro.

V- Tristeza

De repente a Primavera ficou cinzenta, o Inverno chegou em pleno Abril, no meu coração as folhas começaram a cair, recolhi-me no frio do meu silêncio. Hibernei na minha alma cansada.

14 abril 2007

E o bigode?! Esqueceu-se de referir o bigode!!

"As coisas mais estranhas da América têm lugar na Florida. Este é o estado em que há dias foi presa uma menina de seis anos por chorar demasiado alto na escola, tendo sido levada à força, algemada, para a prisão. Este é o estado onde uma eleição presidencial foi roubada. Na segunda-feira, um peixe de dois metros saltou para dentro do barco de um homem e mordeu-lhe.
Estamos habituados a coisas estrambólicas. Portanto, a reacção da maioria das pessoas a esse assalto bancário não foi de espanto ou divertimento, foi de fúria pelo facto da acção da polícia ter obstruído o trânsito durante seis horas. Quer dizer, puseram atiradores da polícia nos telhados dos edifícios para alvejarem um homem do outro lado do Atlântico? Fecharam duas escolas e evacuaram um hospital, um posto dos correios e edifícios de escritórios por causa de um homem gordo e sem armas sentado num sofá de um banco com dois telemóveis na mão? Poupem-me!"
- declarações de David Adams, repórter do St. Petersburg Times da Florida a Tony Jenkins, sobre a prisão de Paulo Almeida. Artigo no expresso (sem link)

Livro de reclamações

Venho aqui expressar a minha solene irritação por esta nova versão do blogger-of-fame (como alguém, com graça, o apelidou). Passo a explicar: era mais ou menos inevitável o switching deste blogue para a nova versão. E assim foi feito. Agora, que os nicks que servem as várias múltiplas desta casa tenham que passar pelo mesmo processo é coisa que já me transcende.

Voltando atrás, passei uma semana a tentar dar pio ao meu nick, que esteve mudo por causa de uma 'manha' deste novo blogger. Sempre que fazia o login como 'old blogger', dizia-me que a palavra-passe estava incorrecta e, por isso, não conseguia postar nenhum comentário. Ora, eu tinha bem presente que não estava esquecida da senha. Depois de ínumeras tentativas comecei a pensar: 'aqui há marosca'. Entrei, então, na conta (afinal a senha não estava errada) e percebi que para poder continuar a postar com aquele nick, tinha que o indexar a uma conta do gmail. Mas porquê???

Contrafeita, lá criei eu a #$%&$ do novo mail e fiz os restantes procedimentos. Resultado: tenho mais uma conta no gmail, absolutamente inútil e por mero capricho do blogger (porque se utilizasse a já existente, ele fundir-me-ia os blogues que tenho na mesma conta, e isso é toda uma outra história e trabalheira).

Está mal, está errado e estou farta deste programa (leia-se blogger), que mesmo na sua versão alfa dá erros constantemente, e já me fez desaparecer textos inteiros.

Onde é que está o livro de reclamações?

13 abril 2007

Está-se sempre a aprender...

Já ouviram falar em bookcrossing*? Confesso a minha ignorância em relação a esta matéria até ao dia de ontem. Fui aqui ver do que se tratava e achei a ideia muito interessante: trocar livros e poder eventualmente seguir-lhes o seu percurso. A parte 'poética' da questão é deixá-lo num espaço público para que seja apanhado por outrém. Quem tem preocupações ambientalistas também deve achar graça à ideia. Eu vou-me inscrever!

*bookcrossingn - the practice of leaving a book in a public place to be picked up and read by others, who then do likewise. (added to the Concise Oxford English Dictionary in August 2004).

E se for apenas uma forte desconfiança, pode-se?

12 abril 2007

Costas largas

A Lei das Incompatibilidades foi ontem aprovada na Assembleia da República. Foi promovida pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP, aprovada pelo PS e teve os votos contra do PSD e do PP. Significa isto que a partir de agora quem ocupa cargos públicos não pode acumulá-los com outros cargos em empresas que tenham contratos directos com o Governo. É uma medida importante para evitar os jogos de interesse e de corrupção ainda tão presentes na política. De imediato salta Alberto João Jardim e afirma, alto e a bom som, que a lei é inconstitucional.
O raça da nossa constituição tem costas largas....

Pechincha

Quem estiver à procura de casa para comprar, clique aqui.

