28 junho 2006

Anões e arremessos

Desde ontem que não consigo tirar o “arremesso do anão” da cabeça. Contaram-me que na Austrália há um desporto que tem este nome e que consiste em atirar um anão tão longe quanto possível. Fiquei absolutamente chocada com saber de um desporto que utiliza uma pessoa, com riscos para a sua saúde, e reproduzindo o imaginário de que estas pessoas de baixa estatura são objectos de divertimento e gáudio das outras que se vêm como as normais. E não faltará quem ache que os anões até devem gostar... Uma barbárie destas primeiro não deveria ser chamada desporto e segundo atenta contra a dignidade dos seres humanos, tanto os de baixa estatura como os de média ou grande estatura, pois quando um ser humano é humilhado todos o somos.

Como não conheço nenhuma pessoa com baixa estatura, comecei a fazer memória daquilo que tenho ouvido sobre elas. Lembrei-me que desde a idade média e até há bem pouco tempo, os anões eram elementos sempre presentes no elencos dos circos, personagens ridicularizadas como burlescas pela sua aparência física, independentemente do que sentissem como pessoas.

Resolvi ir ao Google, essa fonte sempre fértil para as respostas às mais variadas perguntas. Resultados: Branca de Neve e os Sete Anões, os anões do tolkien, anões de jardim, etc, etc. Parece que os anões são seres imaginários, com poderes mágicos e com uma sabedoria muito própria.

Resolvi abrir mais umas páginas para ver se encontrava algum anão da vida real e depois de muito clickar lá apareceram alguns sites sobre associações de pessoas pequenas ou com enanismo, que se juntaram para se apoiar e combater a discriminação de que são alvo na nossa sociedade. Fiquei então a saber que uma em cada 25000 pessoas pode ser de baixa estatura derivado ou a causas genéticas ou a problemas hormonais, que não se aplica o ditado filho de peixe sabe nadar pois pais de estatura normal podem ter um filho/a com enanismo, assim como pais com baixa estatura podem ter filhos/as com estatura normal, e que este problema afecta tanto a homens como a mulheres. Aprendi também que um dos principais problemas das pessoas pequenas no dia a dia é a mobilidade, pois os transportes públicos, os elevadores, as ruas, a cidade em geral, não estão adaptados para elas.

(click) Jardim Infantil “O Anão Tareco” (será que nesse jardim haverá alguma criança que tenha esta doença? )


Não acredito que as pessoas de baixa estatura sejam pessoas burlescas, estranhas, ou mesmo más, como também está presente no imaginário colectivo. Imagino que sejam pessoas comuns e correntes, que têm paixões, angústias, zangas, que se preocupam com o pagamento da água e da luz e com a educação dos seus filhos e filhas. Entre elas haverá certamente profissionais de hotelaria ou de medicina, arquitectura ou engenharia electrónica, caixas de supermercado, disco jókeys, mecânicos, desempregados, sei lá, qualquer estado laboral possível, pois num dos resultados da pesquisa diziam que o seu desenvolvimento geral é “normal” ou seja igual ao das pessoas com estatura considerada normal. E seguramente haverá pessoas de baixa estatura mais bem dispostas, mais sociáveis, outras menos, uns mais amáveis, outros mais carrancudos, imagino que sejam iguais a toda a gente.

Se eu fosse de baixa estatura, não gostaria que me recordassem isso constantemente, que me olhassem como diferente, feia, monstruosa, ridícula, risível, ou que achassem que eu era má sem me conhecerem, ou se fosse homem, que me olhassem com ar divertido fantasiando que o meu pénis era inversamente proporcional à minha estatura. Não deve ser nada fácil estar fora dos padrões estabelecidos como adequados e bonitos para a estatura e a aparência física.

Já para as últimas páginas da pesquisa encontrei um provérbio: anão acordado mata gigante dormido.

5 comentários:

Anónimo disse...

és uma santa! finalmente o profile no sítio! (ai q'egoísta, nem sequer falou dos anões)...

Anónimo disse...

Anão que Atira a anão, tem cem anos de perdão?

8 e coisa 9 e tal disse...

Imagine um desporto chamado O Arremesso do Houdini, em que você seria atirado o mais longe possível por um Golias ou um Gulliver. Pelo video que vi outro dia sobre este despórtido(mistura de pseudo desporto com idiótico) não me parece que os anões achem grande graça, é de facto algo brutal, mais bem parece ser um caso em que ganharão alguma coisa e o fazem por dinheiro.

Acredito que até haja o consentimento do próprio, mas isso também me genera dúvidas, as fronteiras entre consentimento e necessidade são às vezes bastante cruzadas e irregulares; basta lembrar o caso da prostituição (não me refiro a quem o faz por gosto, mas os milhares e milhares que o fazem por necessidade, coagidos, pressionados por muitos factores.

Ah e vi que nos Estados Unidos também se pratica este despórtido e também vi que havia movimentos de protesto, mas não sei qual o seu efeito, estarei atenta pirata.

8 e coisa 9 e tal disse...

o acto falhado foi meu, pois também pensei em sórdido, além de idiótico.

Anónimo disse...

há males que vêem por bem - à custa do arremesso aprendeste imensas coisas sobre little people.

Havia um número de circo em que as pessoas eram atiradas de canhões, o que sacava grandes aplausos do público para gaudio do artista, esta é apenas a versão revista pelos australianos.

Se eu tivesse de escolher, preferia um gulliver que me atirasse a um canhão que me cuspisse.

Para mim é como o sexo, desde que seja entre consenting adults vale tudo.