Uma vez, quando era criança levei a minha casa uma amiguinha da escola. Era sábado, a minha mãe andava na lida da casa, a carregar e a lavar a roupa de 5 pessoas, com o cabelo desgrenhado, com roupa de fazer limpezas. Apresentei-as e quando a minha mãe se voltou, a minha amiga disse-me: “a tua mãe é tão feia!”. Fiquei triste, furiosa, com raiva, deixei de chamá-la amiga. Na sua casa, a sua mãe tinha sempre tempo para fazer “coisas de senhoras”, tomar chá, conversar com as amigas, etc, (actividades que os meus pais criticavam despiadadamente), pois tinham mais dinheiro que nós, a sua mãe não trabalhava e era a avó quem tratava da casa. A minha mãe era economista e professora, trabalhava muito tempo fora de casa e ainda não tinha negociado com o meu pai e com os filhos os ofícios da casa, como mais tarde o fez. E além disso, para tratar da casa não se pode estar vestido como para uma foto, é difícil estar bela e formosa como parece esperar-se das mulheres. E a minha mãe é linda de qualquer forma.
Foi a primeira discriminação de género e de classe que senti, embora na altura não a tenha chamado assim, e foi também aí que decidi que não queria ser uma senhora como a mãe da minha amiga, mas uma mulher como a minha mãe, o mesmo mas diferente...
1 comentário:
Ouvi essa mesma frase quando uma amiga da escola viu a minha mãe com acne. Há ofensas que uma criança não esquece.
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