A garrafa de água

Nas compras da semana, em que encho um carrinho de coisas que mando entregar em casa para poupar as costas e os braços à subida de 3 1/2 andares, incluí uma garrafa de meio litro da nova água formas luso. Queria ter uma garrafa para andar a transportar água na carteira e já agora experimentar essa novidade.
Esta manhã decidi prová-la. Desenrosco a tampa e engulo um bom bocado, esperando matar a sede que me caracteriza ao acordar. Ia vomitando; primeiro parecia ter piquinhos (coisa que odeio desde a laranjina C da minha infância à água das pedras que sempre me aconselham para os enjoos), depois percebi que por causa dos quilos de aroma de limão com que a encharcam (água encharcada? hum...) fica com o tal sabor adstringente que me pareceu gás ao acordar.
Leio o rótulo, única literatura que os meus neurónios ao acordar suportam, e descubro várias frases assustadoras:
- "Deve consumir-se na data de abertura"
(O que raio estará lá dentro que se estraga a fim de 24h?)
-"Não aconselhável a menores de 3 anos"
(se os menores de 3 não a devem beber, será boa para mim?)
- "1.3 Kcal"
hum... a água tem zero calorias... os gajos metem edulcorantes nesta água... se eu quiser água com açúcar ponho açúcar na água. Para que raio serve esta coisa?
- "Para sua segurança não reutilizar esta embalagem"
Ora, era exactamente este o uso que lhe ia dar. Se nem isso posso fazer, que venha a água da torneira e a maçã, como aconselha a Isabela.

11 abril 2007

Dúvida

Toda a gente encolhe os lábios e abre a boca enquanto está a desmaquilhar os olhos ou sou só eu?

10 abril 2007

A travessia no deserto

B. Berenika
... e depois de percorrido, poderei finalmente voar.

Deja Vu

Segundo a Qudspress, as tropas de ocupação prenderam uma criança de 9 anos quando ela lhes disse que o pai fazia parte da Resistência. Os soldados fizeram uma ronda pelas escolas de Al-Kharma, em Ramadi, e na escola primária perguntaram aos meninos: Que pensas da Resistência? Que pensas dos americanos? Gostas da Resistência? etc. O pequeno Ahmad Jumaili disse-lhes que o pai está na Resistência, que nunca está em casa e que nâo lhe traz prendas quando vem a casa. Os americanos prenderam o menino, e disseram aos professores: "Para libertar a criança, avisem a família de que o pai deve vir buscá-la".
Infelizmente, apesar de estar proibida em todas as convenções internacionais que regulam a guerra, esta é uma estratégia muito praticada. Também na Colômbia, o Exército, treinado pelos EUA, costuma ir para as pequenas cidades ou sitios mais rurais fazer a sua campanha de sensibilização para as crianças. Monta uma tenda de circo, os soldados vestem-se de palhaços e fazem pequenos números. No final do espectáculo, levam as crianças para trás da tenda e falam-lhes sobre a bela vida de soldado, heróis que lutam pela defesa do lindo país colombiano. Mostram-lhes as suas armas, simbolos de poder e de força. É bonita, não é? Já tinhas visto alguma como esta? (há sempre algum dos menores que se vangloria) Eu por acaso já conhecia, o meu tio tem uma igualzinha e os amigos dele também. O teu tio deve ser valente, onde está ele agora? Por acaso está na casa da minha avó, mas amanhã já vai embora com os amigos. E onde mora a tua avó?

E assim, mais uma criança engrossa as filas daquelas que delataram sem querer os membros da sua família e que carregam com esse peso durante toda a sua vida.

IV - A Esperança

Repetíamos, a esperança é a última a morrer. E tudo ia terminando, morrendo sem que déssemos conta, até que já só ficou a esperança sem ninguém que a esperasse.

09 abril 2007

Nunca nada

A água não será nunca suficientemente fresca, não saciará jamais a sede.
O pão não terá a textura desejada, as migalhas que dele cairão não servirão sequer para atirar aos pássaros.
O frio habitará sempre aquelas paragens e o calor queimará quando o frio faltar.
Nada será sempre e sempre será nada.
Nunca. Nada.

Segunda-feira

08 abril 2007

(O meu) Pensamento da Semana

III - Estagnação

Não é propício cruzar as grandes águas. Nem os rios, os ribeiros, as lagoas, nem sequer as poças de lama que nos atravessam o caminho. Ficámos parados, sem cruzar sequer a ombreira da porta. E por dentro o coração definhava cada dia um pouco mais.

