07 junho 2006

o chá quente do deserto no parque dos índios

O calor vai entrando em vagas dentro da mesa amarela. Apoio-me para a corrente do que já adormeci poder levar um maravilhoso ramo de flores com um sorriso e um vestido à sala onde me esperam.

Gostava imenso de, assim sem dar muito por isso, ir lá, dizer umas coisas e vir-me embora. Assim sem dar muito por isso.

São sete pessoas sentadas juntas e formam um quadro até agradável. Rosas, tulipas e champagne enfeitam os corredores que desembocam na sala.

As pessoas: quatro mulheres e três homens. As pessoas: quatro mulheres, dois homens e dois adolescentes. Entreolham-se e sabem que o que vai acontecer não depende assim muito delas. Daqui não me vêem. Deixo que me imaginem muito melhor, atarefada com a sua noite. O que resta. Continuo apoiada na mesa amarela que já me queima. É bom.

Os outros mexem-se e remexem-se, procurando-me com os olhos mesmo muito secos. Cada um deles me espera de sítios diferentes.

Posso voar por cima deles com o calor e o champagne que fui entornando na mesa e lambendo.

Ouço que os filhos deles se encontram em fases diferentes entre usar fraldas e deixar de o fazer. Eles comparam experiências e trocam conselhos, truques e dicas.

O adolescente vai olhando para a minha música sem grandes surpresas. Como eu para ele. Só que eu posso voar.

4 comentários:

Anónimo disse...

opá, larga a droga!

Anónimo disse...

Não largues a droga. Assim sem dares muito por isso consegues sonhar acordada.

Anónimo disse...

Cara cooperadora anónima,

Nos idos anos 60 o sr. timothy leary dizia turn on tune in drop out, o que está de acordo com a sua opinião.

o arrumador de carros da minha rua pensa da mesma maneira. Infelizmente os senhores das clinicas de desintoxicação e as famílias dos agarrados (não se percebe bem porquê) discordam.

ele há gente para tudo.

Anónimo disse...

Boa prosa!
A droga também deve ser de qualidade.