06 junho 2006

És cá dos meus III

Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o resto do vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e afundar o sapato,
coração, âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao vento!
Depois, regressará,
Quando?
Não perguntes.

Ingeborg Bachmann, és cá das minhas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, é preciso um corajoso despojamento para dar forma e sentido à partida e ao regresso a si mesmo/a.
E "que venha a brisa lavar-nos a cara" como cantava o Zeca, que é cá dos meus.