05 abril 2007

No meu bairro (I)

foto in Câmara Clara

No meu bairro, num raio de 100 metros, há 3 cafés. Como não moro nesta zona há muito tempo, foi-me difícil acertar a escolha e tive que os testar um por um. As opções eram estas:

- O café da brasileira friorenta, cuja barriga vai aumentanto, numa gravidez já mais que anunciada, sintonizando e olhando para o écran, tristemente, o canal GNT, a ver se resgata algum calor e notícias da sua terra. A literatura espalhada por cima das mesas é péssima: correio da manhã, maria e quejandos, um ou outro jornal desportivo, muita imprensa cor-de-rosa. E os piores croquetes do mundo. A sistemática falta de trocos dissuadiu-me de vez de lá voltar. Preciso de cigarros como de pão para a boca e logo de manhã. Continuo a passar pela rua e lá vou acenando adeuses e sorrisos à menina da barriga cada vez mais proeminente.
- Um café que também serve almoços e jantares, mas cuja porta fecha à tarde. Para beber café é preciso bater à dita. O dono - que serve a clientela de óculos escuros - espreita pelo postigo e lá se decide a abrir o tasco. Às vezes, parece-me que estou no meio de um episódio dos 'Sopranos', a avaliar pelas criaturas que por ali pairam. Também nunca tem trocos para os cigarros.
- O café dos octogenários do bairro. E da presidente da junta de freguesia, que bebe sumol e engole rissois e sanduiches de queijo à hora do almoço. 'Olha a nossa 'chefa', dizem os habitués assim que ela entra.

Depois de pacientemente testados, a minha opção foi para o último café, sobretudo pelas milhentas histórias que ali ouço quotidianamente. O café não é nada de especial, mas gosto de ver as mesmas pessoas e as caras que já reconheço - e que já me reconhecem - e com quem troco bons-dias. A dona, de idade indefinida, é gentil e isso somou pontos extra. E tem sempre os cigarros que quero, sem necessidade de máquinas e de trocos intermediadores.

Outro dia fui interpelada pela minha cara-metade: 'Querida, porque não vais aquele café ali ao pé da avenida? É um bocado mais longe, mas o ambiente é simpático'. Já por lá passei e era incapaz de o transformar na minha catedral onde emborco a minha primeira dose de cafeína. Aquele sítio de arquitectura e design impecáveis não são para mim, parece uma redoma deslocada da vida como ela é. Incaraterístico. Prefiro o café dos octogenários, onde as pessoas são pessoas-pessoas e onde se respiram vidas autênticas. Quanto aos cafés fashion deixo-os para outros: aqueles que estão preocupados em serem pessoas-que-não-elas-próprias, como se aqueles lugares lhes pudessem conferir histórias e estatuto que não lhes pertencem. Mas a sério, a sério, e considerações à parte, o que eu tenho mesmo é um fascínio por espeluncas...

E o sol brilhará para tod@s nós

Um abraço do tamanho do sol para o nosso querido nerd de serviço, para quem hoje e sempre cantam as nossas almas.

04 abril 2007

Capacidade de auto-crítica

De facto, há gente que não tem noção nenhuma. Olha, por exemplo uma tipa lá da repartição onde eu trabalhava, era feia, má pessoa, invejosa, mau carácter, tinha a mania que mandava em toda a gente, e estava convencida que era o máximo. Entretanto teve uma doença e engordou, ficou mesmo feia feia, e andava depois a dizer a quem não a tinha conhecido antes que quando era mais nova que se arranjava muito bem e que era toda gira, ela gira nunca foi e nunca se soube arranjar, parecia saída dos restos da feira do relógio... e a maquilhagem que ela usava, meu deus, fazia um risco enorme assim a sair dos olhos, aquilo era um horror. Um dia, ainda quando a conhecia mal, cruzamo-nos na casa de banho e eu ofereci-me para a pintar e ela ficou muito bem. Claro que depois como ela não sabia fazer como deve ser voltou tudo ao mesmo.
Mas ela era incrível, má pessoa e má colega. De faca na liga e tudo, nem imaginas. Quando ela entrou eu era chefe dela e um dia quando distribui serviço mandei-a tirar fotocópias e imagina lá tu que ela se foi queixar ao chefe de repartição, que desatou aos gritos a chamar por mim "ó Dona Clara, Dona Clara" histérico. Eu disse logo para a minha colega do lado, hoje temos circo, e nem me levantei, ninguém chama por mim assim, que eu sou uma senhora. O gajo gritava cada vez mais alto por mim, e eu disse assim é que não vou mesmo, que a mim ninguém me pisa que eu não deixo.
Às tantas o homem falou comigo, e eu depois fui ter com ela e disse-lhe "espero por ti lá fora", que eu cá não me fico com gajas destas, ela é mesmo de faca na liga. Eu, claro, ia-lhe dar uma tareia na rua, mas a desgraçada saiu mais cedo e eu não a apanhei, vê lá tu que mau carácter. Eu fiquei passada, uma amiga minha saiu comigo e eu andava aos gritos pela rua e a dar pontapés no ar, se a tivesse apanhado naquela altura nem sei o que lhe fazia, dava cabo dela toda.
No dia seguinte de manhã apanhei-a a tomar pequeno almoço lá na cantina e fui logo ter com ela, estiquei-lhe o dedo e disse-lhe que ela era mau carácter, que tinha fugido de mim, que estava cheia de sorte que eu não a enchesse de pancada mesmo ali, e vê lá tu que ela nem me respondeu, ficou ali calada a ouvir-me. É uma gaja que não tem noção nenhuma, mau carácter, má pessoa, mesmo de faca na liga.

Há gente que não tem noção.

que título hei-de dar a esta merda?

"Chega-se à conclusão que "merda" deve ser a palavra mais versátil da língua portuguesa!!!!

Ninguém pode negar que o utilizamos para múltiplas circunstâncias, relacionadas com muitíssimas coisas. Por exemplo:

Orientação geográfica: Vai à merda!

Adjectivo qualificativo: Tu és uma merda!

Momento de cepticismo: Não acredito nesta merda !!!

Desejo de vingança: Vou fazê-lo em merda !!!

Acidente: Já fizeste merda !

Efeito visual: Não se vê merda nenhuma !!!

Sensação olfactiva: Cheira a merda...

Dúvida na despedida: Por que não vais à merda ?

Especulação de conhecimento: Que merda será isto ?

Momento de surpresa: Oh, merda !!!

Sensação degustativa: Isto sabe a merda !

Desejo de ânimo: Rápido com essa merda !!!

Situação de desordem: Isto está uma merda !!!

Rejeição, despeito: O que é que esse merdas pensa ?

Para descobrir o paradeiro de qualquer coisa: Não sei onde foi parar aquela merda...

Interjeição comum: Que merda !!!

Crise das 17h30: Vou-me embora desta merda !!!"

Bob Azam (para animar a malta)



Há coisas que não precisam de título...

No estúdio, um ecran enorme exibia uma fotografia a preto e branco da carantonha de Sir Winston Churchill. O apresentador do concurso televisivo virou-se para a concorrente e perguntou-lhe quem era aquela pessoa ao que ela respondeu que não sabia. O apresentador condescendente pediu-lhe mais um esforço de memória, "Vá lá, veja lá se consegue adivinhar, olhe, o Salazar ganhou cá em Portugal e este senhor ganhou na Inglaterra...", "Ah", disse a rapariga prontamente, sentindo-se obviamente aliviada., "É o George Bush".

" A joke is a very serious thing."(Winston Churchill)

II - A Vida

A vida andava difícil, a morte rondava, aproximava-se, sentíamos o seu bafo frio. E as pessoas diziam, esperança muita esperança. E nós repetíamos, esperança muita esperança. Mas ela rondava, aproximava-se, sentíamos o seu bafo frio.

Páscoa


03 abril 2007

Pessoa final parágrafo

Eu tenho tudo em cima de mim. A solidão da minha mãe (ando com ela para todo o lado para lhe encher os dias), a loucura da minha irmã (estou sempre à espera do momento em que o copo enche e ela se transforma noutra), a indiferença morna do meu marido (finge que não me ouve e revira-me os olhos). Agora que o meu marido não está em casa, o cão dorme na minha cama. Se ele voltar, terei de me levantar à noite e consolar o cão na cozinha, a mamã gosta muito de ti, tal como consolo a minha mãe, a tua filha gosta muito de ti. E eu?
Sou um homem importante, já não posso ir mais longe do que o lugar onde cheguei, à minha volta vozes que me dizem senhor professor a todos os meus gestos. Acumulo títulos com o rigor de um filatelista, arrumo-os em linha por baixo do meu nome e todos os anos a linha cresce e eu envelheço.
Rua. Foi o que lhe respondi quando me disse encolhido que eu merecia mais do que ele. E agora fechei o escritório com todos os livros que ele ainda não tirou de nossa casa, invento concertos e espectáculos que alaguem as noites intermináveis até à hora em que caio na cama e repito sozinha rua rua rua até conseguir adormecer.

Anti-depressivo

Entrar num centro comercial, coisa perigosa, perigosíssima mesmo. Em alturas de crise o multibanco apanha um arejo que não tem explicação.
Em menos de meia hora consegui comprar um telemóvel novo, quatro filmes em DVD, um livro e um vestido (que me fica a matar, obviamente).
Cheguei a casa cheia de sacos e mais bem disposta que com uma tablete de xanax. Só ficou a faltar o gelado de straciatella para completar o ramalhete.

I- A Montanha

Ela tinha uma montanha dentro dela, tinha crescido, primeiro foi uma pedra, depois um pequeno monte, e de cada vez que o sol se punha ia aumentando, aumentando e passou a ser uma montanha. E ela disse, tenho uma montanha dentro de mim e não sei que fazer com ela.

Marés Vivas